As tensões vindas da China foram o gatilho para um violento movimento de aversão ao risco e de reversão de posições muito alavancadas que tomou dimensões surpreendentes mesmo para os mais experientes gestores de fundos. Um ajuste nessas proporções dificilmente passa ileso. Entre analistas ouvidos pelo Valor nem o mais otimista se arriscou a cravar que a correção já acabou. O mais provável, dizem, é que o mercado leve semanas para se recuperar. A reportagem é de Cristiane Perini Lucchesi e publicada no jornal Valor, 28-02-2007.
Para se ter uma idéia da dimensão do tombo, o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, chegou a cair 546 pontos, a maior desvalorização desde o dia seguinte aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, segundo a "Bloomberg". As quedas passaram de 4% durante o dia e cerca de US$ 600 bilhões deixaram o mercado acionário dos EUA. No fechamento, o Dow Jones caiu 3,29%.
A Bolsa de Valores de São Paulo acompanhou e recuou 6,63%, a maior desde 13 de setembro de 2001. Experientes dirigentes de bancos de investimento acreditam em impacto no mercado de emissões primárias de ações no país. O dólar subiu 1,72% contra o real, para R$ 2,12, e o risco Brasil medido pelo índice EMBI do JPMorgan subiu 9,34%, para 199 pontos básicos.
O forte estresse começou na China, em meio aos rumores de que o governo passaria a ser mais rigoroso com relação às práticas ilegais e regras de alavancagem para a compra de ações. O aumento nos depósitos compulsórios chineses provocou um outro susto nos mercados, pois pode significar crescimento menor no país. O tombo na bolsa de Xangai foi o maior em uma década, de 9,2%. As bolsas asiáticas abriram o pregão desta quarta-feira em forte baixa. Às 22h de Brasília, o índice Nikkei, de Tóquio encontrava-se em queda de 3,6%. Em Seul, a retração era de 3,3%.
O discurso do ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, ajudou a aumentar as preocupações dos investidores. Ele afirmou que os EUA podem entrar em recessão no final do ano. Além disso, o mercado imobiliário americano já vem mostrando um aumento de prêmios de risco de mais de 40 pontos básicos desde a sexta-feira. Os créditos de maior risco parecem ter sido especialmente afetados e estão contagiando as demais taxas do mercado imobiliário, contribuindo para a tensão.
A redução de 7,8% nas encomendas de bens duráveis americanos em janeiro assustaram o mercado e fizeram bancos revisarem para baixo sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto americano no primeiro trimestre deste ano. O Morgan Stanley, por exemplo, reduziu sua previsão para o PIB americano de 3% para 2%. Crescimento menor na China e EUA significa menor demanda para commodities, com impacto nas ações de empresas que vendem esses produtos.
Mas, o tombo só assumiu as proporções que assumiu por causa da forte alavancagem para comprar posições de maior risco dos investidores. Basicamente, os fundos de hedge, menos avessos ao risco, tomavam dinheiro emprestado em ienes, a juros de 0,5% ao ano, e comprava ativos de maior rendimento, de preferência ações - há quem falasse em bola especulativa na China, Índia, Rússia e Brasil -, moedas e títulos de dívida de emergentes.
Quando os investidores foram tentar vender esse ativos de risco, não encontraram comprador. "É como um pêndulo - quando você puxa demais para um só lado, ele volta para o outro lado com mais força também", compara Ricardo Amorim, analista para América Latina do WestLB. "As condições técnicas do mercado eram muito vulneráveis, pois o real estava muito apreciado e todos vendidos em dólar", disse John Welch, da Lehman Brothers.
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