Os negros sempre tiveram que lutar para sobreviver, trabalhar, estudar e principalmente, para serem reconhecidos como membros da sociedade. Esse cenário se modificou qualitativamente, afirma o Prof. Dr. Mário Maestri, docente no PPG em História da Universidade de Passo Fundo (UPF). Com mais de 30 anos dedicados a pesquisas sobre a história africana, Maestri avalia as modificações na historiografia ao longo desse período. Em entrevista à IHU On-Line desta semana, intitulada Rio dos Sinos, um ano depois da tragédia. Ainda é possível salvá-lo?, ele apontou alguns fatos que levaram a essas transformações.
Dois acontecimentos marcaram essas mudanças de paradigmas. O primeiro, aponta, iniciou com a mobilização pela anistia, em 1970, que seguiu com a “redemocratização e a rearticulação sindical, dirigida pelo operariado metalúrgico criavam excepcionais condições para leituras estruturais do passado, parte do esforço de desalienação social". O segundo, acrescenta, está ligado as transformações do mundo do trabalho, que permitiu que novos estudiosos encontrassem espaço nas universidades para desenvolver trabalhos sobre “dois eixos que movem o mundo social: o trabalho e a luta das classes”, incluindo aí a trajetória dos negros.
Escravismo sulino
No Rio Grande do Sul, as pesquisas sobre o escravismo sulino dominavam o imaginário rio-grandense, nos anos 1970, diz o professor. Na época, o Estado carecia de estudos sobre a escravidão na região, e os escritos sobre o tema limitavam-se ao culturalismo de Dante de Laytano. Trinta anos depois, as pesquisas na área começaram a crescer, tendo em vista que em 1980, apenas uma universidade do Estado trabalhava sistematicamente a questão. Hoje, já são no mínimo três.
Atualmente, o Rio Grande do Sul encontra-se como um dos estados menos racistas do Brasil. Isso, segundo o pesquisador, reflete diretamente nas academias da região. Para exemplificar, ele utiliza-se da problemática política das cotas em universidades. A facilidade com que as “cotas para estudantes com alguma ascendência africana tem sido aprovada nas universidades públicas sulinas apoiadas por professores e alunos brancos, registram essa realidade”, constata.
Fascinado pela história do escravismo colonial, Mário Maestri não perdeu o gosto pelas pesquisas, que adquiriu enquanto estudante do Centro de Estudos da África, da UCLU, na Bélgica. Verdadeiro mestre e conhecedor do tema, ele estará no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, na próxima quarta-feira, 08-11-2007, narrando os 30 anos da história africana e afro-brasileira (1977-2007). O evento compõe a programação Formação étnica do Rio Grande do Sul na História e na Literatura, e está marcado para às 19h30min, na sala 1G119.
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