"Bons tempos, aqueles em que a corrupção se contentava entre nós com a simples impunidade. Ela agora aprendeu a revidar. E, pelo menos no Paraná, acaba de trancar na cadeia a engenheira agrônoma Elma Nery de Lima Romanó, que até agora só é suspeita de denunciá-la”. O comentário é de Marcos Sá Corrêa, jornalista e editor do site O Eco, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 7-11-2007.
Eis o artigo.
Romanó foi presa há duas semanas, como chefe de uma quadrilha que vendia licenças para o corte ilegal de araucárias em Ponta Grossa. A máfia comercializava papéis falsos entre empresas madeireiras e proprietários de terras. Era uma fábrica de desmatamento. Funcionava, havia anos, no escritório local do Instituto Ambiental do Paraná. Sua tabela de propinas ia de R$ 10 a R$ 30 mil reais. Arrombou no município 27 mil metros quadrados de clareiras. Condenou 36 mil pés de araucária, árvore que é símbolo do Estado em vários sentidos, inclusive o de seu fracasso em conservar a espécie nativa que botou na bandeira. Rendeu, em madeira, R$ 8 milhões.
Desmontá-la custou oito meses de investigações. Custaria menos se o governo estadual tomasse as providências pedidas há dois anos pela funcionária do Instituto Ambiental do Paraná, que ele mesmo mandou a Ponta Grossa para desratizar o escritório regional. Essa funcionária era Alma Romanó.
Ela assumiu o cargo 2004.Vinha do Ministério Público estadual. Tinha fama de incorruptível e quase 30 anos de serviço. Em 2006, recebeu da Câmara de Vereadores o título de cidadã honorária ponta-grossense. Chefe do escritório, fez sindicâncias contra fiscais, empresários, fazendeiros, ONGs e policiais militares como traficantes de autorizações frias.
Suas denúncias subiam às esferas competentes e lá ficavam. No ano passado, farta de esperar pela resposta dos superiores, relatou, em carta ao governador Roberto Requião, o caso de Ponta Grossa. Requião leu a carta no “Escola de Governo”, seu programa radiofônico das manhãs de terça-feira. No ar, mandou sua administração acabar com aquilo. Nada aconteceu.
Em junho, Romanó demitiu-se. Transferiu-se à Ferroeste, a estatal dos trens paranaenses. No novo emprego, entrou em crise depressiva. Tirou duas licenças médicas. Estava num hospital nos arredores de Curitiba, com cateter de soro no braço, ao ser presa, no dia 23.
O seu foi um dos nove mandados de prisão que resultaram da Operação Florestal Negra, a devassa policial da quadrilha de Ponta Grossa. Dos oito detidos, três indicados já estão soltos. Dois são donos de madeireiras. O terceiro é engenheiro florestal.
Mas o pedido de habeas-corpus para Romanó foi indeferido pelo Tribunal de Justiça. O advogado de defesa diz que ela foi “vítima do esquema que denunciou”. Ambientalistas paranaenses lançaram um protesto, pondo a mão no fogo por sua inocência. Como patrono de uma campanha para preservação das araucárias no Paraná, o veterinário Clóvis Borges, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem, garante que ela caiu numa arapuca. Seja como for, Romanó já é um sinal de que o Brasil anda meio esquisito.
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