A valorização excessiva e continuada da moeda nacional tem levado a uma reestruturação da indústria brasileira caracterizada pela substituição de bens intermediários fabricados internamente por bens importados. A análise é do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) em sua Carta n. 273, 18-08-2007, sobre a valorização da taxa de câmbio brasileira e seus impactos sobre a indústria no Brasil.
Eis a síntese da análise.
Um primeiro trabalho avaliou o grau de “desalinhamento” do Real em relação a uma cesta de moedas de países que representam 75% das transações comerciais (exportações + importações) brasileiras. No trabalho estimou-se qual seria a diferença entre a cotação da moeda nacional vigente no mercado de câmbio e a cotação que corresponderia aos chamados “fundamentos” determinantes da taxa de câmbio. A análise mostrou que desde o primeiro trimestre de 2005 a taxa de câmbio está sobre-valorizada em relação ao valor correspondente ao dos “fundamentos”.
Essa valorização excessiva e continuada da moeda nacional tem levado a uma reestruturação da indústria brasileira, caracterizada pela substituição de bens intermediários fabricados internamente por bens importados. Como resultado desse ajustamento, ampliou-se substancialmente a participação de insumos importados na produção doméstica, com conseqüente enfraquecimento dos elos intermediários das cadeias de produção. Também impulsionadas pela valorização do Real, cresceram de forma vertiginosa as importações de bens finais. A combinação desses dois processos tem levado à perda de participação da indústria no valor agregado da economia.
Como era de se esperar, esse ajuste da indústria à sobrevalorização cambial vem se refletindo no resultado da balança comercial brasileira. O saldo comercial da indústria de transformação caiu mais de 11% entre o primeiro semestre de 2007 e o mesmo período do ano anterior (U$ 13 bilhões e U$ 11,5 bilhões respectivamente).
O crescimento do saldo global da balança comercial nesse período deveu-se, essencialmente, ao comportamento das commodities brasileiras, impulsionadas pela demanda e preços internacionais favoráveis. De fato, segundo classificação do Banco Mundial, pode-se atribuir quase 80% do crescimento das exportações brasileiras ao desempenho dos bens primários e semi-elaborados (celulose, suco, açúcar, álcool e metalurgia, entre outros).
Visto sob o prisma da intensidade tecnológica, conforme critério adotado pela OCDE, o saldo da balança comercial da indústria mostra inequívocos sinais de deterioração. Os setores de alta intensidade vêm ampliando seu déficit comercial (U$ 6,9 bilhões no 1o semestre de 2007) e, pela primeira vez desde o primeiro semestre de 2004, os setores de média-alta intensidade tecnológica apresentaram déficit no saldo entre exportações e importações (U$ 3,3 bilhões).
A perda de participação da indústria no produto interno brasileiro não é nova, embora tenha se acentuado nos últimos anos. A comparação da trajetória brasileira com a de outros países emergentes é chocante e mostra os quantos se têm regredido em termos industriais em relação a nossos principais competidores.
O ajuste da indústria brasileira à persistente valorização da moeda nacional tem resultado em uma estrutura industrial menos compacta e mais dependente de fornecimento externo, especialmente nos setores de alta e média-alta intensidade tecnológica. Trata-se, em realidade, de uma inversão completa da vitoriosa estratégia de industrialização brasileira, duramente posta em prática ao longo de várias décadas. A que configuração de indústria nos levará a atual política é questão-chave na agenda do atual debate sobre os rumos do desenvolvimento econômico nacional.
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