David Zylbersztajn, ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), foi um dos formuladores do programa emergencial de racionamento que impediu uma crise ainda mais grave no fornecimento de energia elétrica em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso. Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo e membro do Comitê Consultivo da União Européia para Projetos de Energia na América Latina, Zylbersztajn tem visão bastante crítica dos grandes projetos apontados como a saída para a crise de energia. Ele concedeu uma entrevista a Irany Tereza e que é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 10-07-2007.
Eis a entrevista.
O sinal verde para a construção das hidrelétricas do Rio Madeira dá mais tranqüilidade na prevenção de uma crise energética?
As hidrelétricas do Madeira, na melhor das hipóteses, começam a operar em cinco anos. Mesmo assim, com as turbinas entrando em funcionamento gradualmente. Não seria essa a solução para uma crise energética que se avizinha para 2010, 2011. Não refresca muito. Estão fazendo uma onda muito grande para uma oferta de 6 mil megawatts, que é menos da metade do fornecimento de Itaipu.
Mas, somando-se à alternativa nuclear, com Angra 3...
Angra 3 não se sustenta. Nem financeira nem temporalmente nem ambientalmente. Falar que a usina fica pronta em 2012 não existe, é enganação. O tempo médio de construção de uma usina dessas é de 116 meses. Ou seja, em menos de dez anos, Angra 3 não fica pronta. Além disso, seria necessário uma auditoria nesses custos. Normalmente, usinas nucleares estouram o orçamento em até oito vezes. Por isso, acho que temos de desconfiar dos valores que estão aí. Com R$ 10 bilhões, poderíamos fazer coisas melhores. Dava para construir quatro hidrelétricas com a mesma potência. Angra 3 também não é solução para curto prazo.
Qual seria a solução, então?
A solução é a eficiência energética, o investimento em fontes renováveis, a biomassa. A definição dos princípios do que tem de ser feito em licenciamento ambiental, para reduzir incertezas no curto prazo. A Petrobrás tem de cumprir o cronograma de gás natural. Por fim, o País tem de pressionar para que a Bolívia cumpra o cronograma de fornecimento de gás. Não existe 'o' projeto para livrar o Brasil de uma nova crise energética. Tudo ajuda, mas nenhum, isoladamente, é a solução.
Neste caso, não se inclui o projeto do Madeira? Temos outras alternativas também, como a geração eólica, a biomassa...
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