Empresas estrangeiras do setor industrial enviaram às matrizes US$ 3,6 bi de janeiro a maio, 65,8% a mais que no mesmo período de 2006 . Atividades de metalurgia e automobilística lideram o ranking, com envios de US$ 1,465 bilhão nos cinco primeiros meses do ano. A reportagem é de Cláudia Trevisan para a Folha de S.Paulo, 07-07-2007.
As empresas estrangeiras que atuam no setor industrial brasileiro ampliaram em 65,8% o valor de lucros e dividendos que enviaram ao exterior neste ano, enquanto encolheram as remessas das companhias de serviços, justamente as que concentram a maior quantidade de IED (Investimento Estrangeiro Direto) no país.
Os setores campeões no envio de lucros ao exterior foram o de metalurgia básica, que inclui siderurgia, e o automotivo, que deve ter recorde de vendas neste ano. Juntos, os dois segmentos responderam por 27% das remessas até maio - o equivalente US$ 1,465 bilhão.
Apesar das queixas da indústria em relação à perda de competitividade externa provocada pela valorização do real, o setor tem registrado participação no envio de lucros e dividendos bem superior à sua fatia no recebimento de IED. Nos cinco primeiros meses do ano, a indústria remeteu US$ 3,6 bilhões, o equivalente a 66,1% do total. No mesmo período, o setor recebeu 37% dos US$ 10,68 bilhões de investimentos que entraram no país (valores brutos, sem desconto dos investimentos brasileiros realizados no exterior).
A mesma discrepância ocorreu no ano passado, quando o setor industrial foi responsável por 52% das remessas, apesar de ter recebido 38,5% do IED que entrou no país. O segmento de serviços ficou com 54,5% dos investimentos e 46% das remessas. O restante foi ocupado por atividades agropecuárias e extrativistas.
A principal explicação dos economistas para o grande peso da indústria nas remessas é o fato de esses investimentos serem mais antigos que os realizados no setor de serviços. Com presença consolidada, são empresas que precisam reinvestir menos para garantir sua presença no mercado, dizem.
"A participação estrangeira nos serviços é mais recente, posterior às privatizações, e ainda está se expandindo", observa Edgar Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). A indústria automobilística, por exemplo, começou a se instalar no Brasil há cinco décadas. A de alimentos, que aumentou suas remessas em 100,4%, é outra com longa presença no país.
Além disso, parte do investimento está concentrada em setores que vêm apresentando boa rentabilidade, ressalta o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Se reduz a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, a valorização do real também aumenta os lucros das empresas estrangeiras em dólares, o que é outro fator de estímulo às remessas.
O economista Alexander Xavier, especializado em contas externas, diz que houve um boom na remessa de lucros em 2006, com US$ 11,54 bilhões enviados às matrizes pelas empresas estrangeiras instaladas no país, uma alta de 27,3% em relação a 2005.
No período de janeiro a maio de 2007 houve novo aumento: as remessas somaram US$ 5,45 bilhões, 24% acima do valor registrado em igual período do ano passado. Esses valores excluem as operações inferiores a US$ 1 milhão, que são desconsideradas pelo Banco Central na divisão das operações por setores da economia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário