"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, outubro 25, 2010

O Exército Brasileiro e o Plano Máximo Argentino

 SBPH

Na década de 1920, o Exército Brasileiro vivia momentos de grandes dificuldades. Com pequeno e despreparado efetivo, faltavam armamentos e munições modernas, os soldos eram baixos e, não possuía projeção social. A Argentina, no mesmo período, possuía o exército bem estruturado e qualificado, fato que causava preocupação à força terrestre brasileira. Na década de 1930, foram feitas reformas no Exército Brasileiro e, entre outras, elevou-se a profissionalização do efetivo e houve aumento na importação de material bélico. Em 1933, o Exército Argentino considerando o Exército Brasileiro como pretenso inimigo de guerra elaborou o Plano Máximo. O Exército Brasileiro, por sua vez, teve o Exército Argentino como seu rival número um e, passou a elaborar seus planos de guerra direcionados para uma contra-ofensiva ao Plano Máximo.
Introdução
Na última década do século XIX, as duas maiores nações do sul da América experimentavam situações distintas nas suas forças terrestres. Enquanto a Argentina possuía uma razoável organização nos quadros do Exército, o Brasil vivia uma angustiante situação de vencer seus problemas internos e organizar os meios de defesa contra o pretenso inimigo externo.
Em 1900, o Exército Argentino fundou a Escola Superior de Guerra e, a partir dessa época, passou a contar com o auxílio e instrução de diversos tenentes coronéis alemães, como Von Bellow e Von Thavenay em 1910, Von Goltz e Von Krestzchmer em 1911 e Schlegner em 1912. Segundo Armando Duval, adido militar brasileiro na Argentina, "os contratos dos professores alemães foram sempre feitos em Berlim pelo adido militar argentino".1
Além de receber instruções dos oficiais alemães, a Argentina também passou a importar material bélico da Alemanha, como afirma Potash:
Un aspecto significativo de la importância que se atribuyó después de 1900 al professionalismo fue la difusión de la influencia militar alemana em la forma de asesores, períodos de entrenamiento em ultramar y armamentos.Una serie de contratos firmados com lãs fabricas alemanas de municiones, a partir de la década de 1890, determino que el Ejército argentino se abactecia casi totalmente com armas y equipos fabricados em Alemania.2
O recorte temporal do artigo restringe-se às décadas de 20 e 30, e contextualiza-se na concorrência entre França e Alemanha pelos mercados militares na América do Sul. O envio de instrutores e / ou missões militares para países menos desenvolvidos ampliava o mercado bélico e expandia a língua e a cultura dos países de origem. A França e a Alemanha disputavam missões militares na América Latina: enquanto Brasil, Peru e Uruguai contrataram missões francesas a Argentina, o Chile e o Equador fizeram acordos com a Alemanha. 3
A preparação do Exército Argentino foi sempre motivo de preocupação e receio para o Exército Brasileiro. As comparações foram tornando-se inevitáveis, e aumentaram o fomento para a profissionalização e o aperfeiçoamento das forças nacionais. O Brasil, porém, fundou a sua Escola Superior de Guerra (ESG), apenas em 1958, com um programa extensivo as três forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) e tendo por princípios fundamentais a segurança nacional, o desenvolvimento e o Brasil como grande potência.4
Na busca pela modernização e pela profissionalização dos quadros, o Exército resolveu, juntamente com o Poder Legislativo e com o aval do Ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, contratar uma missão estrangeira para instruir seus oficiais. Calógeras viajou por muitos estados e constatou a precariedade da força terrestre, tanto nas instalações como em efetivo e nos armamentos e munições disponíveis. A escolha da nacionalidade da missão de instrução recaiu no Exército Francês, em virtude dos desígnios da Primeira Guerra Mundial.
