"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 24/02/07

“Já que não saiu a Alca, vamos de álcool”. Bush deseja uma Opep do etanol na América Latina

A grande iniciativa que o presidente George W. Bush quer lançar no Brasil está sendo chamada de mercado hemisférico de etanol. A idéia, gestada dentro do Departamento de Estado, é expandir a produção de etanol em vários países da América Latina, principalmente no Caribe e na América Central, para garantir um fornecimento estável do biocombustível. Trata-se de uma Opep do etanol. Para isso, Brasil e Estados Unidos devem fechar parcerias, com participação da iniciativa privada, para instalar usinas de etanol em países da América Central. A notícia é do jornal O Estado de S.Paulo, 25-02-2007.

O homem-chave por trás dessa estratégia é Greg Manuel, conselheiro de Condoleezza Rice para assuntos internacionais de energia. Desde que entrou no Departamento de Estado, em outubro, ele esteve seis vezes no Brasil. Jovem, Manuel aposta em incubadoras e parcerias público-privadas para criar o mercado hemisférico de etanol.

“Já que não saiu a Alca, vamos de álcool”, diz Brian Dean, diretor-executivo da Comissão Interamericana de Etanol (CIE). Brian foi diretor da Florida FTAA, grupo que fazia o lobby para que os EUA fossem a sede da Alca. Agora, com a Alca natimorta, Dean cuida da CIE, cujos titulares são o ex-governador da Flórida Jeb Bush, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

A comissão, que se reúne regularmente com o Departamento de Estado, está fazendo um levantamento sobre produção de etanol e cana-de-açúcar nos diversos países da América Latina. Segundo Dean, países como Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e República Dominicana são bastante promissores para abrigar usinas e expandir a produção de etanol.

Manuel não detalha muito o plano de parceria de etanol que será apresentado na viagem de Bush. Mas, a interlocutores, afirmou que o foco é a expansão regional da produção, com muita participação do setor privado. Ele mencionou também a possibilidade de parcerias público-privadas para investimento em infra-estrutura de etanol no Brasil, como alcooldutos e investimentos cruzados nos dois países.

“É uma enorme oportunidade. O hemisfério ocidental gasta 7,2% de seu PIB importando petróleo e alguns países são muito vulneráveis, como a República Dominicana, que gasta quase 20% de tudo o que produz importando petróleo”, diz Manuel. “Isso não é sustentável, todos esses países precisam investir em sua produção doméstica.” Segundo ele, do ponto de vista geopolítico, “é importantíssimo” diversificar as fontes de fornecimento de energia. “É importante ter como fonte de fornecimento todos os nossos amigos no exterior, e esses nossos amigos também sofrem, eles nem sempre têm a petrodiplomacia a seu favor.”

Juntos, Brasil e EUA produzem 72% do etanol mundial. A grande reivindicação brasileira sempre foi a abertura do mercado americano ao biocombustível brasileiro. Hoje, o etanol do Brasil paga imposto de importação de US$ 0,54 por galão. Mas uma redução na tarifa não será oferecida por Bush em março. “As tarifas não estão sobre a mesa de negociações”, disse Manuel. “Muitos países com os quais estamos falando sobre esse mercado global vêem o acesso ao mercado americano como uma vantagem adicional, não uma condição essencial; mesmo sem acesso ao mercado americano, há muitas oportunidades.”

A discussão de retirada de tarifas não é factível politicamente neste momento, por causa do forte lobby dos produtores de milho e o enfraquecimento dos republicanos no Congresso. Mas, a longo prazo, os americanos querem expandir as fontes de fornecimento de etanol, porque sabem que a produção doméstica de milho não vai dar conta da demanda e o etanol celulósico vai levar pelo menos uma década para ser viável economicamente. Bush estabeleceu a meta de reduzir o consumo de gasolina em 20% até 2017, o que significa um aumento de 132,4 bilhões de litros de combustíveis alternativos. Hoje em dia, a produção americana de etanol (de milho) é de 20,4 bilhões de litros.

Dentro da parceria energética, Bush e Condoleezza também vão discutir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cooperação em pesquisa e desenvolvimento, para aumentar a produtividade das lavouras e criar grãos geneticamente modificados mais adequados para produção de etanol. E ainda devem debater a uniformização de normas para a criação do mercado de commodities energéticas.

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