A reunião do G-20 em Toronto no fim de semana chegou a resultados bem modestos, levantando dúvidas sobre o futuro desse grupo para coordenar as decisões econômicas mundiais. Mas ninguém esperava muita coisa, já que o grosso das decisões importantes está estava agendada para o próximo encontro de Seul, marcado para novembro.
A reportagem é de Alex Ribeiro e publicadada pelo jornal Valor, 28-06-2010.
Há boas razões para achar que o G-20, grupo que reúne 21 economias ricas e em desenvolvimento, está perdendo a sua importância. Dois dias antes, na quinta e na sexta, o Canadá juntou na cidade de Huntsville os líderes do G-8, o grupo de economias ricas mais a Rússia, o que tornou inevitável a leitura de que as decisões mais importantes - como a retirada dos estímulos fiscais - foram tomadas por esse grupo menor.
Oficialmente, o encontro do G-8 foi para tratar de outros assuntos, como a ajuda econômica a países pobres e a segurança internacional. Mas houve um almoço de trabalho na sexta entre os membros do G-8 para discutir questões apenas econômicas, onde foram fechadas as linhas gerais do acordo para os países reduzirem seus déficits à metade até 2013 e estabilizar a dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.
No sábado, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, relatou as discussões econômicas feitas pelo G-8, que avançaram na agenda do G-20. "Não havia nenhum membro do G-8 negando a necessidade de reduzir a dívida pública", afirmou Sarkozy. "Isso tem que ser feito de uma forma pragmática que leve em conta as diferentes situações de cada país."
Outro mal sinal para o G-20 foi a ausência do presidente Lula, bastante sentida porque ele é visto como uma das principais vozes desse novo grupo.
"É claro que a ausência do presidente Lula diminui um pouco o brilho desse evento", reconheceu o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega.
O principal problema, porém, foi a sensação de que não houve nenhuma decisão concreta. No caso do corte dos déficits públicos, por exemplo, foi uma solução tão elástica que acomodou todos os interesses em jogo.
Na regulação bancária, os resultados não foram muito melhores. Foi basicamente decidido que as coisas devem ser discutidas na próxima reunião, em Seul. Um negociador pondera, porém, que a manutenção dos planos originais de implementar as mudanças regulatórias até 2012 foi uma vitória importante, diante da forte pressão dos bancos para adiar os prazos.
Também não houve apoio para levar adiante as negociações comerciais da Rodada de Doha. Segundo o ministro da Fazenda Guido Mantega, o presidente americano, Barack Obama, disse que não levaria as negociações adiante porque há resistências dentro do seu país. "Ele propôs avançar com a agenda de serviços", disse Mantega. "Eu disse, então, que não adiantaria deixar para trás o trabalho de anos para entrar em novas propostas, porque aí o Brasil gostaria de ver discutida a agenda agrícola."
Uma leitura corrente do encontro é que o G-20 foi muito importante para dar respostas concretas após o estouro da crise, em fins de 2008, quando havia certa unanimidade de que os governos tinham que agir para evitar uma séria depressão. Mas a unidade acabou sendo rompida agora que algumas economias já estão em trajetória de crescimento.
Outro jeito de ver a coisa é reconhecer que não se esperava muito desse G-20. A agenda do grupo já estava direcionada principalmente para o encontro de Seul, no fim do ano, e a reunião de Toronto era apenas uma ponte para chegar até lá. Um assunto central de Toronto, a necessidade de valorizar o yuan, foi tomado unilateralmente pela China dias antes, esvaziando um pouco a agenda macro.
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