O fluxo de capital especulativo ao Brasil aumentou quase cinco vezes nos primeiros quatro meses do ano e se tornou a principal fonte de dólares do país, segundo dados do Banco Central. Entre janeiro e abril, o total de financiamentos de curto prazo captados por bancos no exterior somou US$ 24,147 bilhões, contra US$ 4,842 bilhões nesse período de 2006. A reportagem é de Ney Hayashi da Cruz e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 27-06-2007.
Os números se referem a empréstimos com prazo inferior a um ano que os bancos conseguem no mercado internacional para aplicar no Brasil. Ou seja, é um tipo de dinheiro que pode deixar o país rapidamente em caso de forte turbulência.
Os dados indicam que, ao contrário do que defende o BC, a valorização do real está sendo influenciada pelos elevados juros do Brasil, não só por fatores como o bom desempenho da balança comercial - o volume de dinheiro de curto prazo que entrou no país entre janeiro e abril equivale a quase o dobro do saldo da balança no período.
"Isso [a entrada de capital de curto prazo] tem a ver com o nível na taxa de juros, que ainda é muito alto", disse a economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour. Ou seja, os bancos que atuam no Brasil conseguem empréstimos de curto prazo a juros baixos no exterior e podem colocar os recursos em aplicações atreladas à taxa Selic, hoje em 12% ao ano.
Segundo Srour, o Brasil deve receber US$ 30 bilhões em empréstimos de curto prazo ao longo de 2007, o que representaria um aumento de 54% em relação a 2006. "É um valor alto, mas não acho que isso traga muito risco. Estamos falando de um fluxo total que pode chegar a US$ 75 bilhões neste ano."
Ainda assim, os valores registrados até agora fizeram com que o BC obrigasse os bancos a adotar limites mais rígidos nas suas operações com câmbio. Com as mudanças, anunciadas há três semanas, as instituições financeiras passaram a ter que apresentar um volume maior de capital como garantia para suas transações com dólares.
A idéia era desestimular as operações com capitais especulativos. "O BC tomou as medidas para tornar esses capitais o menos volátil possível. Isso traz mais sustentabilidade ao balanço de pagamentos", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Em outras palavras, os limites mais rígidos buscam evitar que as contas externas dependam muito de recursos de curto prazo. Por enquanto, os números disponíveis mostram que o balanço de pagamentos continua no azul, fazendo até com que o BC aumente suas projeções para este ano.
No mês passado, a conta de transações correntes teve saldo positivo de US$ 1,821 bilhão, levando o resultado acumulado até abril a US$ 3,515 bilhões.
Esse indicador inclui a balança comercial, a balança de serviços e rendas (pagamento de juros, gastos com viagens internacionais, despesas com fretes, entre outros itens) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Ontem, o BC elevou de US$ 7,7 bilhões para US$ 10,7 bilhões sua projeção para o superávit em transações correntes do ano. A revisão ocorreu por causa da alta, de US$ 37 bilhões para US$ 40 bilhões, na projeção do superávit comercial.
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