Aquecimento global. 'A solução é amenizar as mudanças de clima e os seus impactos a níveis em que a população possa se adaptar'. Entrevista especial com José Marengo
A grande preocupação do momento é com o meio ambiente. O alerta dos cientistas sobre o aquecimento global e suas conseqüências tornou-se hoje onipresente o que há alguns anos mobilizava apenas órgãos do governo e ambientalistas. O que gerou tanta pauta em relação ao clima do Planeta? Os estudos das Nações Unidas resultaram no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, o IPCC. Em todo o mundo, a possibilidade de ocorrerem catástrofes devastadoras por causa da elevação da temperatura do planeta é tema obrigatório desde os principais eventos até as mais simples rodas de conversa. Na semana em que a revista IHU On-Line discute o assunto, o entrevistamos por e-mail o professor José Marengo Ele fala sobre o relatório do IPCC e as causas do aquecimento global.
José Marengo trabalha no Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – e foi o responsável pelos dados e cenários climáticos no estudo do Ministério do Meio Ambiente. Ele também participou da elaboração do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, divulgado no início deste mês. O relatório é o primeiro documento oficial da ONU que admite, com alto grau de certeza, a influência das atividades econômicas no aquecimento do planeta.
José Marengo é graduado em Física e Metereologia pela Universidad Nacional Agrária do Peru, no Chile, onde concluiu também o mestrado. O doutorado em meteorologia foi feito na University of Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos, e intitulado “Extreme Climatic events in the Amazon basin and their associations with the circulation of the global tropics”. Na Nasa, finalizou, no ano de 1992, seu pós-doutorado em Ciências Exatas e da Terra. Atualmente, Marengo é pesquisador nível 1 do INPE, trabalhando no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são os indícios mais preocupantes em relação ao aquecimento global, mas que já estão presentes no nosso cotidiano?
José Marengo – Atualmente, os resultados do problema do aquecimento global podem ser visualizados a partir das mudanças nos extremos climáticos, ou seja, no Brasil percebemos isso com a maior freqüência de chuvas intensas no verão nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil, assim como o aumento na freqüência de noites quentes – que é um indicador de invernos mais quentes. A temperatura está aumentando em todo país, tanto nas áreas urbanas como rurais. O aumento da temperatura é mais perceptível durante o inverno, quando vemos que, nos últimos 50 anos, 0,7°C aumentaram anualmente.
IHU On-Line - Se a temperatura do planeta continuar aumentando, quais serão as conseqüências para o povo brasileiro?
José Marengo - Os impactos seriam graves. O recém-divulgado relatório do IPCC sobre a base científica das mudanças climáticas conclui, com acima de 90% de confiança, que o aquecimento global dos últimos 50 anos é causado pelas atividades humanas. O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais ainda às que se projetam para o futuro. Porém, espero que todos entendam que NÃO É O FIM DO MUNDO. Não podemos considerar que o aquecimento seja o apocalipse.
Veja a imagem a seguir:
Imagem enviada pelo Professor José Marengo para ilustrar a entrevista.
IHU On-Line - O senhor considera o problema do aquecimento global algo que pode ser "consertado" ou é um problema sem solução, ou seja, só poderemos amenizar os danos?
José Marengo - De certa forma, o aquecimento global é um processo natural, mas o aumento na concentração de gases de efeito estufa, por conseqüência da ação do homem, tem acelerado o aquecimento. As mudanças, que poderiam ter acontecido ao longo dos próximos 500 anos poderão vir a acontecer nos próximos 50 anos. Seria como acelerar na descida. As causas não podem ser consertadas e não seria possível reverter a tendência e esfriar o planeta, pois, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam zeradas, ainda existe o suficiente no ar para continuar aquecendo o planeta, embora com uma taxa e impactos menores. A solução é esta: amenizar as mudanças de clima e os seus impactos a níveis em que a população possa se adaptar.
IHU On-Line - O que podemos fazer para mudar a situação atual do Planeta Terra?
José Marengo - O ideal seria reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa no presente. Isso seria possível com indústrias mais ecológicas, utilização de energias mais limpas, redução ao máximo do desmatamento e queimadas etc. As medidas de mitigação incluem projetos de reflorestamento para tentar tirar o carbono da atmosfera, mas isso pode ajudar a longo prazo.
IHU On-Line - Para o senhor, como foi participar dos estudos que revelaram as conseqüências do aquecimento global?
José Marengo - Foi uma grande experiência, profissional e pessoal. Eu já estou envolvido no IPCC desde o segundo relatório, que foi divulgado em 1996, e isso ajuda a me atualizar continuamente sobre estudos e pesquisas sobre clima em todo o mundo. O relatório também tem me ajudado a manter contatos com pesquisadores de todo o mundo e a manter colaboração com alguns deles, como, por exemplo, com o pessoal do Hadley Centre de UK. Isso tem contribuído para que eu possa obter um financiamento do governo inglês para desenvolver cenários futuros de clima no Brasil. Além disso, certamente, é muito bom saber, também, como os outros países enfrentam o assunto das mudanças de clima e os seus impactos.
IHU On-Line - Para o senhor, quais são os principais pontos do IPCC?
José Marengo - Os principais pontos do IPCC, e agora já existem evidências estatísticas, mostram que o aquecimento global observado é conseqüência de atividades humanas, não só da variabilidade natural e do clima. O relatório divulga também que a mudança de clima vai acontecer, especialmente, na forma de extremos climáticos: mais ondas de calor, frio, secas, enchentes, mais furacões nas categoria quatro e cinco, entre outros extremos. Isso não foi destacado no terceiro relatório do IPCC, publicado em 2001.
