"Em tempo: "contar as garrafas" é uma expressão do PT profundo, coisa para iniciados. Significa a contagem do número de votos alcançados por cada tendência nas eleições internas. O presidente Lula tem até um especialista na contagem das garrafas. Um militante conhecido por Rochinha. No PT, diz-se que nunca erra. Nas contas feitas no Palácio do Planalto, a Articulação conseguiu entre 50% e 51% dos delegados municipais. Aliada a outras tendências, deve ficar com cerca de 57% do engradado". O artigo é de Raymundo Costa e publicado no jornal Valor, 31-07-2007.
Eis o artigo.
O PT contou as garrafas. A Articulação, a tendência de José Dirceu, Delúbio Soares e Sílvio Pereira, continua a dar as cartas no partido. Resta saber se manterá o mesmo padrão na gestão política e financeira que levou à crise de 2005. Poucos acreditam nisso, apesar de a acusação de "corrupção ética e programática" ter sumido dos documentos dos críticos dos antigos dirigentes. Na reta final da eleição dos delegados ao 3º Congresso Nacional, o que aflige o PT são as eleições municipais, em 2008, e a sucessão de Lula, em 2010.
Em tempo: "contar as garrafas" é uma expressão do PT profundo, coisa para iniciados. Significa a contagem do número de votos alcançados por cada tendência nas eleições internas. O presidente Lula tem até um especialista na contagem das garrafas. Um militante conhecido por Rochinha. No PT, diz-se que nunca erra. Nas contas feitas no Palácio do Planalto, a Articulação conseguiu entre 50% e 51% dos delegados municipais. Aliada a outras tendências, deve ficar com cerca de 57% do engradado.
A oposição ao antigo grupo dirigente conta as garrafas de modo diferente. Segundo o deputado Paulo Teixeira (SP), a soma dos grupos de Tarso Genro (20%), Arlindo Chinaglia (12%), Valter Pomar (6%), os irmãos Tatto (6%), Marta Suplicy (4%) e de outros menos falados chega a exatos 57%. Por meio de composição com setores da Articulação, a "Mensagem ao Partido" - título da tese de Genro - acredita poder constituir um novo campo hegemônico, transparente, capaz de romper com a "lógica do rolo compressor" da antiga maioria e "reconstituir a autoridade partidária na relação com o presidente da República e no enfrentamento das eleições de 2008 e de 2010".
É provável que o 3º Congresso, no final deste mês, antecipe a eleição para a escolha dos novos dirigentes do PT, que teriam mandato até 2009 e comandariam o partido nas eleições municipais. O difícil está sendo achar alguém para o lugar de Ricardo Berzoini, uma proeminência do ex-Campo Majoritário. O assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, tinha chances de juntar a maioria das garrafas, mas quebrou. O ministro Luiz Dulci também, só que ele não revela o menor apetite para trocar o do Planalto pelo PT.
O clima de tensão e os conchavos são naturais em todo período que antecede os congressos petistas. Mas seja qual for a configuração da nova maioria, o desafio do PT é desde já tentar compor e viabilizar ambições pessoais e partidárias em relação a 2008 e 2010. Elas estão soltas. Um caso exemplar é Minas Gerais. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, considera natural que ele seja o candidato ao governo estadual, em 2010, e o governador Aécio Neves, um tucano, o candidato a presidente da República. Mas para tanto, precisa que Patrus Ananias seja o candidato a prefeito de BH, ano que vem. E pressiona o PT a pressionar Lula a pressionar Patrus.
Ocorre que Patrus não considera tão natural assim a dobradinha Aécio-Pimentel. Comandante do Bolsa Família, o programa-vitrine do governo Lula, Patrus é carta no baralho do PT para a sucessão presidencial. Ele não diz que quer nem que não quer, e se mantém no jogo. Se for para a prefeitura, vira garrafa fora do engradado em 2010. Para o Planalto e para o governo de Minas.
Os dois grupos em disputa no PT também falam em reaproximação com os partidos do Bloco de Esquerda (PSB, PDT e PCdoB), que não querem mais ser tratados como garrafas de frigobar e planejam lançar candidaturas-chave em São Paulo, no Rio de Janeiro e Porto Alegre. Mas também não abrem mão dos próprios projetos, para os quais demandam outra vez a arbitragem de Lula. Porto Alegre é um bom exemplo.
O grupo de Tarso Genro, que juntou de Olívio Dutra a Dilma Roussef, esperava vencer com ampla maioria as primárias do Sul. Ficou com pouco mais de 40%, mas quer emplacar Miguel Rossetto como candidato a prefeito. O outro lado aposta as fichas na deputada Maria do Rosário.
Ninguém ainda levou em conta as garrafas da deputada Manoela D'Ávila (PCdoB), bem posicionada nas pesquisas, ou do deputado Beto Albuquerque (PSB), as alternativas do bloquinho. O que esperar quando o jogo for entre Ciro Gomes, Jaques Wagner, Marta Suplicy, Patrus ou até Aécio e Nelson Jobim? Difícil vai ser arrumar um contador para tantas garrafas.
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