A bomba discreta lançada pela Arábia Saudita
– os media não deram atenção à notícia
No dia 13 de Abril, em telegrama de Riyadh, a Reuters informou que o rei Abdullah, da Arábia Saudita, ordenara que as novas descobertas de petróleo fossem deixadas por explorar a fim de preservar para futuras gerações a riqueza petrolífera do maior exportador de petróleo do mundo.
"Quando houver alguma nova descoberta, disse-lhes, deixem-na no chão, com a graça de deus, nossos filhos precisam dela", declarou o rei Abdullah.
A capacidade de produção saudita anda à volta dos 11,3 milhões de barris por dia e prevê-se que seja aumentada para 12,5 milhões de b/d no próximo ano.
As observações do rei parecem confirmar uma declaração pronunciada no ano passado pelo ministro saudita do Petróleo, Ali al-Naimi, que, quando perguntado "Quão alta pode a sua produção chegar?" respondeu: "Bem, chegaremos aos 12,5 milhões de b/d e então veremos".
Apesar de o anúncio saudita ser uma verdadeira bomba, quase todos os jornais americanos ignoraram-no. Assim, decidimos colher uma amostra de opiniões de peritos para ver o que pensavam. Seguem-se os excertos:
Tom Petrie, vice presidente, Merrill Lynch:
"A citação do rei Abdullah fala-nos da realidade que está a emergir rapidamente a que chamo "pico prático do petróleo". Os sauditas em outros exportadores estão a por uma nova ênfase no prolongamento da exploração do petróleo e do ciclo de esgotamento. Isto deriva de uma consciência crescente dos desafios da maturidade dos recursos convencionais, bem como de uma ascensão do nacionalismo de recursos. Isto provavelmente resultará numa antecipação da ocorrência do pico da produção petrolífera global, antes do que muitos consumidores esperam".
Charles T. Maxwell, analista senior de energia, Weeden & Co:
"Se as reservas de petróleo da Arábia Saudita não se tornarem disponíveis para o mundo em anos futuros, para além da expansão que eles já assinalaram (para 12,5 milhões de barris/dia), então os constrangimentos geológicos da oferta que estamos a sentir em muitas outras partes do mundo irão fechar-se sobre nós mais cedo e mais severamente do que havíamos pensado anteriormente. Trata-se de uma grande mudança de politica. É uma mensagem poderosa. Isto torna a mensagem geológica muito mais decisiva".
Chris Skrebowski, editor da Petroleum Review:
"A declaração do rei Abdullah representa o selo final de aprovação sobre uma política saudita que está a emergir de restringir a produção a fim de poupar petróleo para futuras gerações. Em anos recentes os sauditas tem estado constantemente a gerir expectativas de capacidade futura num sentido descendente. Agora já ninguém fala em alcançar os 15 milhões de b/d. Se eles atingirem 12,5 milhões de b/d, enquanto mantêm 1-2 milhões de b/d como capacidade de "reserva", deveríamos planear para uma produção saudita de 9-11 milhões b/d no futuro previsível.
"Altos preços de petróleo e tesourarias cheias estão a dar aos países produtores a opção de maximizar o plateau de produção. Nunca conseguimos saber se estas decisões estão a ser ditadas pela geologia ou conduzidas por um imperativo político de 'poupar petróleo para gerações futuras'. Suspeito que se trate de uma mistura de ambos.
"Seja como for, há agora um vasto movimento dos exportadores de energia, incluindo a Rússia, Angola, Azerbaijão e Noruega, no sentido de restringir a expansão a fim de maximizar os fluxos do plateau. Se isto se estabelecer, então os abastecimentos globais atingirão um pico mais cedo do que a análise de projectos futuros indicaria".
Matt Simmons, presidente da Simmons & Co. International:
"Esta declaração do dirigente supremo da Arábia Saudita tem implicações de extremo alcance. Que o rei Abdullah instruísse agora os seus suditos a conservarem o petróleo que bombeiam e a pouparem algum para os filhos e netos dos sauditas de hoje é assunto da máxima profundidade.