IHU On-Line - Como o IPCC pode afetar as políticas públicas? Que medidas devem ser tomadas pelos governantes? José Marengo - Na verdade, o IPCC não foi criado para gerar políticas públicas. Os cientistas que participaram nos relatórios podem ajudar e interagir com pessoas do governo e contribuir para que se tenha um ponto de vista climático e científico nas elaborações da política nacional de mudanças de clima. Atualmente, o Ministério do Meio Ambiente está trabalhando nesta tarefa.
José Marengo trabalha no Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – e foi o responsável pelos dados e cenários climáticos no estudo do Ministério do Meio Ambiente. Ele também participou da elaboração do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, divulgado no início deste mês. O relatório é o primeiro documento oficial da ONU que admite, com alto grau de certeza, a influência das atividades econômicas no aquecimento do planeta.
José Marengo é graduado em Física e Metereologia pela Universidad Nacional Agrária do Peru, no Chile, onde concluiu também o mestrado. O doutorado em meteorologia foi feito na University of Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos, e intitulado “Extreme Climatic events in the Amazon basin and their associations with the circulation of the global tropics”. Na Nasa, finalizou, no ano de 1992, seu pós-doutorado em Ciências Exatas e da Terra. Atualmente, Marengo é pesquisador nível 1 do INPE, trabalhando no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são os indícios mais preocupantes em relação ao aquecimento global, mas que já estão presentes no nosso cotidiano?
José Marengo – Atualmente, os resultados do problema do aquecimento global podem ser visualizados a partir das mudanças nos extremos climáticos, ou seja, no Brasil percebemos isso com a maior freqüência de chuvas intensas no verão nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil, assim como o aumento na freqüência de noites quentes – que é um indicador de invernos mais quentes. A temperatura está aumentando em todo país, tanto nas áreas urbanas como rurais. O aumento da temperatura é mais perceptível durante o inverno, quando vemos que, nos últimos 50 anos, 0,7°C aumentaram anualmente.
IHU On-Line - Se a temperatura do planeta continuar aumentando, quais serão as conseqüências para o povo brasileiro?
José Marengo - Os impactos seriam graves. O recém-divulgado relatório do IPCC sobre a base científica das mudanças climáticas conclui, com acima de 90% de confiança, que o aquecimento global dos últimos 50 anos é causado pelas atividades humanas. O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais ainda às que se projetam para o futuro. Porém, espero que todos entendam que NÃO É O FIM DO MUNDO. Não podemos considerar que o aquecimento seja o apocalipse.
Veja a imagem a seguir:
Imagem enviada pelo Professor José Marengo para ilustrar a entrevista.
IHU On-Line - O senhor considera o problema do aquecimento global algo que pode ser "consertado" ou é um problema sem solução, ou seja, só poderemos amenizar os danos?
José Marengo - De certa forma, o aquecimento global é um processo natural, mas o aumento na concentração de gases de efeito estufa, por conseqüência da ação do homem, tem acelerado o aquecimento. As mudanças, que poderiam ter acontecido ao longo dos próximos 500 anos poderão vir a acontecer nos próximos 50 anos. Seria como acelerar na descida. As causas não podem ser consertadas e não seria possível reverter a tendência e esfriar o planeta, pois, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam zeradas, ainda existe o suficiente no ar para continuar aquecendo o planeta, embora com uma taxa e impactos menores. A solução é esta: amenizar as mudanças de clima e os seus impactos a níveis em que a população possa se adaptar.
IHU On-Line - O que podemos fazer para mudar a situação atual do Planeta Terra?
José Marengo - O ideal seria reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa no presente. Isso seria possível com indústrias mais ecológicas, utilização de energias mais limpas, redução ao máximo do desmatamento e queimadas etc. As medidas de mitigação incluem projetos de reflorestamento para tentar tirar o carbono da atmosfera, mas isso pode ajudar a longo prazo.
IHU On-Line - Para o senhor, como foi participar dos estudos que revelaram as conseqüências do aquecimento global?
José Marengo - Foi uma grande experiência, profissional e pessoal. Eu já estou envolvido no IPCC desde o segundo relatório, que foi divulgado em 1996, e isso ajuda a me atualizar continuamente sobre estudos e pesquisas sobre clima em todo o mundo. O relatório também tem me ajudado a manter contatos com pesquisadores de todo o mundo e a manter colaboração com alguns deles, como, por exemplo, com o pessoal do Hadley Centre de UK. Isso tem contribuído para que eu possa obter um financiamento do governo inglês para desenvolver cenários futuros de clima no Brasil. Além disso, certamente, é muito bom saber, também, como os outros países enfrentam o assunto das mudanças de clima e os seus impactos.
IHU On-Line - Para o senhor, quais são os principais pontos do IPCC?
José Marengo - Os principais pontos do IPCC, e agora já existem evidências estatísticas, mostram que o aquecimento global observado é conseqüência de atividades humanas, não só da variabilidade natural e do clima. O relatório divulga também que a mudança de clima vai acontecer, especialmente, na forma de extremos climáticos: mais ondas de calor, frio, secas, enchentes, mais furacões nas categoria quatro e cinco, entre outros extremos. Isso não foi destacado no terceiro relatório do IPCC, publicado em 2001.
IHU On-Line - Como o IPCC pode afetar as políticas públicas? Que medidas devem ser tomadas pelos governantes? José Marengo - Na verdade, o IPCC não foi criado para gerar políticas públicas. Os cientistas que participaram nos relatórios podem ajudar e interagir com pessoas do governo e contribuir para que se tenha um ponto de vista climático e científico nas elaborações da política nacional de mudanças de clima. Atualmente, o Ministério do Meio Ambiente está trabalhando nesta tarefa.
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