Por Alfredo Junqueira e Roberta Pennafort, de O Estado de S. Paulo, estadao.com.br, Atualizado: 4/6/2011 15:31
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar invadiu na noite de sexta-feira e madrugada deste sábado, por volta das 6 horas, o Quartel Geral dos Bombeiros do Rio, no Centro, para reprimir o protesto de mil bombeiros que ocupavam, desde a noite anterior, a unidade. Com o uso de explosivos, os homens do Bope botaram abaixo o portão dos fundos do quartel e entraram detonando bombas de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral. Houve muito tumulto e rajadas de tiros.
Os bombeiros tomaram o quartel geral da corporação para reivindicar aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho. De acordo com a PM, foram presos 439 manifestantes. O grupo decidiu entrar em greve de fome depois que foi levado para o Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica. De acordo com o governador Sérgio Cabral (PMDB), todos vão responder a processos criminais e administrativos. É possível que sejam demitidos da corporação.
'Foi uma atitude irresponsável, intolerável e abominável', disse Cabral, que chamou os 439 presos de vândalos e anunciou a demissão do comandante-geral da corporação, coronel-bombeiro Pedro Marco Cruz Machado. Em seu lugar, será nomeado o coronel-bombeiro Sérgio Simões.
Mulheres e crianças que acompanhavam a manifestação ficaram feridas depois da invasão do Bope. Pelo menos cinco meninos foram levados para o Hospital Souza Aguiar, vizinho ao quartel ocupado, atordoados com as bombas. Eles foram atendidos e liberados. Uma mulher identificada Cléa Borges Menegueli, 27 anos, casada com um salva-vidas de Rio das Ostras, estava grávida e sofreu um aborto durante o confronto. Ela foi levada para o Hospital dos Bombeiros.
Apesar de haver bombeiros armados no local, os manifestantes não resistiram à ação da PM. Além do Bope, também participaram da operação o Batalhão de Choque, o Regimento de Cavalaria e a Companhia de Cães. Deputados estaduais e integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) afirmaram que a ação da PM foi truculenta e exagerada.
'Foi terrível o que aconteceu lá dentro. O Bope invadiu por trás, jogando bombas de gás e disparando balas de verdade. Tem carros dos bombeiros lá dentro arrebentados a bala', disse a deputada Janira Rocha (PSOL), que permaneceu ao lado dos manifestantes durante a madrugada. 'Se os bombeiros não estivessem em movimento pacífico e ordeiro poderia ter ocorrido uma tragédia', afirmou a parlamentar, exibindo cápsulas deflagradas de fuzil e pedaços de bomba de efeito moral.
Inicialmente, os bombeiros presos foram levados para a sede do Batalhão de Choque da PM. Um grupo de manifestantes que não foi detido reuniu-se do lado de fora do quartel e voltou a protestar. Houve tensão e a cavalaria da PM tentou isolar a nova manifestação. O grupo, que reunia cerca de 100 pessoas, gritava palavra de ordens contra o governador, o então comandante-geral da corporação e a Polícia. Eles também cantaram o Hino Nacional e o dos bombeiros.
Cabral permaneceu a manhã reunido no Palácio Guanabara com o seu vice, Luiz Fernando Pezão, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e outros integrantes da cúpula do governo. Depois do encontro, que durou mais de quatro horas, o governador deu uma curta entrevista coletiva em que negou que os bombeiros do Rio recebam o pior salário do Brasil e que a polícia tenha agido com excesso de força para expulsar os manifestantes do quartel-central da corporação.
'A ação foi equilibrada, estrategicamente estabelecida, para que, graças a Deus, não houvesse nenhuma vítima fatal', afirmou Cabral. 'Os bombeiros foram longe demais, passaram dos limites do aceitável. Não merecem estar nessa instituição. Serão depostos. Responderão criminalmente e administrativamente por isso', informou o governador.
Colaboraram Irany Tereza e Alessandra Saraiva
Um comentário:
Por que o ato dos bombeiros cria um precedente perigoso
Os bombeiros assim como qualquer categoria têm o direito de pedir melhoria salarial, ocorre que por servirem junto com a PM, sob regime militar, lhes é vetado o direto à greve. Nos últimos dias o que tenho visto no Rio é um circo. Uma categoria que vem sendo “doutrinada” por políticos faz meses, chega ao ponto de rasgar sua lei militar, invadir um quartel, ocupar e inutilizar viaturas.
Ora, isso é inadmissível em um estado de direito. Imaginemos se médicos decidem fazer greve, invadir hospitais, furar pneu das ambulâncias e trancar as portas; E se um dia policiais em greve ocuparem os presídios e ameaçarem soltar os presos? Não obstante, teríamos ainda a possibilidade de Soldados do exército em greve, colocarem tanques para obstruir vias. Pergunto: Onde a sociedade vai parar? É esse o precedente que a sociedade deseja abrir com os bombeiros?
Para que não corramos esse risco há uma legislação militar que rege as FFA, Bombeiros e a PM. Independente de qualquer pleito salarial, ela tem de ser respeitada. No momento em que a sociedade permitir que essa lei seja ignorada, estará pondo em risco sua própria ordem.
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