Atualizado em 10 de agosto de 2008 às 15:02 | Publicado em 10 de agosto de 2008 às 14:38
WASHINGTON - A ação militar da Rússia em defesa de duas regiões separatistas da Geórgia, no Cáucaso, restabelece o conceito de "esfera de influência", que havia caído em desuso desde o fim da guerra fria.
Vai todo mundo jogar a bomba no colo de Vladimir Putin, por ignorância ou má fé. Mas os fatos não sustentam essa versão maniqueísta.
É preciso recuar um pouco à dissolução da União Soviética para entender o que está acontecendo agora. Ao fim do regime soviético se seguiu uma expansão da aliança militar do ocidente (OTAN) em países que antes eram considerados da esfera de influência de Moscou.
Os Estados Unidos flexionaram seus músculos à vontade, mais notadamente na guerra que moveram de forma unilateral no Iraque. Não é possível dissociar o que aconteceu na Rússia da ação americana. Vladimir Putin navegou na reação russa a um mundo unipolar. As grandes reservas de petróleo e gás da Rússia permitiram a ele restabelecer o poder de barganha da Rússia em relação à vizinhança.
O mapa abaixo dá uma idéia do recuo da esfera de influência da antiga União Soviética. Tirando a Áustria, todos os outros países da Europa que aparecem destacados no mapa antes eram satélites de Moscou. Hoje só dois são aliados: Sérvia e Bielorrússia (Belarus).
Dois fatos recentes colaboraram para a desconfiança dos russos: a intenção americana de colocar baterias de mísseis na Polônia e estações de rastreamento na República Tcheca é um deles. Os Estados Unidos dizem que precisam dessas armas para enfrentar um eventual ataque do Irã ou da Coréia do Norte. Putin, espertamente, se ofereceu para instalar o equipamento em território russo. É óbvio que o Pentágono quer avançar suas defesas contra a Rússia. O outro fato foi o reconhecimento da independência de Kosovo pelo Ocidente. A Sérvia, país do qual Kosovo se declarou independente, é o maior aliado da Rússia na Europa Oriental.
É nesse contexto que surgiram as especulações de que a Rússia colocaria aviões bombardeiros em Cuba ou faria aliança militar com a Venezuela.
A Rússia é grande fornecedora de gás e petróleo para a Europa. E parece ter aceito um papel secundário na Europa Oriental, que está firmemente plantada na União Européia e na OTAN.
Coloquei o mapa abaixo para que vocês entendam a importância da Geórgia. Se você olhar um mapa maior, vai ver que o país fica "na barriga da Rússia".
Depois do fim da Guerra Fria os Estados Unidos, através do National Endownment for Democracy (NED) ajudaram a promover mudanças de regime nos antigos satélites soviéticos.
Na Geórgia, por conta da Revolução Rosa, ascendeu ao poder Mikhail Saakashvili, com um discurso francamente pró-ocidental.
O oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, de mais de 1.700 quilômetros de extensão, é a única saída do petróleo do Mar Cáspio para o Ocidente que independe da Rússia. É controlado por um consórcio internacional que tem à frente a British Petroleum. Notem que nos confrontos dos últimos dias a Rússia não bombardeou o oleoduto.
Saakashvili, que ascendeu ao poder prometendo reunificar a Geórgia, foi quem tomou a iniciativa de atacar as províncias separatistas. Candidato a entrar na OTAN, ele parece ter calculado que a Rússia não reagiria da forma como reagiu.
Cometeu um erro de cálculo. Como escrevi acima, a Rússia parece ter se conformado com um papel secundário na Europa Oriental. Mas o mesmo não pode se dizer do Cáucaso, uma região nevrálgica onde se encontram algumas das maiores reservas de petróleo e gás do mundo.
Resta saber se a Rússia promoverá ou não uma "troca de regime" na Geórgia.
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