A decisão do governo federal de suspender o uso da multimistura vem causando polêmica. Depois de trinta anos usando o composto no combate à desnutrição no Brasil, o governo decidiu usar agora produtos industrializados. A multimistura, produzida com farelos de arroz e trigo, folha de mandioca e sementes de abóbora e gergelim, era uma das grandes esperanças para acabar com a desnutrição no país. A reportagem é da agência de notícias Chasque, 03-09-2007.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que a decisão está baseada em um parecer do Conselho Federal de Nutrição, que não aprova a multimistura. O Conselho alega que o composto contribui pouco para uma alimentação mais nutritiva, pois a quantidade misturada aos alimentos é muito pequena, cerca de 15 gramas. Além disso, os ácidos presentes em alguns farelos seriam prejudiciais à saúde.
Mas a pediatra Clara Takaki Brandão, criadora da fórmula, rebate as acusações. “Se o governo não quer usar, tem que provar porque não vai usar. Esse negócio de dizer que não tem comprovação científica não quer dizer nada. Comprovação científica não é tudo. Se não, com toda a comprovação científica que você tem do malefício do cigarro e do álcool, que são comercializados, eles seriam banidos do comércio brasileiro”, diz.
A multimistura foi levada para todo o país por meio da Pastoral da Criança e ajudou a reduzir drasticamente os índices de desnutrição infantil. Em 1984, a Unicef constatou um aumento de 220% no padrão de crescimento das crianças desnutridas. A pediatra destaca, ainda, outras vantagens do composto.
“Você geraria renda, emprego, você utilizaria um subproduto. Tanto o farelo quanto a folha da mandioca, que são desperdiçados, que têm um alto poder nutritivo. A Unesco esteve aqui no mês de agosto para ver in loco como era a fabricação disso, tal a quantidade de nutrientes que têm”, afirma.
A multimistura nunca foi adotada oficialmente pelo governo federal, razão pela qual o programa jamais dispôs de um orçamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário