Pesquisa demonstra que prática da musculação é feita,
na maioria das vezes, sem orientação
Estudo
desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) revela que a
prática de musculação por parte de adolescentes em academias tem sido
feita sem orientação de profissionais especializados e, por isso, se
caracteriza pela predisposição ao consumo indiscriminado de esteroides
androgênicos anabolizantes. Ainda que os adolescentes entrevistados
afirmassem não saber o que são essas substâncias, a maioria deles
declarou assumir o risco de sua utilização para alcançar uma estética
corporal perfeita. “Em outras palavras, isto quer dizer que, na busca
pelo corpo perfeito, os adolescentes estão associando a prática da
musculação na academia como instrumento de obtenção rápida da aparência
corporal, e isto pode ser considerado um fator preponderante no uso dos
anabolizantes”, alerta o professor de educação física Ubirajara de
Oliveira.
Em sua opinião, trata-se de
um problema de saúde pública em razão da falta de conhecimento sobre os
reais efeitos que o uso dessas substâncias pode provocar. “E a academia
tem sido o lugar propício para este tipo de envolvimento, pois o culto
ao corpo leva à prática da musculação que, por sua vez, predispõe o uso
de anabolizante. Isto diminui o espaço entre a saúde e a doença”, afirma
Oliveira, que teve orientação do médico José Martins Filho para
realizar o seu estudo.
O professor de
educação física lembra que os esteroides androgênicos anabolizantes são
substâncias proibidas no Brasil, uma vez que seus efeitos colaterais
são nocivos. “Já existem comprovações do mal causado pelos
anabolizantes. O que preocupa, no entanto, é a forma como esses garotos
chegam à decisão de usá-los. Por isso, quis investigar”, explica.
O
estudo, de caráter epidemiológico, contemplou entrevistas com 3.150
adolescentes, com idade entre 15 e 20 anos e praticantes de musculação.
Para conseguir resultados específicos, Ubirajara Oliveira aplicou os
questionários apenas junto aos voluntários do sexo masculino,
matriculados em escolas do município de São Paulo. O professor de
educação física contou com a colaboração dos professores da rede pública
de ensino para colher as informações. “O número de entrevistados foi
bastante significativo e, com isso, conseguimos uma amostragem
representativa, o que sugere um sinal de alerta tanto para as
autoridades como para os pais desses adolescentes sobre uma das práticas
cada vez mais frequentes entre os mesmos adolescentes”, declara.
Para
Oliveira ficou claramente demonstrado na pesquisa que a maioria dos
adolescentes desconhece os prejuízos à saúde decorrentes da utilização
dos anabolizantes. Sobre o comportamento dos garotos em relação ao culto
do corpo perfeito, explica, os dados da pesquisa apontam que, apesar
das porcentagens altas de satisfação em todas as questões sobre imagem
corporal, eles se contradizem, pois mesmo satisfeitos estão predispostos
ao uso dos anabolizantes com objetivo estético.
O
estudo indicou ainda que muitos deles frequentam locais considerados
inadequados para a prática da musculação e, por isso, não contam com
profissionais especializados para orientação. “A concepção de academia é
subjetiva. Muitos locais indicados pelos adolescentes não seguem um
padrão de qualidade com aparelhos modernos e aulas com conteúdo. Pelo
contrário, são espaços inadequados, inclusive no que diz respeito à
frequência”, lamenta.
Ubirajara de
Oliveira leciona em uma universidade e dá aulas de musculação em
academias. Seu envolvimento com a formação de professores e a prática da
musculação sempre trouxe um questionamento sobre a relação que a
atividade poderia ter com o uso de esteroides anabolizantes. O culto ao
corpo, em que o estilo, forma, aparência e juventude contam como
atributos indispensáveis, segundo ele, remetem à ideia de que o corpo
pode ser remodelado por meio da utilização de esteroides. “A dimensão
mais valorizada do corpo, na contemporaneidade, é a aparência, pois o
corpo belo, jovem e magro tornou-se objeto de consumo, sendo exaltado,
sobretudo, pelos meios de comunicação e pela publicidade. É um discurso
perigoso de exaltação ao corpo, que atinge, principalmente, os
adolescentes”, declara.
Publicação
Tese: “O uso de esteroides androgênicos anabolizantes entre adolescentes e a sua relação com a prática da musculação” Autor: Ubirajara de Oliveira Orientador: José Martins Filho Unidade: Faculdade de Ciências Médicas
O uso de anabolizantes também está diretamente relacionado à mídia. Hoje se tornou comum mulheres musculosas aparecerem como modelos de "corpo sarado".
Várias rainhas de escolas de samba se adequam a este modelo. Até mulheres anteriormente com medidas invejáveis como Sabrina Sato, aderiram a esta masculinização do corpo feminino.
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