Cerca de um quarto da mão-de-obra mundial (22%), ou seja, 614,2 milhões de pessoas, trabalha em média mais de 48 horas por semana. Esta é a conclusão de um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, em 7 de junho, sobre o tempo de trabalho no mundo, o primeiro no gênero. A reportagem é de Maguy Day para Le Monde, 8-06-2007. A tradução é do Cepat.
O estudo se concentrou sobre os desníveis constatados entre a legislação e a realidade em 54 países, interessando-se mais particularmente pelos países em desenvolvimento e em transição. Para além das importantes diferenças de um país para outro, o estudo revela também importantes disparidades em função do setor de atividade, do sexo ou da idade.
Muitas mudanças estruturais da economia mundial nestes últimos trinta anos explicam o resultado paradoxal de um número tão elevado de horas trabalhadas apesar da generalização de quadros legislativos com vistas à redução do tempo de trabalho.
Primeiramente, o desenvolvimento do setor de serviços nos países industrializados afetou igualmente numerosos países em desenvolvimento que viram a parte dos empregos nos serviços aumentar. Ora, nos setores do atacado e do varejo, da hotelaria, da conservação e asseio, as semanas de trabalho são mais cheias, e o trabalho noturno ou de fim de semana é mais freqüente. Para a maioria dos países estudados, o setor de transportes, abastecimento ou das comunicações apresenta um número recorde de horas semanais trabalhadas. A título de exemplo, é de 51,8 horas na Malásia e chega inclusive a 53,7 horas no Chile.
Círculo vicioso
Em conseqüência, numerosas atividades econômicas são “informalizadas”. Aquelas que saem do campo da lei representam ao menos a metade dos empregos dos países em desenvolvimento, e 75% são realizados por trabalhadores independentes que têm em comum, além de trabalharem muito, o fato de pertencerem ao mundo industrializado ou transição. “Um grande número de trabalhadores não qualificados é obrigado a se auto-empregar por falta de um trabalho remunerado”, nota o relatório.
Os especialistas da OIT destacam também que as mulheres, que se vêem às voltas com uma dupla obrigação, não se encontram nas mesmas condições que os homens. Elas devem efetuar trabalhos domésticos, prover o abastecimento de água e de lenha, mas também se ocupar das crianças, das pessoas idosas ou de aidéticos.
Para as mulheres ativas nos países em desenvolvimento, a economia informal, apesar dos maus salários e da ausência de cobertura social, apresenta a vantagem de conciliar renda e responsabilidades familiares e domésticas. Assim, mais de um quarto dos empregados independentes não trabalham mais de 35 horas por semana. “Sua capacidade de contribuir para a alta da produtividade horária para a economia em seu conjunto está, portanto, seriamente limitada”, explica Jon C. Messenger, um dos autores do relatório.
Um círculo vicioso se forma, no qual, em razão dos baixos salários, os trabalhadores acumulam as horas para equilibrar o orçamento e onde as empresas confrontadas com uma baixa produtividade horária, devem solicitar sempre mais seus empregados para alcançar os objetivos de produção.
As motivações variam segundo os níveis de desenvolvimento do país. Os autores descobriram que entre os países industrializados, a França conta com a porcentagem mais elevada de trabalhadores independentes que trabalham mais de 48 horas por semana. Em torno de 60,2% das pessoas por conta própria trabalham além deste patamar, considerado como excessivo pela OIT, contra somente 28,5% nos Estados Unidos.
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