viomundo - publicado em 7 de setembro de 2013 às 9:02
Chegada dos médicos cubanos em Recife
Esquerda 1 vs. Direita 0
por André Singer, na Folha de S. Paulo
No fla-flu aberto com as demonstrações de junho, a esquerda ganhou a primeira partida. Não me refiro à redução no preço das passagens, pois esta foi concedida no susto, sob o impacto de protestos que mobilizaram o espectro ideológico inteiro. A vitória “gauche” se deu no campo da medicina.
Provavelmente orientado por pesquisas, o governo percebeu que a saúde unificava os jovens das passeatas à insatisfação popular expressa na queda de apoio aos governantes. Resolveu, então, desengavetar o Mais Médicos, apresentando-o como resposta à voz das ruas. Embora não se dirigisse às grandes cidades, onde os movimentos foram mais fortes, o programa tinha a sensibilidade social necessária para o momento.
Movida por um sentimento de força conjuntural, talvez pela presença massiva de bandeiras brasileiras e cartazes contra a corrupção nas avenidas, a direita encampou o corporativismo de uniforme branco, estimulando as associações de classe a uma oposição frontal ao projeto do Executivo. Engrossadas ainda pela irritação da classe média a tudo que venha do PT, as primeiras reações ao plano de trazer estrangeiros foram tão veementes que pareciam condenar a iniciativa a não sair do papel.
O erro da direita foi não ter percebido que a força da proposta estava na sua fraqueza. Com efeito, o Mais Médicos não vai reverter as graves deficiências vigentes nas extensas periferias metropolitanas. Para tanto, é provável que só uma reforma tributária, profunda o suficiente para gerar recursos de monta, fosse capaz de realizar o preceito constitucional de um verdadeiro sistema único e público de saúde.
Mas, justamente por se dirigir a comunidades afastadas — onde, aliás, está hoje a base eleitoral do lulismo — nas quais não há atendimento algum e os profissionais brasileiros não querem ir, a proposta tem legitimidade inquestionável. Em poucas semanas, as corporações ficaram isoladas, sendo obrigadas a recuar para um obsequioso silêncio. Enquanto isso, a aprovação governamental voltava a subir.
Para coroar, houve o condimento simbólico. Embora duramente criticada pelos setores democráticos da esquerda, Cuba ainda mora no coração de boa parte dos que sonham com uma sociedade igualitária. O despojamento e a disposição dos médicos cubanos que aqui desembarcaram, alvos de preconceitos absurdos, deu um quê de superioridade moral ao time vermelho.
Contudo, atenção: as batalhas decisivas se darão no terreno da política econômica, no qual, cumpre ressaltar, nada indica que o resultado, qualquer que seja, venha a ser obtido de modo tão ameno. O campeonato prenuncia-se longo.
Já comentei aqui em outras postagens que algo que considero extremamento positivo em Carta Capital é a liberdade de opinião. Leio artigos na revista que são contrários a opinião geral da mesma, mas mesmo assim estão lá.
O artigo mais recente nesse quesito é de Rogério Tuma intitulado Programa Marqueteiro, sobre o Programa Mais Médicos do Governo Federal.
Sinceramente, fazia um bom tempo que não lia tanta bobagem em tão curto espaço. Nada, simplesmente nada, se aproveita das opiniões de Rogério Tuma. Poderia ser descrito como um artigo “marqueteiro” da classe médica, sem profundidade.
Creio que Rogério Tuma deve pertencer aquela turma que nunca quis ir para os rincões do país. Não sabe o que a população nas comunidades mais distantes passa com a ausência de médico. Sinto-me na obrigação de informar a Rogério Tuma que uma sala com mesa e uma maca, não deve ser algo tão dificil de ser fornecido pelas prefeituras (nesse caso os institutos de controle do Estado devem atuar para garantir isso).
E não é necessário mais do que isso para a grande maioria dos casos. Não é necessário que especialistas como ele, cardiolgistas, cirurgiões, etc., se desloquem para essas comunidades.
Nessas comunidades a necessidade básica é de médicos generalistas que podem resolver a grande maioria dos problemas da população. E esses terão a condição de em caso de necessidade, solicitar o deslocamento de pacientes para áreas que disponham de melhores recursos. Tais atendimentos são excessões e não a regra. Se talvez nesses locais tivesse ocorridos os primeiros atendimentos por generalistas, muitos dos problemas que se agravaram com o tempo talvez pudesse ter sido evitados.
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