A Marisol deu início a um processo de reestruturação operacional, com fechamento de duas fábricas em Santa Catarina e demissão de 800 funcionários entre junho e julho. A empresa, que sofre com a valorização do real nas exportações e com a concorrência mais acirrada dos importados no mercado nacional, pretende alterar a forma de produção, implantando o método "Lean Manufacturing", uma produção enxuta, originária da Toyota. A empresa acredita que a mudança trará "maior fluidez na produção, simplificação dos controles internos e redução dos volumes de produtos em processo e do tempo entre o pedido e a entrega do produto final." A reportagem é de Vanessa Jurgenfeld e publicada pelo jornal Valor, 20-08-2007.
A diretoria da empresa prefere não comentar a reestruturação. As informações que constam do balanço do segundo trimestre dão conta de que a indústria, uma das maiores fabricantes de roupas infanto-juvenis do país, colocou em curso um "abrangente programa de reestruturação operacional, que consiste na adequação da capacidade produtiva". Em Santa Catarina, de cinco fábricas, a empresa passa a operar três, tendo fechado as unidades de Massaranduba e Corupá, localizadas próximas à matriz, que fica em Jaraguá do Sul (SC). A empresa informou ainda que vai concentrar toda a fabricação "dos produtos mais suscetíveis a preços" em Pacatuba (CE), onde possui uma fábrica em operação, e que a produção de calçados será concentrada na unidade de Novo Hamburgo (RS).
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Têxteis de Jaraguá do Sul e região, Gildo Antônio Alves, disse que as demissões atingiram 806 pessoas, sendo 448 na matriz, 220 em Massaranduba e 138 em Corupá. Segundo ele, há comentários de que a Lunender, uma outra indústria têxtil da região, de menor porte, teria adquirido as instalações da Marisol. A Lunender foi procurada, mas preferiu não comentar o assunto. Alves disse que a Marisol apenas informou que o fechamento era necessário por conta da queda na lucratividade e que não houve alterações nas unidades de Schroeder e de Benedito Novo.
Segundo a Marisol, a economia anualizada será de R$ 9,2 milhões com folha de pagamento e encargos sociais, além dos ganhos de produtividade e daqueles decorrentes da redução dos gastos gerais. Já as despesas extraordinárias com a reestruturação foram calculadas em R$ 7,6 milhões dos quais 51,3% foram reconhecidos no segundo trimestre.
O diretor comercial da Marisol, Robson Amorim, diz que o resultado do segundo trimestre foi um "pouco abaixo das expectativas" e que mantém os planos de ser cada vez mais não só fabricante do setor têxtil, mas uma gestora de marcas e de canais de distribuição. Além da marca Marisol, possui as grifes Pakalolo, Mineral, Rosa Chá, Sais, Lilica Ripilica e Tigor T. Tigre.
Embora as vendas externas não sejam o principal foco de atuação da companhia (respondem por menos de 10% do faturamento), as vendas em reais ao exterior no segundo trimestre tiveram redução forte, de cerca de 30%, tendo sofrido não só com a valorização do real ante o dólar, mas também porque a empresa optou pela estratégia de parar com a fabricação para terceiros, que respondeu em 2006 pela metade de todas as suas exportações. Segundo Amorim, as margens dessas operações estavam muito apertadas por conta do câmbio, com a empresa preferindo apostar no mercado externo com outro enfoque: somente nas vendas dos seus próprios produtos, com uma rede de franqueados, que já somam 17 lojas. "Decidimos qualificar as vendas externas. É um trabalho mais lento e gradual vender apenas as nossas marcas, mas no longo prazo acreditamos em um bom resultado", disse.
O real valorizado foi apontado como problema no próprio mercado nacional, já que aumenta a concorrência dos importados. Em 2006, a Marisol relatou no demonstrativo financeiro a comercialização de produtos nacionais e importados com o uso não-autorizado das suas marcas infantis, importações subfaturadas e crescente prática da informalidade.
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