Trabalhadores do setor de alimentos estão formulando um projeto de lei que reduz a jornada de trabalho da categoria de oito para seis horas. Entidades e sindicatos do setor estimam que o projeto já deve ser levado para avaliação no Congresso Nacional em Março de 2008. Os trabalhadores pretendem diminuir as horas trabalhadas a fim de reduzir o alto número de acidentes de trabalho e de invalidez na profissão. A reportagem é de Raquel Casiraghi e publicada pela Agência de Notícias Chasque, 3-10-2007.
A indústria do frango desponta atualmente como a líder de casos de Lesões por Esforços Repetitivos (LER), depressão e aposentadoria por invalidez. O setor já ultrapassou até mesmo os bancários, que registravam o maior número dos casos de doenças do trabalho. O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Criciúma (SC), Célio Alves Elias, afirma que as altas metas de produção exigidas hoje pelas empresas são as responsáveis pelas doenças.
O sindicalista também reclama das câmaras frias. Célio relata que é comum as empresas desrespeitarem o limite de 10ºC que está na legislação trabalhista e abaixarem ainda mais a temperatura das câmaras de corte. "Essas metas de produção estão trazendo sérios problemas aos trabalhadores. Imagina o trabalhador tendo que desossar de 4 a 5 coxas por minuto, de 6 a 7 peitos por minuto. Estamos montando um projeto-de-lei exigindo que a jornada de trabalho nas agroindústrias seja de seis e não de oito horas. Quanto maior o tempo exposto aos ritmos de trabalho e às temperaturas, menor a resistência física das pessoas", explica.
Os 2,5 mil trabalhadores do complexo agroindustrial da Cargill, em Santa Catarina, sofrem diretamente as conseqüências desse ritmo de trabalho. Desde que a multinacional Cargill comprou a Seara Alimentos em 2005, os funcionários reclamam do aumento do ritmo de trabalho e, conseqüentemente, de dores e de casos de doenças. Segundo dados do sindicato de Criciúma, cinco ex-funcionários da empresa já estão aposentados por invalidez. Entre as pessoas, está uma mulher de 36 anos que tenta recuperar o movimento das mãos por diferentes tratamentos, mas até o momento nenhum funcionou.
Além do trabalho exaustivo, Célio denuncia que a Cargill não paga os direitos trabalhistas e ainda tenta forjar os encaminhamentos para a Previdência Social. Em 2006, o sindicato denunciou a empresa no Ministério Público do Trabalho de Criciúma, que constatou irregularidades como a falta dos 20 minutos de intervalo a cada 1h 40min trabalhados. A empresa também encaminhava o trabalhador como auxílio-doença e não como acidente de trabalho, ficando assim livre de pagar os encargos sociais e o tratamento médico.
Apesar de o Ministério Público ter ganho a liminar que obriga a Cargill a cumprir com a legislação, a empresa ainda insiste em descumprir. "Nós temos casos aqui de que a empresa ainda está afastando como auxílio doença. A gente constata através dos exames médicos que os funcionários estão com lesão, síndromes, tendinite. Essas doenças são todas do trabalho. E a empresa ainda tenta não encaminhar esses trabalhadores corretamente", diz.
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