Instituto Humanitas Unisinos - 22 out 10
A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, reforçou ontem a cobrança feita na véspera pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o candidato do PSDB, José Serra, esclareça as mudanças que pretende fazer na política econômica e exigiu explicações do tucano "até para tranquilizar eleitores e eleitoras". Ela também fez um "apelo" à militância que a apóia para "não cair em provocação" e evitar a repetição do episódio, "típico de uma campanha direitista", registrado anteontem, quando Serra disse ter sido agredido por manifestantes petistas no Rio de Janeiro.
A reportagem é de Sérgio Bueno e publicada pelo jornal Valor, 22-10-2010.
Dilma chegou à tarde em Porto Alegre para uma caminhada que reuniu milhares de pessoas no centro da cidade, junto com aliados como o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), o senador Sérgio Zambiasi (PTB) e o deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB). De lá ela seguiu para Caxias do Sul, onde à noite participou de um comício com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no fim da manhã havia ido a Rio Grande, no sul do Estado, para inaugurar o polo naval local.
A candidata comemorou a redução da taxa de desemprego para 6,2%, anunciada ontem pelo IBGE e classificada por ela como uma situação "tecnicamente de pleno emprego", e numa referência às declarações feitas por Serra também na quarta-feira, afirmou que "falar que vai fazer modificações na política econômica sem dizer o que vai modificar cria uma desconfiança e uma percepção muito ruim" no país. "Temos que ser extremamente sérios", comentou Dilma, que aproveitou para comparar resultados do governo Lula e da gestão anterior, do tucano Fernando Henrique Cardoso.
"Eles venderam R$ 100 bilhões do patrimônio público e a dívida pública cresceu de 30% para 60% do PIB. Que gestão financeira é esta?" indagou. "Nós reduzimos a dívida de 60% para o patamar dos 40% e adotamos uma política séria no que se refere à flexibilidade cambial, mas percebendo, como diz o ministro [Guido] Mantega [Fazenda], que o mundo vive uma guerra cambial". Ela prometeu manter a trajetória de redução progressiva do endividamento para permitir que o país caminhe para um padrão de juros internacionais.
Dilma também questionou as promessas do adversário na área social, como o aumento do salário mínimo para R$ 600, o reajuste de 10% para os aposentados e o pagamento de 13º salário para os beneficiários do programa Bolsa Família. "A gente tem que olhar com muita desconfiança toda e qualquer proposta que vai aumentar os gastos e não mostra quem é que vai financiar", afirmou. "Principalmente partindo de quem parte (a promessa), porque o governo tucano, tanto no Brasil como em São Paulo, se caracterizou pela política de arrocho salarial".
Sobre a alegação de Serra de que teria sido agredido por petistas no Rio de Janeiro, a candidata disse que existe "um método muito tradicional na política conservadora e de direita no mundo, que é criar fatos e acusar o lado de lá de violência". Poucas horas antes, em Rio Grande, Lula havia classificado de "farsa" e "mentira descarada" a queixa do PSDB, depois que uma emissora de TV exibiu imagens de Serra sendo atingido por uma bola de papel durante um tumulto entre militantes petistas e tucanos.
Dilma, que pela manhã havia sido alvo de três balões de água lançado de edifícios em Curitiba, disse que não é o "Rojas" (goleiro da seleção chilena que simulou ter sido atingido por um foguete no Maracanã, em 1989, citado por Lula como comparação ao PSDB) para "fazer firula" em cima do fato. "Não fui atingida porque, ao contrário do Rojas, esquivei-me", afirmou, acrescentando que a campanha não pode se pautar por "agressões".
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