As Preocupações do Exército Brasileiro com o Exército Argentino
Conscientes de suas carências e do atraso técnico-científico em que se encontravam, e conhecendo os passos à frente que a República Argentina dava em relação aos assuntos militares, os oficiais brasileiros passaram a traçar um panorama de comparações e o quanto estavam longe de dominar o cenário sul americano:
Na República Argentina foi o governo que tomou a iniciativa de apresentar um projeto que aumentando os vencimentos dos militares. (...) E os vencimentos dos oficiais argentinos já são bem superiores aos dos oficiais brasileiros, principalmente nos altos postos.5
Comprovando a afirmação acima, o mesmo número da revista traz como demonstrativo o quadro abaixo, em que os valores salariais estão expressos em Réis, moeda corrente brasileira à época:6
Quadro Comparativo dos Vencimentos de Oficiais dos Exércitos Brasileiro e Argentino
Posto
Vencimentos dos Brasileiros
Vencimento dos Argentinos.
Tenente General (Marechal)
2.800$000
3.315$000
General Divisão
2.350$000
2.890$000
General Brigada.
1.900$000
2.550$000
Coronel
1.450$000
1.870$000
Tenente. Coronel
1.200$000
1.360$000
Major
950$000
1.071$000
Capitão
750$000
714$000
Primeiro Tenente.
575$000
561$000
Segundo Tenente
450$000
510$000
FONTE: A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: 15 de Setembro de 1919, Ano VI, N. 71 e 72. p. 03.
A Defesa Nacional, além de denunciar os problemas existentes no meio militar, passou a demonstrar o funcionamento do Exército Argentino, fazendo comparações entre as forças a fim de comprovar a situação inferior que o Brasil ocupava na América Latina, pois "na República Argentina o quadro é bem remunerado, sendo somente o valor profissional a base para promoções e, por isso, é zeloso, competente e vive satisfeito."7 E fez essa séria análise quanto ao quadro acima:
No Brasil, os militares, reduzidos à condição de simples funcionários comuns aos quais não se reconhece outra distinção que não seja a de algumas insígnias do traje que lhes é decretado, são naturalmente levados a pensar na recompensa do seu trabalho e dos seus riscos, caindo nas comparações, que não serão aliás com os contínuos ou serventes, mas com magistrados, os deputados e outros quaisquer funcionários de categoria superior, além do mais, porque é perfeitamente justo considerar o que cada um é e não o que deveria ser.8
Essa constatação se fez pertinente no período, porque os militares do Exército Nacional se sentiam desprestigiados, pelos civis e pelos destacamentos armados que cada estado da federação possuía. O poderio militar, a real força armada estava nas mãos de algumas importantes brigadas estaduais, que possuíam material bélico importado e grandes efetivos bem preparados.
A população brasileira não tinha nenhum apreço especial pelo exército nacional, enquanto "na República Argentina o povo está satisfeito com seu sistema militar, tendo orgulho dele e interesse por seu funcionamento regular."9 O Exército precisava resolver seus problemas internos para assegurar a unidade institucional, acabar com o poder paralelo das brigadas estaduais e colocar-se em posição de destaque entre os Exércitos da América Latina. Em meio a todas essas dificuldades o Exército Brasileiro não perdeu nunca de vista os progressos militares realizados pela Argentina, e mais uma vez a Defesa Nacional lançou um alerta, agora enunciando que a indústria de aviação argentina despontava e colocava o país em supremacia aérea na América do Sul, ainda na década de 20:
A fundação da indústria de fabrico de aviões na América do Sul, por qualquer país, coloca todos os outros numa situação de inegável inferioridade. E Como a Argentina acaba de fazê-lo, a sua supremacia aérea torna-se indiscutível. (...) A comissão argentina presidida pelo General Belloni, que se emprega na Europa em adquirir os armamentos necessários para a execução do programa militar argentino, comprou toda a maquinaria necessária, contratou técnicos e operários especialistas, adquiriu grande copia de material para a fabricação. (...) Os argentinos compraram o brevet da marca Lorraine-Dietrich, e estão em negociações para a aquisição de outras patentes, notadamente do Breguet e Spano-Suiza. (...) As firmas européias que venderam as patentes, são obrigadas nos termos do contrato, a produzir os mesmos tipos na Argentina, introduzindo-lhes os aperfeiçoamentos que forem conseguidos pelas suas matrizes na europa.10
