resistir info - 02 set 2013
– "Rebeldes" e residentes locais em Ghouta acusam o príncipe saudita Bandar bin Sultan de fornecer armas químicas a um grupo ligado à al-Qaida
por Dale Gavlak e Yahya Ababneh
[*]
Ghouta, Síria – Quando a maquinaria para uma
intervenção militar dos EUA na Síria ganha ritmo
após o ataque de armas químicas da semana passada, os EUA e seus
aliados podem estar a visar o culpado errado.
Entrevistas com pessoas em Damasco e Ghouta, um subúrbio da capital
síria, onde a agência humanitária Médicos Sem
Fronteiras disseram que pelo menos 355 pessoas morreram na semana passada
devido ao que acreditaram ser um agente neurotóxico, parecem indicar
isso.
Os EUA, Grã-Bretanha e França bem como a Liga Árabe
acusaram o regime sírio do presidente Bashar al-Assad de executar o
ataque com armas químicas, o qual atingiu principalmente civis. Navios
de guerra dos EUA estão estacionados no Mediterrâneo para
lançar ataques militares contra a Síria como
punição por executar um ataque maciço com armas
químicas. Os EUA e outros não estão interessados em
examinar qualquer prova em contrário, com o secretário de Estado
John Kerry a dizer que a culpa de Assad era "um julgamento ... já
claro para o mundo".
Contudo, das numerosas entrevistas com médicos, residentes em Ghouta,
combatentes rebeldes e suas famílias, emerge um quadro diferente. Muitos
acreditam que certos rebeldes receberam armas químicas através do
chefe da inteligência saudita, príncipe Bandar bin Sultan, e foram
responsáveis pela execução do ataque com gás.
"Meu filho procurou-se há duas semanas perguntando o que eu pensava
que eram as armas que lhe fora pedido para carregar", disse Abu
Abdel-Moneim, o pai de um combatente rebelde que vive em Ghouta.
Abdel-Moneim disse que o seu filho e 12 outros rebeldes foram mortos dentro de
um túnel utilizado para armazenar armas fornecidas por um militante
saudita, conhecido como Abu Ayesha, que estava a liderar um batalhão de
combate. O pai descreveu as armas como tendo uma "estrutura como um
tubo" ao passo que outras eram como uma "enorme garrafa de
gás".
Os habitantes de Ghouta disseram que os rebeldes estavam a usar mesquitas e
casas privadas para dormir enquanto armazenavam suas armas em túneis.
Abdel-Moneim disse que o seu filho e outros morreram durante o ataque de armas
químicas. Naquele mesmo dia, o grupo militante Jabhat al-Nusra, o qual
está ligado à al-Qaida, anunciou que atacaria da mesma forma
civis no território [apoiante] do regime de Assad de Latáquia, na
costa ocidental da Síria, em retaliação.
"Eles não nos disseram o que eram estas armas ou como
utilizá-las", queixou-se uma combatente mulher chamada
"K". "Nos não sabíamos que eram armas
químicas. Nunca imaginámos que fossem armas químicas".
"Quando o príncipe saudita Bandar dá tais armas a pessoas,
ele deve dá-las àqueles que sabem como manejá-las e
utilizá-las", advertiu ela. Ela, tal como outros sírios,
não querem usar seus nomes completos por medo de
retaliação.
Um bem conhecido líder rebelde em Ghouta chamado "J"
concordou. "Os militantes do Jabhat al-Nusra não cooperam com
outros rebeldes, excepto com combate no terreno. Eles não partilham
informação secreta. Simplesmente utilizaram alguns rebeldes
comuns para carregar e operar este material", disse ele.
"Nós estávamos muito curiosos acerca destas armas. E
infelizmente alguns dos combatentes manusearam as armas inadequadamente e
começaram as explosões", disse "J".
Médicos que tratavam as vítimas do ataque de armas
químicas aconselharam os entrevistadores a serem cautelosos acerca de
perguntas respeitantes a quem, exactamente, era o responsável pelo
assalto mortal.
O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras acrescentou que
trabalhadores da saúde cuidando de 3.600 pacientes também
relataram experimentar sintomas semelhantes, incluindo espuma na boca,
sofrimento respiratório, convulsões e visão turvada. O
grupo não foi capaz de verificar a informação de modo
independente.
Mais de uma dúzia de rebeldes entrevistados informaram que os seus
salários vêem do governo saudita.
Envolvimento saudita
Num recente artigo no
Business Insider,
o repórter Geoffrey Ingersoll destacou o papel do príncipe
Bandar nos dois anos e meio da guerra civil síria. Muitos observadores
acreditam que Bandar, com seus laços estreitos a Washington, tem estado
no próprio cerne do impulso para a guerra dos EUA contra Assad.
