O assassinato está em alta no Rio Grande do Sul. Este é o tema de ampla reportagem publicada hoje, pelo jornal Zero Hora. O número de casos cresceu 29% entre 2000 e 2007, conforme estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Após um período de relativa estabilidade, um aumento nos homicídios ocorre desde 2005. Foram 1.352 mortes naquele ano, 1.359 em 2006 e 1.568 casos em 2007. A média em 2007 foi de 4,3 homicídios por dia no Rio Grande do Sul, um a cada seis horas. Em 2008 a média praticamente repete a do ano passado, 4,4 homicídios ao dia. Metade dessas mortes acontece na Região Metropolitana.
A tendência gaúcha é inversa à registrada no país, onde o total de homicídios vem caindo desde 2003, quando foram registrados 51 mil crimes desse tipo. Em 2006, foram 44 mil assassinatos.
Mesmo com o crescimento de homicídios nos últimos anos, o Rio Grande do Sul está longe de figurar entre os locais mais violentos do Brasil. Conforme as últimas estatísticas nacionais, referentes a 2006, o território gaúcho ocupa o 20º lugar no ranking de homicídios entre os Estados. Sua taxa média é de 18 assassinatos por 100 mil habitantes, enquanto a taxa média brasileira é de 24 por 100 mil.
A ascensão lenta e gradual do número de mortes violentas no Rio Grande do Sul intriga especialistas. O cientista social Alex Niche Teixeira, do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que as explicações podem ser múltiplas, mas ressalta que o Estado é o mais armado do Brasil. Além disso, foi o que registrou o mais alto percentual de rejeição à proposta governamental de proibir a venda de armas, no Referendo do Desarmamento, em 2005. Sete em cada 10 gaúchos disseram não à idéia de vetar o comércio bélico.
– Enquanto em outros Estados o desarmamento vem aumentando desde 2003, no Rio Grande do Sul a população resiste à idéia. Quem deseja matar vai matar de qualquer jeito. Mas com bastante armas em circulação, fica mais fácil – analisa Teixeira, cujo grupo prepara para este ano o Mapa da Violência-RS, um trabalho que pretende dissecar a situação de oito tipos de crimes violentos no Estado.
A favor da hipótese de Teixeira está o fato de os gaúchos possuírem mais de 800 mil armas registradas, das 3,2 milhões existentes no país. Quase todas na clandestinidade porque seus donos simplesmente não as recadastraram na Polícia Federal. Mas isso não explica tudo. A BM apreendeu 57% mais armas nos quatro primeiros meses do ano passado, se comparados com igual período de 2006, mas mesmo assim os homicídios aumentaram. Por quê?
Maior parte de vítimas e autores tem antecedentes
O diretor de Gestão e Estratégia da SSP, tenente-coronel Marco Antônio Moura dos Santos, assinala que 90% dos indiciados por homicídio no primeiro trimestre deste ano têm antecedentes criminais, enquanto 60% das vítimas também têm. Isso indica que a disputa entre criminosos – em sua maioria por causa de drogas – é razão da maioria dos crimes.
– Quando as polícias prendem mais, como vem ocorrendo, aumentam as disputas sangrentas pela liderança nas quadrilhas ou nas áreas – comenta Santos.
O fato de o número de homicídios estar crescendo no Rio Grande do Sul e em queda no Brasil não significa que o país está pacificado. Pelo contrário. Se comparado um período de mais de duas décadas, o cenário nacional é de uma epidemia de violência. Entre as mortes por fatores externos – que excluem doenças –, os homicídios no Brasil praticamente dobraram. Passaram de 19,8% do total, em 1980, para 37,1%, em 2005, mesmo com a queda nos últimos quatro anos.
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