viomundo - publicado em 3 de dezembro de 2013 às 22:31
Em fevereiro de 2006, dois meses antes de se desincompatibilizar para
disputar a Presidência da República, Alckmin, em evento na Alstom, em
São Paulo
por Conceição Lemes
Os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin insistem que desconheciam a
existência do cartel de empresas, que fraudava as licitações do Metrô e
da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Porém, são crescentes os indícios de que, desde 2005, eles sabiam do
esquema de superfaturamento de contratos e pagamento de propina em
contratos da multinacional francesa Alstom no setor de transportes
públicos em São Paulo.
Reportagens publicadas em outubro pelo Estadão e IstoÉ
revelam um comprometedor e-mail, de 18 de novembro de 2004, do então
presidente da Alstom no Brasil, engenheiro José Luiz Alquéres, a
executivos da matriz na França. Nele, Alquéres “recomenda
enfaticamente” a diretores da empresa que utilizem os serviços do
consultor Arthur Gomes Teixeira, apontado pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo como lobista e pagador de propinas a servidores do
Metrô e CPTM.
No e-mail de 2004, Alquéres salienta também a “longa história de
cooperação” da Alstom com as autoridades do Estado de São Paulo. Ele
diz: “O novo prefeito recém-eleito [José Serra] participa das
negociações que nos permitem reabrir a Mafersa como a Alstom Lapa, assim
como o atual governador [Geraldo Alckmin]”.
Na mensagem, Alquéres, que atuou nas empresas energéticas paulistas antes da privatização, diz
acreditar no sucesso em quatro licitações da CPTM e do Metrô que
ocorreriam, em breve, e que representariam “um total de 250 MEUR
(milhões de euros)”.
Veja a íntegra do e-mail:
Nestes tempos de mudança nós sofremos
duas grandes derrotas nas licitações públicas, as primeiras em muitos
anos. Mas ainda pudemos ser bem sucedidos nos 4 projetos que o Estado de
São Paulo vai negociar e leiloar na próxima semana:
1) PQRM número 2….. CPTM
2) Emenda COFESBRA….. CPTM
3) Sistemas da Linha 2 do Metrô…… Metroesp
4) Linha 2 do Metrô (11 trens) - Metroesp
Esses projetos representam um total de 250 MEUR (milhões de euros).
Temos uma longa história de cooperação
com as autoridades do Estado de São Paulo onde nossa fábrica está
localizada. O novo prefeito recém-eleito [ José Serra] participou nas
negociações que nos permitem reabrir a Mafersa como a Alstom Lapa, assim
como o atual governador [Geraldo Alckmin].
Três das cinco pessoas que recentemente
foram dispensadas, como Carlos Alberto e Reynaldo Goulart ou foram
transferidas como Reynaldo Benitez desenvolveram fortes e bons
relacionamentos pessoas com membros da CPTM e Metrô. É importante também
ressaltar que nas licitações realizadas nos últimos anos – como a linha
da CPTM que a Alstom ganhou – assim como em muitas outras negociações
nós temos sido auxiliados pelo consultor Arthur Teixeira, da Procint,
que demonstrou grande competência tanto em “bom quanto em mau tempo”,
trabalhando com as pessoas acima mencionadas.
Eu fortemente recomendo a utilização do
expertise de Paulo Borges e Arthur Teixeira nestes projetos
independentemente do que você planeja construir no futuro (e que eu
concordo, mudanças são necessárias, porque a vida – como um todo – é uma
mudança permanente).
Neste caso em particular, não há tempo
agora para novas mudanças ou novos experimentos. O processo está
rodando, eu estou começando a receber mensagens de potenciais parceiros,
concorrentes e (ininteligível).
Na sequência desse e-mail de Alquéres , três fatos chamam-nos a atenção:
Em 28 de dezembro de 2005, sai o aditamento para a compra de 12
trens da Cofesbra, uma associação entre entre Alstom e CAF, para a CPTM
por R$ 223,5 milhões.
Um mês antes, porém, em evento realizado na Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (Fiesp), o governador Geraldo Alckmin já anuncia o
aditivo, como mostra a Revista Ferroviária, em 30 de novembro de 2005:
O governo de São Paulo vai encomendar 12
trens novos para trafegar na Linha C da CPTM. O investimento será de R$
200 milhões e a fabricação dos TUEs ficará a cargo do consórcio Cofesbra
— Consórcio Ferroviário Espanha-Brasil — liderado pela CAF com a
participação da Alstom e da Bombardier. A formalização do contrato será
feita no próximo dia 8 pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
que anunciou a encomenda na abertura do seminário `A retomada e a
ampliação do setor ferroviário` no CIESP — Centro das Indústrias de São
Paulo — na terça feira passada. No dia 8 será apresentado um mock-up do
TUE, fabricado pela Alstom
Em fevereiro de 2006, dois meses antes de se desincompatibilizar para disputar a Presidência da República, Alckmin vai à sede da Alstom,
no bairro da Lapa, em São Paulo, para anunciar a autorização para a
fabricação dos 12 trens que constam do aditivo de R$ 223,5 milhões.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), houve
superfaturamento. E o Ministério Público do Estado de São Paulo
identificou “grave irregularidade no sexto aditamento, verdadeira fraude
à licitação e desvirtuamento total do contrato inicial”.
Explica-se. A concorrência era de 1995 e o aditivo em questão — o sexto! — considerado ilegal.
A investigação do sexto aditivo assinado entre a Cofesbra e CPTM mostrou aumento de 73,69% no valor da compra dos trens.
Ou seja, superfaturamento de R$ 160 milhões, que em valores
corrigidos chegam a R$ 430 milhões. Isto foi possível descobrir devido a
uma proposta mais barata da Mitsui, que se encontra em poder do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Diante dessas coincidências como é possível o governador Geraldo
Alckmin continuar dizendo que não tinha conhecimento do trensalão?
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