O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou, ontem, um dos generais a quem a esquerda brasileira mais se opôs no período da ditadura: o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici. Inimigo de todas as instituições ligadas aos Direitos Humanos no país, acusado de comandar "os anos negros" dos governos militares - 1969 a 1974, período em que a oposição aponta como o mais violento, em que mais se torturou no Brasil - Médici foi "absolvido" por Lula por ter assinado os documentos que permitiram a criação da Embrapa e também da Itaipu Binacional, que hoje é objeto de disputa com o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, que pressiona pela revisão do contrato com o Brasil. A reportagem é de Paulo de Tarso Lyra e publicada pelo jornal Valor, 24-04-2008.
A homenagem do presidente foi prestada ao general em solenidade que celebrou, ontem, 35 anos da Embrapa. O elogio ao general, que comandou também o chamado "milagre econômico brasileiro", ocorreu em meio a um discurso de lançamento do PAC da Embrapa. Lula ressaltou que Médici foi um dos homens que levaram o país a viver um dos momentos políticos mais críticos de sua história. Mas apontou a contradição: foi ele também quem criou a Embrapa e Itaipu.
"Em uma demonstração de que cada um de nós tem uma coisa boa para oferecer. Tem coisas ruins dentro da gente, e que nós não poderemos ficar julgando eternamente as pessoas por um gesto, ou dois gestos, sem compreender os outros gestos que as pessoas fizeram, que permitiram que o Brasil encontrasse o seu rumo", destacou o presidente. Para o presidente, "cada um de nós será julgado um dia. Cada um de nós será julgado por aquilo que fez, por aquilo que deixou de fazer, pelos nossos erros e pelos nossos acertos".
Antes de citar Médici, Lula elogiou o sucessor do general, o também gaúcho Ernesto Geisel. Em outras oportunidades, o presidente petista também já havia exaltado o responsável pela anistia política, como o "presidente que comandou o último grande período desenvolvimentista do país".
Ontem, repetiu a citação. "Por isso, é com muito orgulho que, de vez em quando as pessoas falam: o Lula defende, elogia o governo Geisel, o Lula elogia não sei das quantas e tal". De todos seus antecessores, o senador José Sarney (PMDB-AP) também recebe afagos de Lula. O presidente, diversas vezes, fez mea-culpa aos ataques desferidos contra a ferrovia Transamazônica. Na época da Constituinte, Lula disse que "era uma ferrovia que ligava o nada a lugar nenhum". Hoje, orgulha-se de dar continuidade às obras do pemedebista e aliado fiel do Senado.
Lula reconciliou-se até mesmo com o ex-presidente e atual senador por Alagoas, Fernando Collor. Filiado ao PTB, partido que integra a base de sustentação do governo no Congresso, Collor foi recebido, juntamente com a bancada de senadores de seu partido, no gabinete presidencial no primeiro semestre do ano passado. Na oportunidade, Lula e Collor - que sofreu impeachment - conversaram amenidades, como "qual era a posição da sua mesa quando você estava aqui". Lula disse que as divergências do passado eram algo que deveria ficar no passado. Só não teve elogio ainda para Fernando Henrique Cardoso.
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