O banqueiro Daniel Dantas está usando o seu depoimento à CPI das Escutas Telefônicas para se apresentar como vítima e para deixar implícito que existem muitas informações que teriam potencial embaraçoso para seus adversários políticos.
Quando falou sobre a privatização da telefonia, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, Dantas lembrou que nem todos os grampos telefônicos feitos na época foram divulgados. Ele sugeriu que apenas os grampos referentes aos negócios dele são de conhecimento público. Dantas fez menção a grampos que teriam sido feitos no prédio do BNDES. Só duas de 51 fitas são de conhecimento público, disse Dantas.
A origem das gravações nunca foi esclarecida. Ninguém sabe onde é que estão as fitas nunca divulgadas. Meu ponto: lembrar a existência delas serve aos propósitos de Dantas, já que comunica aos tucanos que detalhes potencialmente embaraçosos sobre as privatizações da telefonia ainda estão por aí.
Os grampos derrubaram o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros; o irmão dele, José Roberto Mendonça de Barros, que era da Câmara de Comércio Exterior; e o presidente do BNDES, André Lara Resende.
No depoimento Dantas também disse que é vítima de uma facção do governo Lula, que teria sido liderada pelo ex-ministro Luiz Gushiken. O interesse dessa facção seria o de assumir o controle da Brasil Telecom.
O banqueiro voltou a mencionar a existência de uma acusação, feita na Itália, segundo a qual a Telecom Itália teria pago propina a integrantes do governo brasileiro. Dantas também mencionou que, durante depoimento à Polícia Federal, o delegado Protógenes Queiroz teria dito a ele que pretendia investigar "até o fim" os filhos do presidente Lula.
Essas duas últimas afirmações são uma ameaça velada aos integrantes do atual governo.
Para explicar a Operação Satiagraha, Daniel Dantas mais uma vez se colocou como vítima. O algoz, neste caso, seria o ex-diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Como se sabe, a revista Veja publicou uma reportagem dando conta da existência de contas bancárias no Exterior do presidente Lula e de outras autoridades do governo, inclusive Lacerda. Dantas nega que tenha sido a fonte para a reportagem. A Veja diz que foi ele.
Dantas lembrou uma frase atribuída ao delegado: "Ele iria me botar um par de algemas".
O banqueiro disse que, antes mesmo da posse do governo Lula, em 2002, tinha informações de que "Lula ia entrar em guerra contra mim". Daniel Dantas disse que, na época, mandou publicar em um jornal de Minas Gerais mensagens criptografadas que descreveriam a armação contra ele.
Daniel Dantas não apresentou qualquer prova para suas acusações. Fez ilações e suposições. Mas seu objetivo foi claro: se colocar como vítima.
"Eu já fui expelido do setor de comunicações", disse Dantas aos integrantes da CPI.
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