Vários trabalhadores da Renault, na França, se suicidaram num arco de tempo que remonta a fins de 2004. Entre as causas apontadas estariam a intensificação do trabalho e a pressão para atingir metas cada vez mais intangíveis.
Leia na seqüência reportagem de Anne-Charlotte de Langhe para o Le Figaro, 22-02-2007. A tradução é do Cepat.
Não "gerar ansiedade extra" e "preservar o ambiente de trabalho" de cada trabalhador: esta era a dupla ambição fixada pela Renault, ontem, depois do suicídio de um de seus empregados na fábrica. O terceiro num espaço de quatro meses; "o quarto desde o fim de 2004", afirma a CGT. "Cinco empregados do Centro Técnico de Guyancourt tentaram se matar em dois anos, quatro dos quais em seu local de trabalho", conta Michel Fontaine, secretário geral do sindicato na Renault. "Um deles está atualmente bem deficiente".
Em outubro de 2006 e janeiro último, dois homens que trabalham na elaboração dos futuros modelos da construtora subitamente se mataram no escritório, o primeiro saltando do 5º andar, o segundo se afogando num tanque. Segundo outro sindicalista, esses dois membros dos centros de estudos sofriam de um certo mal-estar profissional, ainda que tenham procurado fazer seus companheiros o entenderem. Antes de cometer o irreparável, um engenheiro sindicalizado tinha deixado em destaque na tela do computador o resumo de sua última entrevista com a direção.
Mesmo "apreciado por sua chefia", Raymond D., 38 anos, parecia ter atingido o fundo. Contratado como técnico, esse aplicado trabalhador teria explicado, numa carta deixada à sua esposa, "não suportar mais" o ritmo imposto pela empresa. Pai de um menino de 5 anos, morando em Saint-Cyr-l'Ecole, Raymond D. trabalhava há algum tempo no famoso "projeto 91": o da nova Laguna. "O top do top", insiste Michel Fontaine, da CGT. "Um veículo que não deve ter absolutamente nenhum defeito".
Segundo informações das organizações sindicais, os ocupantes da "Ruche", esse enorme prédio de vidro onde trabalham cinco mil dos 12.500 empregados da fábrica de Yvelines, estão há anos submetidos a "fortes pressões de rendimento". "Inicialmente, o Centro Técnico havia sido criado para que as pessoas trabalhassem harmoniosamente", lembra Michel Fontaine. "Depois, foi preciso agilizar cada vez mais: o tempo da realização dos estudos foi encurtado, e os objetivos, revistos para cima".
"Nunca à altura"
O que dá a alguns saudades do trabalho em equipe, marca de fábrica da empresa. "Aqui, vivemos num lugar fechado, isolado, ultra-seguro com câmaras em todos os lugares", conta um empregado. "Conheço quem nunca levanta o nariz de seu computador".
A Renault, por sua vez, insiste no fato de que os serviços implantados na planta modelo de Guyancourt - concepção, design, desenvolvimento, atelier protótipos - são sempre organizados em "unidades de trabalho de 10 a 12 pessoas" e que o sentimento de orgulho predomina na empresa. "Pessoais, sociais, profissionais: as causas do suicídio são plurais", indica uma porta-voz do grupo.
Enfim, sindicatos como a CFDT denunciam "a extrema pressão" exercida sobre os empregados no contexto da última meta em vigor, chamada de "Renault Contrat 2009" pelo presdiente, o brasileiro Carlos Ghosn: 26 modelos, 13 dos quais novos, devem ser lançados no mercado dentro de dois anos. Um "formidável instrumento de motivação", segundo o construtor. Para "persuadir os mais frágeis de que nunca estão à altura", afirma, ao contrário, a CGT.
Atualmente, a montadora convoca suas tropas ao apaziguamento, "bem remuneradas", ajudadas por uma célula de apoio médico-psicológico. A pesquisa preliminar aberta Ministério Público de Versailles, assim como os dois assuntos precedentes, esclarecerá provavelmente a justiça sobre as condições de trabalho de Raymond D. Em relação ao passado, "nenhum elemento nem infração" da parte do empregador pode ser encontrado.
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