Uma paralisação de trabalhadores latino-americanos e até uma greve de fome são as primeiras manifestações convocadas ontem contra a deportação da mexicana Elvira Arellano, 32, dos Estados Unidos. A reportagem é de Raul Juste Lores e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 22-08-2007.
Ela foi deportada no sábado, depois de passar um ano refugiada em uma igreja em Chicago para fugir da expulsão.
Mãe solteira de Saúl, 8, nascido nos EUA, Arellano se tornou ativista pelos direitos dos imigrantes. A revista "Time" a colocou na lista das "pessoas que fizeram diferença" em 2006.
Na semana passada, ela deixou a igreja para começar uma campanha no país para pedir uma reforma imigratória. A ativista tinha acabado de fazer um discurso em Los Angeles quando foi presa e deportada.
"Eles se apressaram em me deportar porque viram que eu ameaçava mobilizar e organizar nosso povo para lutar pela legalização", disse Arellano à agência Associated Press.
Como Saúl nasceu nos EUA, ele não pode ser deportado. Ele está com a mãe em Tijuana (México), mas voltará a Chicago, onde começa a cursar o terceiro ano do equivalente ao ensino fundamental americano em setembro, e vai morar na casa de sua madrinha, Emma Lozano.
Existem 12 milhões de imigrantes ilegais nos EUA, 80% dos quais mexicanos. Uma reforma imigratória que prometia criar um mecanismo para a regularização gradual dos que vivem no país há no mínimo cinco anos foi engavetada.
"O incidente chama atenção para o sofrimento de centenas de milhares de famílias de imigrantes que foram separadas por um sistema imigratório que não funciona", disse Ronald Blackburn-Moreno, presidente da Aspira, uma das maiores organizações hispânicas do país, em Washington.
"Não podemos aceitar essa separação em uma sociedade civilizada. Foram os republicanos que bloquearam a reforma imigratória, logo eles que dizem defender tanto os valores familiares", diz.
A Coalização 1º de Maio pediu que os imigrantes não trabalhem em 12 de setembro nem comprem nada em grandes lojas, como foi feito no ano passado em 1º de maio. Em 12 de setembro, outro ativista, Victor Toro, será julgado.
No mesmo dia, protestos estão marcados para Washington, Los Angeles e Albany, capital do Estado de Nova York, para pedir fim às deportações e uma reforma imigratória justa.
Em Nova York, uma greve de fome é organizada pelo movimento pacifista "Troops Out Now" (retirada das tropas já).
O movimento compara Arellano a Rosa Parks, a negra que foi detida quando se negou a ceder o seu assento em um ônibus a um passageiro branco nos EUA - detonador, nos anos 1950, do movimento pelos direitos civis dos negros.
O Ministério de Relações Exteriores do México criticou a atitude das autoridades americanas. Segundo a Chancelaria, a deportação não coincide com "o espírito e os termos estabelecidos pelos acordos bilaterais para repatriação segura e ordenada". Arellano disse que, durante sua prisão em um escritório da Imigração em Santa Ana, Califórnia, foi impedida de se reunir com representantes consulares mexicanos, diz a nota da Chancelaria.
O consulado mexicano pediu o adiamento da deportação de Arellano até segunda-feira para que fossem considerados outros argumentos jurídicos, mas teve o pedido negado.
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