A República Argentina empenhou-se desde o início do século XX pelo aperfeiçoamento de suas forças, pela profissionalização de seus quadros, pelos armamentos de última tecnologia, e empenhou-se ao máximo pela supremacia militar, principalmente em relação às nações que considerava suas iminentes rivais, Chile e Brasil. O Coronel Molina, chefe do Exército Argentino, em meados de 1926, defendia publicamente que Brasil e Chile planejavam formar uma aliança para aniquilar a Argentina, fato que obrigou os militares brasileiros a fazer a seguinte declaração:
(...) nada autoriza imaginar, como fez o ilustre coronel Molina, o Brasil formando aliança com o Chile as garras de uma tenalha para esmagar a Argentina, idéia essa que nem por hipótese se poderia enquadrar nos intuitos da política brasileira.11
O Plano Máximo Argentino
O Plano máximo é pouco referendado pelos livros especializados, a priori temos Frank McCann que em sua obra A Nação Armada, fez uma breve citação sobre o tema. O conhecimento desse artigo sobre o assunto advém do Arquivo Góes Monteiro, que se encontra no Arquivo Nacional.
Na afirmação feita pelo coronel Molina, anteriormente mencionada, repousou a idéia central do Plano Máximo, que foi desenvolvido pelo alto comando argentino, em meados de 1933. A Argentina adestrou e preparou seus quadros contra uma pretensa investida Chilena apoiada pelo Exército Brasileiro. A hipótese de guerra considerada mais pretensa e mais perigosa seria a união entre Chile e Brasil. Em contrapartida, o Brasil tinha a Argentina como seu potencial inimigo, e todas as manobras e distribuições de quadros eram executados pensando na ameaça Argentina.
A situação de desconfiança e de rivalidade militar foi tão intensa que gerou uma certa crise diplomática, chegando ao ápice de as autoridades argentinas tratarem os adidos militares brasileiros com " visível desconfiança", impedindo-os de visitarem as zonas de combate.12
Essa leitura dos fatos históricos e dos interesses latino-americanos fez com que o sul do Brasil, como em períodos antecedentes, continuasse sendo bem vigiado, e guarnecidos os destacamentos já existentes com grande efetivo. O Rio Grande do Sul teve prioridade de defesa, pois, caso houvesse uma invasão armada ao nosso País, esta se daria pelo sul, organizada pelas forças argentinas.
A Argentina estava sendo instruída pelo Exército alemão e, conforme Mc Cann, em 1933 "os argentinos haviam desenvolvido o Plano Máximo baseado na hipótese de guerra com o Brasil e o Chile".13 Brasil e Argentina disputavam espaços de influência dentro das relações internacionais latino-americanas, como analisa Gordim Silveira:
A relação Brasil X Argentina era uma disputa em torno da configuração de um sistema de poder na América do Sul, sustentado pela transposição ideológica dos padrões das relações entre países capitalistas. (...) é de se notar a maior presença do Exército, centro dos estudos geopolíticos, junto às instâncias de decisão do estado, tanto na Argentina, quanto no Brasil. Na verdade, as Forças ArmadAs constituem-se em sustentáculos fundamentais da retomada do controle do Estado pela oligarquia, no caso Argentino, e do estado de compromisso, levado a efeito pela política varguista, no Brasil.14
Vargas utilizou a fragilidade no meio militar para fortalecer suas relações com o alto comando e fazer com ele alianças. Concomitante às novas contratações das missões francesas, ocorreu uma pesada importação de armamentos novos. Muitos oficiais superiores foram mandados para cursos de complementação no exterior, as promoções foram devidamente regularizadas e respeitadas, e, enfim, Getúlio, após o golpe de 1930 atendeu aos seus próprios interesses políticos e auxiliou nas transformações exigidas pelos militares e pela concorrência externa do exército argentino.