"O rei Abdullah mostrou um sentido de compreensão que não se via no seu irmão, o rei Faisal que dirigiu o reino até o seu trágico assassinato. Assumindo que a sua saúde continua, ele pode conduzir com êxito a Arábia Saudita para um mundo pós Pico Petrolífero e criar uma sustentável riqueza tipo classe média para os 90% da Arábia Saudita que foram deixados para trás. O mundo deveria abençoar este pronunciamento inteligente. Trata-se de um reflexo do crepúsculo principiado nos campos de petróleo da Arábia uns poucos anos atrás".
Richard Nehring, presidente da Nerhingdatabase.com
"Este desenvolvimento faz parte do que denominei o "Plateau prudente". Alguns países chave com grandes reservas e recursos decidiram manter a produção aos níveis actuais — mas não aumentá-la. Isto é uma espada de dois gumes: você já não pode contar com estes países para aumentos, mas pode contar com eles para a base. Os Emirados Árabes Unidos e o Qatar provavelmente aderirão a esta mudança".
Jeffrey Rubin, economista chefe, CIBC World markets
"Um explicação muito mais plausível para o crescimento vacilante da produção e exportação saudita é que eles estão rapidamente a aproximar-se da produção máxima. Dadas as taxas ascendentes de consumo interno de petróleo, eles em breve estarão a exportar menos, não mais, petróleo bruto para os mercados mundiais.
"O ministro russo dos Recursos Naturais, Yuri Trutnev, disse que a produção e as exportações russas cairão este ano, pela primeira vez em uma década. Prevemos que as exportações da OPEP, da Rússia e do México declinarão realmente em 2,5 milhões de barris por dia entre esta data e 2012. Está longe de ser óbvio quem irá preencher este fosso da oferta, menos ainda em atender o necessário crescimento futuro da procura global de petróleo".
Jeremy Gilbert, engenheiro chefe de petróleo aposentado, BP
"Não faço ideia se havia uma escolha real a ser feita pelos sauditas. Talvez seja tudo 'manipulação', talvez tenha havido descobertas, mas houvesse alguma característica dos reservatórios que os tornassem muito difícil desenvolver, e faz sentido atrasar o desenvolvimento até haver tecnologia melhorada ou preços muito mais elevados; talvez seja a simples verdade básica — uma mercadoria muito rara.
"O que sei é que vários países no Golfo optaram há muito por operar os seus campos com taxas de esgotamento muito abaixo daquelas que uma companhia ocidental consideraria óptima, ou mesmo lógico. Taxas de esgotamento entre 1 e 2% ao ano não são incomuns nos Emirados Árabes Unidos. Os líderes locais têm dito repetidamente que sentem uma obrigação de preservar algum dos seus recursos naturais. Estes sentimentos devem ser intensificados quando a sua produção recente tem sido vendida em troca da US dólares, os quais depreciaram-se em 25% ou mais contra outras divisas fortes do mundo ao longo dos últimos quatro anos.
"Os países do Golfo, os quais outrora vieram em ajuda dos EUA, agora estão ou deliciados com os apuros americanos ou simplesmente não se importam. Eles não estão a fazer seja o que for para reduzir os preços mundiais do petróleo. Ao invés disso, eles estão em vias de maximizar as suas entradas económicas enquanto minimizam o esgotamento do seu único recurso natural".
Herman Franssen, presidente da International Energy Associates
“As observações do rei Abdullah reflectem o novo pensamento no Médio Oriente, em que o parlamento kuwaitiano também exprimiu a necessidade de estabilizar as exportações de petróleo. Preços mais elevados de petróleo permitirão aos produtores enfatizarem mais os investimentos internos do que aumentos de exportações. Todos os países do Golfo assistiram enormes crescimentos na procura interna de energia e combustível. Em 2015, o Irão poderá consumir tanto petróleo quanto exporta. As observações do rei significam que é melhor nós nos países industrializados começarmos a procurar outras soluções".
O original encontra-se em Peak Oil Review , Vol. 3, No. 16, 21/Abril/2008
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