Afinal, o semi-árido brasileiro precisa, efetivamente, das águas do Rio São Francisco? Esse é um dos pontos centrais de discussão, já que a transposição envolve volume considerável de recursos. O comentário é de Luís Nassif, jornalista, publicado no seu blog, 6-07-2007.
Ex-diretor regional do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e da CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba). Manoel Bomfim Ribeiro é um dos técnicos que afirma que o problema na região não é de falta de água.
Primeiro, as comparações de volume. Em sua opinião, são infundadas as críticas de que as águas desviadas prejudicarão o rio. Anualmente, o rio São Francisco despeja no Atlântico 100 bilhões de metros cúbicos de água. Apenas as diferenças pluviais, na sua bacia hidrográfica, variam de 10 a 20% , contra de 3 ou 5% que será transferido para o Nordeste.
O ponto central que coloca é que a transposição não é necessária, que a quantidade de água é irrisória, perto do que a região já possui. “O semi-árido não precisa das águas do São Francisco, nem do Tocantins , nem de rio nenhum”, diz ele. Todo o dinheiro investido na transposição permitirá transportar para o semi-árido apenas 26 m3 de água por segundo, ou 600 milhões de m3/ ano, chuva de um só noite caída no sertão, 3% do potencial volumétrico já existente nos açudes dos três estados.
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A base da água da região está nos açudes. A lógica do açude é ser um pólo hídrico. Através de tubos e adutoras ele deverá chegar às diversas regiões, distribuindo por vilas e cidades.
Em um desses típicos projetos brasileiros, construiu-se a maior rede de açudes do planeta, em regiões áridas. Mas faltou distribuição. Hoje em dia há diversos açudes, com 10, 40, 60, 100 milhões de metros cúbicos acumulados, construções caras e pesadas, que poderiam prestar serviços a muitas comunidades, dependendo apenas de um poço tubular, diz ele.
Na região, são 70 mil açudes de águas de superfície, entre públicos e particulares, com capacidade para acumular 37 bilhões de metros cúbicos de água – ou seja, mais de 1/3 do que o São Francisco despeja anualmente no Atlântico . 72% desse volume estão justamente nos estados que mais defendem a transposição, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Mesmo exagerando-se, supondo-se 60% de evaporação, restariam ainda dez bilhões acumulados, suficiente para atender a todos os usos exigidos pelo semi-árido nordestino.
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Além das águas de superfície, existem águas subterrâneas em diversas bacias sedimentares, como Tucano-Jatobá na Bahia, Moxotó em Pernambuco, Souza na Paraíba, Potiguar (25 mil km²) no Rio G. do Norte ,Gurguéia ( 58.000 mil km²) no Piauí. São grandes potenciais hídricos ainda inaproveitados e com volumes bem maiores que as águas de superfícies.
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A água do São Francisco irá correr por oito rios intermitentes, tornando-o perenes em um total de mil quilômetros. Se a influência hídrica for de 2,5 km para cada margem, serão cinco mil km2 atendidos, ou 0,5% do Polígono das Secas. “Mas vende-se a idéia de um banho de água no semi-árido”, diz Bomfim.
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