Em 1930, depois de 10 anos de instrução francesa, o exército brasileiro aumentou seu efetivo, contando com oficiais profissionalizados e com o apoio do governo central para importação de armamentos e o pagamento de cursos complementares no exterior. As medidas de Vargas deram novo ânimo ao Exército, pois mantiveram as missões de instrução e passaram a apoiar a Instituição. Daí se justifica a preocupação que o Exército Argentino passou a ter com Exército Brasileiro, em meados de 1933.
A disputa entre ambos países forneceram as bases para a formulação do Plano Máximo argentino, que passou a traçar a concepção operativa e a distribuição de seus cargos, considerando que, "por circunstâncias del momento, deben considerarse adversários de la primera hora a Chile, Brasil, Uruguay y Bolívia".15 O plano, após definir seus pretensos inimigos, passou a justificá-los, e, no caso do Brasil, eis a explicação:
la expansión territorial puede ser un objetivo complementario del Brasil, em uma guerra contra la Argentina, si se tiene em cuenta la situación de Missiones, que aparece introduciéndose como uma cuña em território brasileño, reduciendo la zona de influencia brasileña sobre el Paraguay, impidiendo el usufructo de las cataratas del Iguazú, y sustrayendo yerbatales a esta importante industria del Brasil, seriamente afectada, algunas veces, por medidAs protecccionistas argentinas em favor de la yerba missionera.
la incorporación de Misiones a la soberania del Brasil permitiria a este el domínio de uma de las puestas de salida del Paraguay, com lo que aumentaria considerablemente su influencia sobre este país; y la conquista de aquel território no presenta las seriAs dificultades de Corrientes y Entre Rios.16
Uma possível expansão territorial brasileira era a justificativa para que o Brasil figurasse entre os países que ameaçavam a paz na República Argentina. Os outros países acima referendados não serão analisados por não comporem o foco principal deste artigo. Daí se desenharam os objetivos de guerra e as zonas de ação do Exército Argentino, que, após analisar os fatos e também as distribuições de tropas brasileiras , afirmava:
Nuestro objetivo de guerra debe ser el desgaste y la derrota de las fuerzas brasileñas, com miras hacia uma paz garantizada y com compensaciones por los gastos y perjuicios ocasionados por la contienda; por parte del Brasil, um objetivo semejante, acrecentado por la imediata ocupación del território de Missiones, com el propósito de imponermos una paz em la que, además de las compensaciones mencionadas, reconociéramos su derecho a la poseción de vdicho território y lê acordáramos determinadas ventajas em el usufructo del rio de la Plata y sus afluentes principales.
Em cuantoa la zona ed acción del Ejército y de la aviación del Brasil contra nuestro país, aparte del território de Missiones, al que habrá de destinar uma iracción relativamente poço importante de sus tropas, forzosamente debe pensarse em la región fronteriza de Corrientes, ampliada hacia la de Entre Rios como consucuencia de la alianza com el Uruguay, y com direción general hacia nuestros grandes centros vitales, Rosário e Buenos Aires. (...) com nosotros o contra nosotros nohay neutralidad posible.17
Os argentinos previamente definiram os pontos de ataque, as áreas estratégicas por onde os brasileiros poderiam avançar e, a partir disso, determinaram uma linha de atuação, uma tática de guerra. Os Argentinos justificavam sua hipótese de guerra através da própria área estratégica, pois consideravam que o Brasil poderia ter algum interesse pela região de Missiones.
