Enviado por luisnassif, ter, 25/09/2012 - 08:00
Autor:
Luis Nassif
Coluna Econômica
São significativas as semelhanças entre
os tempos atuais e o período pré-64, que levou à queda de Jango e ao
início do regime militar e mesmo o período 1954, que levou ao suicídio
de Getúlio Vargas.
Os tempos são outros, é verdade, e há
pelo menos duas diferenças fundamentais descartando a possibilidade de
um mesmo desfecho: uma economia sob controle e uma presidência exercida
na sua plenitude, sem vácuo de poder.
***
Tirando essas diferenças, a dança é a mesma.
A falta de perspectivas da oposição em
assumir o poder, ou em desenvolver um discurso propositivo, leva-a a
explorar caminhos não-eleitorais.
Parte-se, então, para duas estratégias de desestabilização – ambas em pacto com a chamada grande mídia.
Uma, a demonização dos personagens
políticos. Antes do seu suicídio, Vargas foi submetido a uma campanha
implacável, inclusive com ataques à sua honra pessoal – que, depois,
revelaram-se falsos.
No quadro atual, sem espaço para
criticar a presidente Dilma Rousseff, a mídia – especialmente a revista
Veja – move uma campanha implacável contra Lula. Chegou ao cúmulo de
ameaçar com uma entrevista supostamente gravada (e não divulgada) de
Marcos Valério, como se Valério tivesse qualquer credibilidade.
Surpreendente foi a participação de FHC,
em artigo no Estadão, sustentando que o julgamento do “mensalão” marca
uma nova era na política. Até agora, o único caso documentado de compra
de votos foi no episódio da votação da emenda da reeleição – que
beneficiou o próprio FHC.
***
A segunda estratégia tem sido a de
levantar o fantasma da guerra fria. Mesmo sabendo que Jango jamais foi
comunista (aliás, o personagem que mais admirava era o presidente
norte-americano John Kennedy) durante meses e meses levantou-se o
“perigo vermelho” como ameaça.
Grande intelectual, oposicionista,
membro da banda de música da UDN, em 1963 Afonso Arino escreveu um
artigo descrevendo o momento. Nele, mencionava o anacronismo de (em
1963!) se falar de guerra fria, logo depois de Kennedy e Kruschev terem
apertado as mãos. E dizia que, mesmo sendo anacronismo, esse tipo de
campanha acabaria levando à queda do governo pelo meio militar, devido à
falta de pulso de Jango, na condução do governo.
***
O modelo de atuação da velha mídia é o mesmo de 1964, com a diferença de que hoje em dia não há vácuo de poder, como com Jango.
Primeiro, buscam-se personalidades,
pessoas que detenham algum ativo público (como jornalistas,
intelectuais, artistas etc.). Depois, abre-se a demanda por
comentaristas ferozes. Para se habilitar à visibilidade ofertada, os
candidatos precisam se superar na ferocidade dos ataques.
Poetas esquecidos, críticos de música,
acadêmicos atrás de visibilidade, jornalistas, empenham-se em uma
batalha similar às arenas romanas, onde a vitória não será do mais
analítico, ponderado, sábio, mas do que souber melhor agredir o inimigo.
É a grande noite do cachorro louco, uma selvageria sem paralelo nas
últimas duas décadas.
Com sua postura de não se restringir ao
julgamento do “mensalão” em si, mas permitir provocações à presidente da
República e a partidos, o STF não cumpre seu papel.
Aliás, o STF do pós-golpe foi muito mais democrático do que o atual Supremo.
Esperemos que as análises não sejam tão apressadas. Afinal os dois lados estão cometendo erros pueris. Assim como Arinos deslizou ao considerar o aperto de mãos de Kennedy e Kruschev como fim da Guerra Fria (o Vietnã e diversos países latinoamericanos e africanos que o digam), desejo que os analistas da "esquerda" façam uso de argumentos coerentes e principalmente corretos nesse momento.
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