Luis Nassif On Line, sex, 22/10/2010 - 09:32
Por Paulo Ferraresi Pegino
John Wojcik comenta, no People's World, sobre um recente relatório da organização americana anti-racismo NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, numa tradução livre). O relatório traça o perfil do Tea Party, o cada vez mais conhecido movimento conservador americano de caráter reivindicatório.
Para a NAACP, por trás das bandeiras do "orçamento equilibrado, menos estado e livre mercado", o Tea Party opera com uma plataforma "anti-semita, racista e reacionária" e lança esforços para recrutar pessoas identificadas com o nacionalismo branco nos EUA. Para a associação, a real bandeira do Tea Party está relacionada ao nacionalismo e a raça.
Bem, até aí nada de surpreendente, nem mesmo o fascismo escancarado do Tea Party. Também não surpreende a obsessão dos membros do Tea Party com a certidão de nascimento do Obama e a defesa da tese de que o presidente não é um legítimo americano, conforme expõe o mesmo relatório.
Mas talvez cause alguma surpresa o fato de David Duke, durante muito tempo líder da organização Ku Klux Klan, estar buscando apoio financeiro para se lançar nas prévias do Partido Republicano em 2012. Digo 'alguma surpresa', pois Duke já concorreu nas prévias dos Democratas em 1988 e dos Republicanos em 1992.
Entretanto, o espantoso no relatório é o fato de que o Tea Party já está movimentando uma rede multi-milionária composta por grandes empresas, organizações não partidárias e comitês políticos que já "reverteu a vantagem que os Democratas tinham na captação de recursos financeiros e na mobilização via internet."
Ainda, segundo a NAACP "eles reanimaram a ala ultra-conservadora da política americana, criaram um pólo forte de opiniões dentro do Partido Republicano, e têm conseguido um impacto devastador sobre as políticas e sobre o pensamento político relacionado ao bem-comum."
Em setembro de 2009, o Viomundo publicou um post de Sara Robinson, no qual ela alertava para a ascensão do fascismo nos EUA. Robinson identificava, com base no trabalho do historiador Robert Paxton, em qual estágio o fascismo americano se encontrava, e chegava na perturbadora conclusão de que, uma vez consolidada a aliança entre uma elite capitalista e uma "tropa de choque" de extrema-direita, nada mais poderia deter uma ascensão fascista e sua chegada ao poder.
E não é outra a leitura que se pode extrair do recente relatório da NAACP: o Tea Party, a "tropa de choque" da extrema direita, já consolidou uma perigosa associação com uma elite capitalista, e essa associação viabiliza o surgimento de um neofascismo com poder econômico, forte penetração e adesão social e de grande força política na mais poderosa nação do mundo.
Recuperando a conclusão de Robinson naquele post do Viomundo: "Chegamos. Estamos estacionados exatamente no lugar onde nossos melhores especialistas dizem que o fascismo nasce. Todos os dias que os conservadores no Congresso, os comentaristas de extrema-direita e seus barulhentos seguidores conseguem segurar nossa capacidade de governar o país, é mais um dia em que caminhamos em direção à linha final, da qual nenhum país, mostra a História, conseguiu retornar."
Bem, se algo semelhante ocorrer no Brasil no futuro, mesmo que em uma escala menor, os historiadores poderão olhar para o ano de 2010 e identificar, com relativa facilidade, o "momento" em que as forças dispersas de nossa extrema-direita, composta por militares de pijama, neonazistas e fundamentalistas religiosos, começaram a ganhar corpo e voz e a produzir um discurso comum e externar seu ódio e sua intolerância com algum grau de adesão social.
O nosso "fascismo à brasileira", como diria o Nassif, encontrou na campanha de José Serra a chance de alguma ascensão, e pode, perigosamente, resistir e se fortalecer mesmo com a eleição de Dilma no dia 31 de outubro. Nossa extrema-direita saiu do armário e mostrou força: pautou o discurso do Serra e provocou recuos no discurso da Dilma. Tomou gosto pelo direito de se manifestar, veio forte e pode querer ficar.
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