Acopladas à estratégia, encontravam-se informações importantes sobre os quadros da força brasileira, que era tratada como informes especiais, e aventavam que o Brasil "tinha 9 Divisiones de Ejército (de fuerza cada una de 28.000 homens), 5 Divisiones de Caballería ( de fuerza cada uma de unos 6.500 homens). Efectivo total de combatientes 290.000 homens."18
O Plano Máximo calculava que o tempo que o Brasil necessitaria para deslocar suas tropas e seu material bélico para chegar à fronteira e concretizar a invasão armada era de quatro meses. Os argentinos tinham conhecimento da falta de mobilidade brasileira e também da situação das estradas e ferrovias, por isso foi feita uma estimativa tão larga de tempo para a mobilização em direção ao sul, não esquecendo, contudo, que uma boa parte dos quadros já se encontrava no Rio Grande do Sul. O problema da mobilidade brasileira era significativo, pois, com os armamentos pesados e com poucas vias em condições de transportar o material bélico em segurança e com rapidez, esse fator representava um atraso nas operações de guerra.
Mediante essas análises, o Brasil seria o primeiro país a tomar a dianteira, e declarar guerra, invadindo o território argentino, e logo após integrando-se a ele o Exército Chileno. Então o Estado Maior Argentino começou a preparar sua contra-ofensiva e concluiria convictamente que "la actitud que necessariamente debemos adoptar cuanto antes, es la de una enérgica ofensiva, estratégica contra el enemigo principal, simultaneamente com la defensiva estratégica em los demás frentes."19
O planejamento da distribuição de forças aconteceria da seguinte maneira:
Como consucuencia de la variedad de teatros de operaciones a atender sobre nuestras diferentes fronteras, de lAs grandes distancias que lês separan entre si y de lAs insuficientes y precárias comunicaciones que los unen , No es posible pensar hoy ni lo será por largo tiempo, em um sistema de empleo de nuestras fuerzas "por líneAs interiores", es decir, em la protección por fuerzas menores colocadas em todos los puntos vulnerables, para que la masa`del Ejército, pueda acudir sucesivamente de uno a outro objetivo, después de obtener la decisión sobre cada uno de ellos.20
O Plano Máximo era uma medida de segurança contra um pretenso ataque brasileiro, e após obter informes sobre o exército adversário, passou a preparar seus quadros na defesa dessa ofensiva. As considerações aventadas até aqui compunham a "variante B" do referido projeto. Era na verdade, a segunda alternativa, pois como todo bom plano de guerra, caso uma das variantes traçadas não desse certo, teríamos uma outra estratégia.
A variante A previa uma concentração de forças brasileiras na região central e noroeste do Rio Grande do Sul, tendo com isso a Argentina que deslocar seus destacamentos de defesa para a região nordeste da Argentina. Conforme o documento secreto, o Exército do Brasil estaria assim localizado:
El grueso de sus fuerzas inicialmente em Cacequy y más al oeste donde probablemente se aprestará para defenderse em previsión de um posible avance de fuerzas superiores argentinas. No debe descartarse que transcurrido um tiempo prudencial sean desembarcadas más hacia el oeste, probablemente cerca de Uruguayana21.
A defesa Argentina então concentraria suas forças militares próximas da fronteira com o Brasil, da seguinte maneira:
Las D.C.1, D.C.2, D.C.3 y D.3, imediatamente al Este del Rio Uruguay, cubiendo el sector entre el Rio Ibicuy y la línea\ limítrofe con la República Oriental del Uruguay, manteniendo la masa cerca Uruguayana, para proteger la frontera y la concentración.22.
Os lugares de concentração das forças argentinas estariam em Bomplan, Cabred, Curuzú-Cuatiá com formações especiais, San Jaime e Corrientes com um destacamento de reforço, suas divisões de cavalaria.
Assim como a Argentina possuía conhecimentos sobre a organização das forças terrestres brasileiras, o Brasil também tinha informes sobre as condições argentinas e passou a preparar-se contra um propenso ataque. As missões militares francesas ainda em 1920, sob a chefia do General Maurice Gamelin, já previam a Argentina como uma pretensa inimiga, primeiramente devido às disputas territoriais e às rivalidades pela supremacia nacional, e também pelos componentes históricos que permeavam a vida política das duas nações.
