Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa fracassaram na tentativa de encontrar um acordo na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, dois dias antes do prazo final da conferência de Potsdam, um verdadeiro teatro foi montado pelas quatro grandes potências, com acusações mútuas, manobras e ataques verbais. A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 22-06-2007.
Em um tom pouco visto nos últimos anos, Estados Unidos e Europa acusaram Brasil e Índia pelo fracasso, por não aceitarem flexibilizar suas posições na abertura de mercados e por terem abandonado 'substantivamente e fisicamente' as reuniões.
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, disse que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, estava 'decepcionado, porque alguns países estão bloqueando uma oportunidade para expandir o comércio'.
Ontem mesmo, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, se apressou para declarar que o processo continuaria na sede da entidade, em Genebra, ainda hoje e propostas de um acordo final serão divulgadas. Em Potsdam, negociadores já especulavam que as negociações poderiam ir até 2012 ou 2013. Mas, para alguns diplomatas brasileiros, até mesmo a sobrevivência da OMC pode estar em risco.
A conferência de Potsdam era tida como fundamental para que um acordo pudesse ocorrer, principalmente diante do fim da autorização dada pelo Congresso americano para que a Casa Branca negocie acordos comerciais. Mas as diferenças em relação à oferta agrícola para os países emergentes e o que Brasil e Índia ofereciam em abertura de seus mercados industriais impossibilitou um acordo.
'Nós ainda estamos aqui. Brasil e Índia é que já reservaram suas passagens para viajar', disse a representante americana de Comércio, Susan Schwab. O chanceler Celso Amorim reagiu à acusação de ter abandonado a conferência. 'Isso é uma mentira', repetia o ministro.
Amorim preferiu denunciar Washington e Bruxelas de terem feito um acordo agrícola entre eles antes de chegar a Postdam e de terem tentado fazer Brasil e Índia aceitá-lo. O acordo, segundo ele, seria desequilibrado para os países emergentes e, portanto, não haveria como o Brasil aceitar.
'Americanos e europeus fizeram uma jogada. Acharam que queríamos o acordo a qualquer preço e iríamos ceder. Como viram que não cedemos, quiseram parar tudo.' Segundo o ministro, os países ricos decidiram culpar Índia e Brasil por terem visto que haviam chegado a seus limites nas posições em agricultura e não poderiam oferecer nada mais. 'Eles combinaram tudo antes.'
Nenhum comentário:
Postar um comentário