Milton Santos, um dos mais importantes pensadores sobre o território brasileiro, teve uma parte de sua obra transformada em documentário pelo diretor de cinema Silvio Tendler. “Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá”, merece mérito pela preciosidade do registro, o último antes da morte de Milton, em 2001. Mas não apenas por isso. Para Tendler, o documentário traz a discussão sobre um mundo do ponto de vista dos pobres que procuram alternativas para o mundo como ele é hoje. A reportagem é de André Gardini e publicada pela página http://www.comciencia.com.br/ 5-07-2007.
O documentário de 89 minutos, vencedor na categoria Júri Popular no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2006, será lançado no dia 17 de agosto em cinco capitais do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre. Para Milton Santos, essas cinco capitais fazem parte da Região Concentrada, que abrange os estados da região Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo), os estados da região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás), tendo como pólo as metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro. Essa região se caracteriza pela modernização generalizada, onde os acréscimos de ciência e tecnologia se verificam de modo contínuo, pela intensa circulação interna e acentuada divisão territorial do trabalho. A nova proposta de regionalização para o território brasileiro de Milton Santos está no livro “O Brasil: território e sociedade no inicio do século XXI”, escrito juntamente com Maria Laura Silveira, professora de geografia da USP.
Tendler conta que a entrevista com o professor Milton Santos foi o ponto de partida e também sua principal referência. O documentário expõe um pensamento acerca da globalização e discute as distorções impostas aos países pobres que pagam injustamente pelo crescimento da economia dos países ricos e as conseqüências provenientes dessa lógica do capital, que amplia as diferenças ao invés de redistribuir as riquezas. “O lado de cá são os países do sul, explica o diretor. “Na verdade, para Milton a globalização tem características dos regimes totalitários como o nazismo e facismo, por isso ele a chamava de globaritalismo, que se refere a esse processo imposto pelas grandes empresas à humanidade”, explica Tendler, e completa, “Milton Santos é um dos pensadores oriundo do mundo do sul que pensou esse processo de globalização de um ponto de vista dos pobres”.
O documentário traz um pensamento pessimista do presente, mas uma visão otimista quando tenta mostrar as possibilidades de um novo mundo, também sinalizado pelo professor Milton Santos, onde a união entre as “novas técnicas” e “os de baixo” podem fazer um futuro mais distinto para a humanidade. Milton Santos é um intelectual que, por suas idéias e práticas, inspira o debate sobre a sociedade brasileira e a importância que a categoria território tem na construção desse novo mundo.
De acordo com informações da Agência Senado, onde o documentário foi lançado no último dia (19), no auditório Petrônio Portela do Senado Federal, no filme Milton Santos explica que a informação é o coração da globalização. É através dos sistemas de comunicação que as grandes empresas estabelecem atualmente os seus domínios. Mas é também através da comunicação que pode se dar a mudança rumo a um futuro mais humano. As novas tecnologias de informática-eletrônica, apropriadas, cada vez mais, por pequenos grupos, podem trazer à luz fatos antes conhecidos, e até mesmo desconhecidos pela maior parte das pessoas, sob um novo olhar, um novo ponto de vista.
O conceito de espaço e abordagem inovadora
A obra de Milton Santos traz uma nova proposta sobre o conceito de espaço. O território usado, que é sinônimo de Espaço Geográfico, deve ser estudado sobre a ótica das novas tecnologias, dos agentes hegemônicos e dos hegemonizados, da crescente fluidez que acelera os fluxos das grandes empresas ao mesmo tempo em que nega essa possibilidade para os homens mais pobres, que ele chamou de “os homens lentos”. Nessa abordagem o território adquire novas características para se tornar um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações.
De acordo com Milton, as velhas noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá estar dentro do próprio centro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou possível com o progresso tecnológico. Para contrapor-se à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Santos, a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da globalização.
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