O pensamento brasileiro a respeito da ameaça argentina como uma poderosa inimiga estendeu-se por muitos anos. Mesmo às vésperas da Segunda Guerra Mundial, os brasileiros negaram-se a seguir as instruções americanas em guarnecer o nordeste brasileiro. Eles prosseguiram enviando tropas para o Rio Grande do Sul, pois diante das desordens decorrentes da guerra, a Argentina poderia tentar uma ofensiva contra o Brasil e invadir o território nacional.
A reorganização e profissionalização do Exército Nacional tiveram como objetivo primeiro o realce das forças no contexto latino-americano, e para tal teve como maior rival o poderio e o preparo do Exército Argentino. Enquanto a Argentina desenvolvia e colocava em ação o Plano Máximo, por meio do adestramento de seus destacamentos e do estudo da distribuição geográfica que melhor defendesse a nação contra uma pretensa invasão, o Exército Brasileiro, por sua vez, analisava e colocava a Argentina como sua pretensa hipótese de guerra.
Conclusão
A descoberta do Plano Máximo pelas autoridades brasileiras serviu de estímulo para que, além de permanecer impulsionando o desenvolvimento do exército, também fossem contempladas outras áreas, como por exemplo, as estradas de rodagem e as vias férreas. O Plano Máximo foi uma prova concreta encontrada nos arquivos de Góes Monteiro que demonstrou o clima beligerante que permeava as relações entre o Brasil e a Argentina, e que de certa forma incentivou o Exército Brasileiro a desenvolver seu potencial militar, analisando a impulsão do ponto de vista internacional.
Notas
1 DUVAL, Armando. A Argentina Potência Militar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922. p. 368-369.
2 POTASH, Robert. El Ejército y la Política en la Argentina (1928-1945): De Yrigoyen a Perón. Buenos Aires: Sudamericana, 1984. p.18.
3 FERNANDES, Heloísa Rodrigues. Política e Segurança. São Paulo: Alfa-Ômega, 1973.
4 ARRUDA, Antonio. ESG: História de sua Doutrina. São Paulo: INL, 1980.
5 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: 15 de Setembro de 1919, Ano VI, N. 71 e 72. p. 03
6 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: 10 de Março de 1919. Ano VI, N. 66. p. 199-201.
7 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: janeiro de 1929, Ano XVI, N. 181. p. 49.
8 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: 15 de Setembro de 1919, Ano VI, N. 71 e 72. p.04.
9 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: janeiro de 1929, Ano XVI, N. 181. p. 50.
10 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: 10 de Março de 1927, Ano XIV, N. 159. p. 97.
11 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: junho de 1926, Ano XIII, N. 149. p.123.
12 MC CANN, Frank Junior. A Nação Armada: Ensaios sobre a História do Exército Brasileiro. Recife Guararapes, 1982. p.67-68.
13 MCCANN, F. Op. cit. Nota 18. p.65.
14 SILVEIRA, Helder Gordim.Argentina X Brasil: a Questão do Chaco Boreal. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. p. 85.
15 Documento Secreto do Ministério da Guerra Argentino. Arquivo Nacional, Arquivo Góes Monteiro - AS 683.1.1.
16 A Defesa Nacional, Rio de janeiro: junho de 1926, Ano XIII. N. 149. p.02.
17 A Defesa nacional, Rio de Janeiro: junho de 1926, Ano XIII. N. 149. p. 03.
18 A Defesa Nacional, Rio de Janeiro: junho de 1926, Ano XIII. N. 149. p.04.
19 A Defesa Nacional: Rio de Janeiro: junho de 1926, Ano XIII. N> 149. p.07.
20 A Defesa Nacional: Rio de Janeiro: junho de 1926, Ano XIII. N. 149.. p. 07.
21 Plan de Operaciones Maximo, Variante A: Fronteira Noroeste. Arquivo Nacional, Arquivo Góis Monteiro. SA 683.5.5. p.4.
22 Plan de Operaciones Maximo, Variante A: Fronteira Noroeste. Arquivo Nacional, Arquivo Góes Monteiro. AS 683.5.5. p.4.

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