Ingersoll referiu-se a um artigo no
Daily Telegraph
britânico acerca de conversações secretas russo-sauditas
alegando que Bandar propôs ao presidente Vladimir Putin petróleo
barato em troca do abandono de Assad.
"O príncipe Bandar comprometeu-se a salvaguardar a base naval russa
na Síria se o regime Assad fosse derrubado, mas ele também aludiu
a ataques terroristas chechenos aos Jogos Olímpicos de Sochi, na
Rússia, se não houvesse acordo", escreveu Ingersoll.
"Posso dar-lhe uma garantia de proteger os Jogos Olímpicos no
próximo ano. Os grupos chechenos que ameaçam a segurança
dos jogos são controlados por nós", disse alegadamente
Bandar aos russos.
"Juntamente com responsáveis sauditas, os EUA alegadamente deram ao
chefe da inteligência saudita o sinal de aprovação para
efectuar estas conversações com a Rússia, a qual
não foi surpresa", escreveu Ingersoll.
"Bandar tem uma educação americana, tanto militar como em
faculdade [civil], actuou como um embaixador saudita altamente influente nos
EUA e a CIA ama completamente este rapaz", acrescentou.
Segundo o jornal britânico
Independent,
foi a agência de inteligência do príncipe Bandar que pela
primeira vez trouxe alegações da utilização de
gás sarin pelo regime à atenção de aliados
ocidentais, em Fevereiro último.
O
Wall Street Journal
informou recentemente que a CIA percebeu que a Arábia Saudita era
"séria" acerca do derrube de Assad quando o rei saudita nomeou
o príncipe Bandar para liderar esse esforço.
"Eles acreditam que o príncipe Bandar, um veterano das intrigas
diplomáticas de Washington e do mundo árabe, podia entregar
aquilo que a CIA não podia: cargas por avião de dinheiro e armas
e, como disse um diplomata americano, intermediação
(wasta),
a palavra árabe para influência debaixo da mesa".
Bandar tem avançado o objectivo de política externa da
Arábia Saudita, informou o WSJ, de derrotar Assad e seus aliados
iraniano e Hezbollah.
Para esse objectivo, Bandar actuou em Washington para respaldar um programa de
armar e treinar rebeldes a partir de uma planeada base militar na
Jordânia.
O jornal informa que ele deparou-se com "jordanianos constrangidos acerca
de uma tal base".
Sua reunião em Amman com o rei Abdullah da Jordânia por vezes
demoravam oito horas numa única sessão. "O rei brincaria:
Oh, o Bandar vem outra vez? Vamos reservar dois dias para a
reunião", disse uma pessoa habituada às reuniões.
A dependência financeira da Jordânia em relação
à Arábia Saudita pode ter dado forte influência aos
sauditas. Um centro de operações na Jordânia começou
a funcionar no Verão de 2012, incluindo uma pista de
aviação e armazéns para armas. Os AK-47s e
munições encomendados pelos sauditas chegaram, informou o WSF,
citando responsáveis árabes.
Embora a Arábia Saudita tenha oficialmente sustentado que apoiava
rebeldes mais moderados, o jornal informou que "fundos e armas estavam a
ser canalizados para radicais ao lado, simplesmente para conter a
influência de islamistas rivais apoiados pelo Qatar".
Mas rebeldes entrevistados disseram que o príncipe Bandar é
tratado como "al-Habib" ou "o amado" pelos militantes
al-Qaida que combatem na Síria.
Peter Oborne, no
Daily Telegraph
de quinta-feira, acautelou que a corrida de Washington para punir o regime
Assad com os chamados ataques "limitados" não significava
derrubar o líder sírio mas sim reduzir a sua capacidade de
utilizar armas químicas:
Considere-se isto: os únicos beneficiários da atrocidade foram os
rebeldes, anteriormente a perderem a guerra e que agora têm a
Grã-Bretanha e a América prontas a intervirem ao seu lado. Se bem
que pareça haver pouca dúvida de que foram utilizadas armas
químicas, há dúvida acerca de quem as disponibilizou.
É importante recordar que Assad foi acusado antes de utilizar gás
venenoso contra civis. Mas naquela ocasião, Carla del Ponte,
comissária da ONU para a Síria, concluiu que os rebeldes, e
não Assad, foram provavelmente os responsáveis.
Alguma informação neste artigo não pôde ser
verificada de modo independente. Mint Press News continuará a
proporcionar nova informação e actualizações.
29/Agosto/2013
Ver também:
(Será que a Casa Branca ajudou a planear o ataque químico sírio?), Yossef Bodansky
[*] Dale Gavlak: correspondente da Mint Press News no Médio Oriente com base em Amman, Jordânia, dgavlak@mintpressnews.com ; Yahya Ababneh: jornalista jordano.
O original encontra-se em www.mintpressnews.com/... e em www.silviacattori.net/article4776.html
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