viomundo - publicado em 2 de agosto de 2012 às 16:42
Foto Wikipedia
por José Coutinho Júnior, da Página do MST
A publicidade empregada pelas empresas do
agronegócio em relação às sementes transgênicas sempre foi sustentada
numa suposta diminuição do uso dos agrotóxicos sobre as lavouras
brasileiras a partir dessa tecnologia.
Entretanto, como era de se esperar – uma vez que as mesmas empresas
produtoras das sementes geneticamente modificadas são as mesmas
produtoras dos venenos agrícolas –, ao mesmo tempo em que houve um boom
da utilização das sementes transgênicas na agricultura brasileira,
houve, em contrapartida, um vertiginoso aumento da quantidade de
agrotóxicos utilizados para essa produção, sem que a área cultivada
crescesse a ponto de justificar esse descompasso.
Em entrevista à Página do MST, o engenheiro agrônomo Rubens Nodari comenta os fatores dessa relação e revela a ineficácia dos transgênicos: “O custo da lavoura transgênica, na verdade, vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas para depois matar essas plantas resistentes”.
Rubens Nodari é engenheiro agrônomo, cientista, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e ex-membro da CTN-Bio (Comissão Nacional de Biotecnologia). É considerado um dos maiores especialistas de transgênicos do país.
Em entrevista à Página do MST, o engenheiro agrônomo Rubens Nodari comenta os fatores dessa relação e revela a ineficácia dos transgênicos: “O custo da lavoura transgênica, na verdade, vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas para depois matar essas plantas resistentes”.
Rubens Nodari é engenheiro agrônomo, cientista, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e ex-membro da CTN-Bio (Comissão Nacional de Biotecnologia). É considerado um dos maiores especialistas de transgênicos do país.
Confira:
A área cultivada com grãos no Brasil cresceu menos de 19% —
foi de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares –, mas o consumo médio
de agrotóxicos, que em 2005 era pouco superior a 7 quilos por hectare,
passou a 10,1 quilos em 2011 – um aumento de 43,2%. O que explica esse
aumento?
Bom, são dois cenários possíveis. O primeiro é que
algumas plantas são mais resistentes aos agrotóxicos. Isso é um fenômeno
mundial, não é só no Brasil. Nos Estados Unidos, a última safra da soja
teve uma epidemia de plantas resistentes a herbicidas, principalmente
ao glifosato.
No Brasil, nós já temos documentado várias plantas que se tornaram
resistentes ou estão se tornando resistentes aos agrotóxicos. Então o
agricultor, ao invés de usar apenas uma aplicação de agrotóxico, como é o
caso da recomendação da empresa quando ela registra seu produto, os
agricultores aumentam a dose, o número de aplicações, ou ambas.
Com a introdução da soja transgênica, o número de variedades diminuiu
e sempre que há menor diversidade genética em cultivo, se uma doença
ataca uma daquelas variedades, vai atacar numa maior área. Então também
são utilizados outros agrotóxicos, como é o caso dos fungicidas,
especialmente no caso mais recente da ferrugem asiática.
A lavoura de soja, sozinha, é responsável por 48% de todos os agrotóxicos vendidos no Brasil. Por quê?
Porque a soja é a cultura que utiliza a maior área de cultivo no país
hoje. Além disso, a maior parte da soja é cultivada em médias ou
grandes propriedades nas quais se usa o pacote químico completo:
sementes transgênicas, inseticidas, herbicidas e fungicidas, pois a soja
é uma leguminosa muito vulnerável a doenças e pragas.
O que faz com que as plantas se tornem resistentes ao uso de agrotóxicos?
Ocorre que existe variabilidade genética nas plantas chamadas
impropriamente de “daninhas” à lavoura, que vivem na área de cultivo e
teriam de morrer com a aplicação dos venenos.
