"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, julho 05, 2010

A revolução agrícola de Lula na África

Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10

“Que o Brasil deve ser parceiro no desenvolvimento das nações africanas, isso não tenho dúvida, o problema é o tipo de conselho e de exemplo que vamos dar”, afirma Leonardo Sakamoto em seu blog, 03-07-2010, sobre o “conselho” de Lula sugerindo a reprodução do modelo de agrocombustíveis brasileiro em território africano.

Eis o artigo.

O presidente Lula, que está participando de uma reunião de chefes de Estado em Cabo Verde, disse que o Brasil deve continuar incentivando o desenvolvimento da agropecuária na savana africana. Comparou o seu potencial ao do Cerrado brasileiro e destacou a produção de agrocombustíveis como alternativa econômica. “Podemos reproduzir a revolução da agricultura brasileira”, afirmou, em registro feito pela Agência Brasil.

Que o Brasil deve ser parceiro no desenvolvimento das nações africanas, isso não tenho dúvida. O problema é o tipo de conselho e de exemplo que vamos dar e, o mais importante, qual participação vamos ter neste processo – até porque, por trás do discurso do presidente, há também o bafo de empresas multinacionais brasileiras com especial interesse na África. Se por um lado, o avanço agropecuário feito com responsabilidade, tecnologia e com a participação do pequeno produtor pode garantir soberania alimentar e energética, por outro o avanço feito de forma irracional ou concentrado na mão de grandes empresas pode levar à destruição do meio e do empobrecimento da população. Exagero? Nem de longe. Nos últimos séculos, a história do contato da África com outros povos tem sido uma história de pilhagem.

Vale lembrar o que ocorreu no próprio continente. O segredo da “revolução verde” na África tropical, como bem lembrou Samir Amin, foi altamente rentável por conta das remunerações baixíssimas para os trabalhadores. Por conta disso, mesmo com uma produtividade fraca, os preços continuaram competitivos. A rentabilidade foi obtida através da pilhagem do solo, do desmatamento, da inutilização de terras. E junto com a terra, a mão-de-obra acabou sendo prejudicada, como mostraram os altos índice de mortalidade, de desnutrição, de fome, de êxodo rural, enfim. Sabemos bem porque algo parecido tem acontecido em regiões de fronteira agrícola por aqui. E, principalmente em nosso Cerrado, bioma mais desmatado e desprotegido.

Por fim, o Brasil está batalhando por influência em um espaço de produção e um mercado em que a China vem galgando posições cada vez mais, comprando terras, construindo parcerias, para fazer frente à sua fome por recursos naturais e produtos agropecuários. Ela não costuma adotar critérios sociais, em outras palavras, está pouco se lixando para os impactos causados na produção de uma mercadoria em terras estrangeiras e em seu território, contanto que o preço seja baixo. Se conseguirmos estabelecer negócios respeitando o povo de lá e sua terra, talvez façamos a diferença que afirmamos ser no cenário internacional.

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