Por walter anésio cardoso
Caro Nassif,
quando se trata de infecção hospitalar, sempre vem a simplificação boba de que os profissionais de saúde não lavam as mâos. Ou que alguém viu um profissional de saúde usando avental na rua ou no restaurante. Isso até poderia explicar alguma coisa, mas está mais relacionado ao insconsciente coletivo do que às verdadeiras razões do problema (problema este que tem nome e endereço : os equipamentos não estão sendo esterilizados adequadamente). As infecções por micobactérias são em feridas cirúrgicas de pacientes submetidos a cirurgias eletivas. São feridas que não deveriam apresentar infecção.
Para esterilizar um equipamento cirúrgico, existem tres formas eficientes e o resto é ineficiente.
Pode esterilizar, usando uma estufa, uma autoclave ou por exposição ao óxido de etileno.
A estufa é um forno, que aquece o equipamente até 300 ºC, torrando as bactérias e virus. Não sobra nenhum. É muito eficiente, mas só serve para vidro e metais.
A autoclave esteriliza através de vapor de água, acima de 120 ºC, durante algumas horas. Também é muito eficiente, mas só serve para madeira, vidro, metaise llátex (talvez alguns tipos de plásticos mais resistentes). Se não for material de metal ou de vidro, a autoclave e a estufa diminuem a vida útil ou deformam e inutilizam o material ( = prejuízo).
Os materiais cirúrgicos que possuem plástico, silicone, fibra ópticas, metais de baixo ponto de fusão são esterilizados no óxido de etileno. Mas o óxido de etileno ...continua...
Mas o óxido de etileno é um gás muito tóxico , a sua manipulação é difícil, exige funcionários e instalações adequadas (impossível numa clínica). Existem então as empresas que esterilizam com óxido de etileno, que recolhem semanalmente os materiais, transportam, esterilizam, empacotam e devolvem para a clínica. Isso tem um alto custo financeiro e de tempo ( = prejuízo). É necessário possuir equipamento de reserva, pois parte do tempo o instrumental cirúrgico vai estar na empresa de" esterilização no óxido", atrasando o fluxo de cirurgias.
Como evitar esse prejuízo? Basta recorrer a algum método de esterilização mais barato e menos moroso( = ineficiente). Daí, são aplicados métodos de químicos esterilização de equipamentos mais simples para plásticos e outros instrumentos sensíveis, como o mergulho em solução de glutaraldeído numa atmosfera com formalina. Acontece que todo profissional de saúde sabe que os métodos químicos são ineficientes, porque matam a grande maioria dos fungos, bactérias e vírus, mas NÃO todos.
Aquele microorganismo que for resistente, será encaminhado ao trono dos vitoriosos devido à seqüência de erros repetitivos de seus inimigos. Para isso, não precisa ser super. A micobactéria não é uma superbactéria. Ela simplesmente tem uma característica simples de resistir um pouco mais aos métodos químicos (glutaraldeído, formalina), descritos como ineficientes em qualquer livro texto de cirurgia. Nem a micobactéria se espalhou por todo o Brasil.
A micobactéria já estava em todos os Estados da Nação, mas era inócua frente aos bons métodos de esterilização cirúrgica.
A epidemia que está ocorrendo não é de superbactérias, e sim uma proliferação de clínicas pequenas associada à proliferação de métodos apócrifos de esterilização que apresentam (falsa) conveniência financeira.
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