Algumas plantas, por serem mais resistentes, não morrem e vão
deixando sementes. Depois de um tempo, existe uma grande quantidade de
plantas resistentes aos venenos. Essa resistência chega num ponto em que
as plantas continuam vivas, mesmo que se aplique o mesmo veneno mais
vezes ou aumente a quantidade de princípio ativo na área.
O que faz a soja transgênica mais cara?
Bom, em primeiro lugar você tem o custo da semente. A transgênica é
muito mais cara do que a convencional, porque há uma patente associada à
venda dessa soja transgênica. Essa patente dá o direito à empresa que
tem a semente de cobrar royalties, o que eleva o preço da semente
transgênica.
Em segundo lugar, se existe uma área em que ocorre manejo e rotação
de cultivo, é preciso de pouco herbicida para controlar as plantas
“daninhas” que aparecem na área.
Enquanto quem usa o transgênico acaba utilizando mais herbicida,
muitas vezes aplicando preventivamente ou até várias vezes o veneno. Há
também relatos na literatura científica de que plantas transgênicas são
mais suscetíveis a ataques, então a intensidade do ataque e do fator
doença é maior na soja transgênica, o que leva à aplicação de outros
agrotóxicos, como os fungicidas.
Países europeus e asiáticos compram do Brasil, em média, 5
milhões de toneladas do grão e 6,5 milhões de toneladas de farelo de
soja convencional. Se há mercado para a soja convencional, por que a
soja transgênica é predominante?
Foram feitos alguns estudos entre agricultores e ela predomina pela
facilidade do manejo, ou seja, para uma grande propriedade, os
fazendeiros acham que é melhor ter menos funcionários, pois isso
diminuiria o custo de produção.
Nesse sentido a soja transgênica facilita, pois com poucas pessoas é
possível plantar, e muitas vezes o mesmo funcionário que maneja a
semeadeira, depois maneja o pulverizador, que aplica o glifosato.
É isso que atrai na soja transgênica: mesmo pagando um pouco mais, os
agricultores acreditam que facilita o manejo, então eles pagam o preço
por essa maior facilidade.
Mas essa facilidade é de curto prazo, porque no longo prazo esse modo
de cultivo vai criando plantas resistentes, que vão demandar o uso de
outros herbicidas. O custo da lavoura transgênica, na verdade, vai ser
mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão
ter quer usar outros herbicidas pra depois matar essas plantas
resistentes.
Os critérios que consideram uma lavoura de soja natural são
muito rígidos. É fácil uma safra convencional de soja ser contaminada
por uma transgênica?
Isso vai depender do manejo e do isolamento das lavouras dos
agricultores. Por exemplo, o pólen da soja transgênica não vai longe,
ele vai até uns 10 metros, entretanto uma semente de soja transgênica ou
um grão podem ir a centenas de metros ou quilômetros, porque ele pode
ser levado por animais a longas distâncias.
Se um agricultor usa só semente orgânica, por garantia, ele teria que
ter uma distância bem maior, eu recomendaria pelo menos mais de 100
metros de isolamento para evitar a contaminação.
E também esse agricultor não deve usar equipamentos de outros
agricultores, ele tem que ter seu próprio equipamento, porque se alguém
usa uma máquina de colher soja transgênica antes de colher uma lavoura
de soja orgânica, aí vai dar mistura de sementes. O mesmo vale para
caminhões que transportam, os silos, ou seja, tudo que facilita a
mistura da semente pode causar contaminação.
Existe alguma área na qual haja essa distância de 100 metros?
Não, isso é recomendação minha. Normalmente é recomendado 10, 20
metros. Eu acho muito pouco, porque sempre tem uma ave, um animal que
carrega semente pra cá e pra lá… a não ser que o vizinho também plante
orgânica, aí tudo bem.
Às vezes me pergunto em que mundo esse pessoal está? Sinceramente alguém acreditou nessa balela dos transgênicos?
São grandes empresas que gastam com o desenvolvimento das sementes (até variantes "terminator" foram criadas para forçar a compra pelos produtores) e se pensava que eles estavam fazendo isso pelo bem da humanidade? Menos, muito menos...
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