"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, agosto 03, 2012

Rubens Nodari: Em vez de reduzir, transgênicos aumentam consumo de agrotóxicos

viomundo - publicado em 2 de agosto de 2012 às 16:42


Foto Wikipedia
por José Coutinho Júnior, da Página do MST
A publicidade empregada pelas empresas do agronegócio em relação às sementes transgênicas sempre foi  sustentada numa suposta diminuição do uso dos agrotóxicos sobre as lavouras brasileiras a partir dessa tecnologia.
Entretanto, como era de se esperar  – uma vez que as mesmas empresas produtoras das sementes geneticamente modificadas são as mesmas produtoras dos venenos agrícolas –, ao mesmo tempo em que houve um boom da utilização das sementes transgênicas na agricultura brasileira, houve, em contrapartida, um vertiginoso aumento da quantidade de agrotóxicos utilizados para essa produção, sem que a área cultivada crescesse a ponto de justificar esse descompasso.
Em entrevista à Página do MST, o engenheiro agrônomo Rubens Nodari comenta os fatores dessa relação e revela a ineficácia dos transgênicos: “O custo da lavoura transgênica, na verdade, vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas para depois matar essas plantas resistentes”.
Rubens Nodari é engenheiro agrônomo, cientista, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e  ex-membro da CTN-Bio (Comissão Nacional de Biotecnologia).  É considerado um dos maiores especialistas de transgênicos do país.
Confira:
A área cultivada com grãos no Brasil cresceu menos de 19% — foi de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares –, mas o consumo médio de agrotóxicos, que em 2005 era pouco superior a 7 quilos por hectare, passou a 10,1 quilos em 2011 – um aumento de 43,2%. O que explica esse aumento?
Bom, são dois cenários possíveis. O primeiro é que algumas plantas são mais resistentes aos agrotóxicos. Isso é um fenômeno mundial, não é só no Brasil. Nos Estados Unidos, a última safra da soja teve uma epidemia de plantas resistentes a herbicidas, principalmente ao glifosato.
No Brasil, nós já temos documentado várias plantas que se tornaram resistentes ou estão se tornando resistentes aos agrotóxicos. Então o agricultor, ao invés de usar apenas uma aplicação de agrotóxico, como é o caso da recomendação da empresa quando ela registra seu produto, os agricultores aumentam a dose, o número de aplicações, ou ambas.
Com a introdução da soja transgênica, o número de variedades diminuiu e sempre que há menor diversidade genética em cultivo, se uma doença ataca uma daquelas variedades, vai atacar numa maior área. Então também são utilizados outros agrotóxicos, como é o caso dos fungicidas, especialmente no caso mais recente da ferrugem asiática.
A lavoura de soja, sozinha, é responsável por 48% de todos os agrotóxicos vendidos no Brasil. Por quê?
Porque a soja é a cultura que utiliza a maior área de cultivo no país hoje.  Além disso, a maior parte da soja é cultivada em médias ou grandes propriedades nas quais se usa o pacote químico completo: sementes transgênicas, inseticidas, herbicidas e fungicidas, pois a soja é uma leguminosa muito vulnerável a doenças e pragas.
O que faz com que as plantas se tornem resistentes ao uso de agrotóxicos?
Ocorre que existe variabilidade genética nas plantas chamadas impropriamente de “daninhas” à lavoura, que vivem na área de cultivo e teriam de morrer com a aplicação dos venenos.
Algumas plantas, por serem mais resistentes, não morrem e vão deixando sementes. Depois de um tempo, existe uma grande quantidade de plantas resistentes aos venenos. Essa resistência chega num ponto em que as plantas continuam vivas, mesmo que se aplique o mesmo veneno mais vezes ou aumente a quantidade de princípio ativo na área.
O que faz a soja transgênica mais cara?
Bom, em primeiro lugar você tem o custo da semente. A transgênica é muito mais cara do que a convencional, porque há uma patente associada à venda dessa soja transgênica. Essa patente dá o direito à empresa que tem a semente de cobrar royalties, o que eleva o preço da semente transgênica.
Em segundo lugar, se existe uma área em que ocorre manejo e rotação de cultivo, é preciso de pouco herbicida para controlar as plantas “daninhas” que aparecem na área.
Enquanto quem usa o transgênico acaba utilizando mais herbicida, muitas vezes aplicando preventivamente ou até várias vezes o veneno. Há também relatos na literatura científica de que plantas transgênicas são mais suscetíveis a ataques, então a intensidade do ataque e do fator doença é maior na soja transgênica, o que leva à aplicação de outros agrotóxicos, como os fungicidas.
Países europeus e asiáticos compram do Brasil, em média, 5 milhões de toneladas do grão e 6,5 milhões de toneladas de farelo de soja convencional.  Se há mercado para a soja convencional, por que a soja transgênica é predominante?
Foram feitos alguns estudos entre agricultores e ela predomina pela facilidade do manejo, ou seja, para uma grande propriedade, os fazendeiros acham que é melhor ter menos funcionários, pois isso diminuiria o custo de produção.
Nesse sentido a soja transgênica facilita, pois com poucas pessoas é possível plantar, e muitas vezes o mesmo funcionário que maneja a semeadeira, depois maneja o pulverizador, que aplica o glifosato.
É isso que atrai na soja transgênica: mesmo pagando um pouco mais, os agricultores acreditam que facilita o manejo, então eles pagam o preço por essa maior facilidade.
Mas essa facilidade é de curto prazo, porque no longo prazo esse modo de cultivo vai criando plantas resistentes, que vão demandar o uso de outros herbicidas. O custo da lavoura transgênica, na verdade, vai ser mais cara do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros herbicidas pra depois matar essas plantas resistentes.
Os critérios que consideram uma lavoura de soja natural são muito rígidos. É fácil uma safra convencional de soja ser contaminada por uma transgênica?
Isso vai depender do manejo e do isolamento das lavouras dos agricultores. Por exemplo, o pólen da soja transgênica não vai longe, ele vai até uns 10 metros, entretanto uma semente de soja transgênica ou um grão podem ir a centenas de metros ou quilômetros, porque ele pode ser levado por animais a longas distâncias.
Se um agricultor usa só semente orgânica, por garantia, ele teria que ter uma distância bem maior, eu recomendaria pelo menos mais de 100 metros de isolamento para evitar a contaminação.
E também esse agricultor não deve usar equipamentos de outros agricultores, ele tem que ter seu próprio equipamento, porque se alguém usa uma máquina de colher soja transgênica antes de colher uma lavoura de soja orgânica, aí vai dar mistura de sementes. O mesmo vale para caminhões que transportam, os silos, ou seja, tudo que facilita a mistura da semente pode causar contaminação.
Existe alguma área na qual haja essa distância de 100 metros?
Não, isso é recomendação minha. Normalmente é recomendado 10, 20 metros. Eu acho muito pouco, porque sempre tem uma ave, um animal que carrega semente pra cá e pra lá… a não ser que o vizinho também plante orgânica, aí tudo bem.


Às vezes me pergunto em que mundo esse pessoal está? Sinceramente alguém acreditou nessa balela dos transgênicos?
São grandes empresas que gastam com o desenvolvimento das sementes (até variantes "terminator" foram criadas para forçar a compra pelos produtores) e se pensava que eles estavam fazendo isso pelo bem da humanidade? Menos, muito menos... 

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