Site do Azenha - Atualizado em 18 de agosto de 2008 às 19:09 | Publicado em 18 de agosto de 2008 às 17:02
por Mark Weisbrot
Na última década mudanças políticas varreram a maior parte da América Latina. Boa parte da região -- inclusive a maior parte da América do Sul -- é governada pela esquerda. Estes governos se tornaram muito mais independentes dos Estados Unidos -- em sua política externa são mais independentes do que a Europa. O sonho de Washington de fazer a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) morreu e foi enterrado. A tentativa de substituí-la com acordos de "livre comércio" bilaterais perde impulso a cada dia.
Muito disso é resultado da escolha democrática do eleitorado da América Latina. Em vários países -- Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Venezuela -- os eleitores rejeitaram a política econômica do Consenso de Washington depois de mais de duas décadas de fracasso econômico sem precedentes. De forma similar e por demanda popular o governo do Equador anunciou que a mais importante base militar de Washington na região será fechada quando o aluguel terminar em 2009.
A reação do governo americano a essa nova realidade da América Latina tem sido caracterizada pela negação e pela hostilidade. Apoiou golpes na Venezuela (2002) e no Haiti (2004). Financiou grupos de oposição em países como a Bolívia e a Venezuela, provocando mais fricção. Os Estados Unidos têm sido claramente uma força desestabilizadora da região, solapando a democracia.
O governo Bush tentou dividir as democracias de centro-esquerda entre "esquerda boa" (Brasil e Chile) contra "esquerda ruim" (Venezuela, Bolívia, Equador e algumas vezes a Argentina). O objetivo é isolar a "esquerda ruim", especialmente a Venezuela. Mas essa é uma política externa baseada na fantasia.
O presidente do Brasil, Lula da Silva, por exemplo, da "boa esquerda", tem consistentemente defendido o presidente venezuelano Hugo Chávez contra os ataques de Washington e se juntou às principais iniciativas da Venezuela, como o Banco do Sul. O Brasil recentemente aumentou seu compromisso com Cuba, um país com o qual o partido de Lula, o Partido dos Trabalhadores, tem relações antigas - historicamente mais antigas, na verdade, que as da Venezuela de Chávez. Cuba é outro exemplo da política fracassada dos Estados Unidos em relação à América Latina. Washington mantém o embargo econômico e outras hostilidades contra Cuba há meio século. Isso só rendeu condenações do resto do mundo, expressas em votações expressivas nas Nações Unidas, que semeiam desconfiança na América Latina.
A estratégia da Guerra Fria de "dividir para conquistar" na América Latina só comprometeu a posição de Washington na região, que está pior do que nunca.
Obama teria uma chance de começar de novo. Mas ele vai fazer isso? Por enquanto há poucos sinais disso.
Ele adotou a mesma retórica hostil em relação à Venezuela, prometeu manter o embargo contra Cuba e até apoiou o ataque da Colômbia ao Equador no dia primeiro de março. Foi uma violação da soberania e uma perigosa regionalização do conflito - apoiada pelo governo Bush - que foi rejeitada por quase todos os governos do hemisfério.
Contra essas inclinações, a promessa de Obama de possivelmente se encontrar com Hugo Chávez e Raul Castro não é causa para otimismo e na verdade há pouco esperança de mudança entre os diplomatas latino-americanos de Washington.
Naturalmente, os governos da América Latina são suficientemente sofisticados para saber que a retórica de uma campanha presidencial nos Estados Unidos sempre se orienta aos cubano-americanos do sul da Flórida. De fato, se houver 800 mil americanos que acreditam que Elvis Presley ainda está vivo e se eles estiverem concentrados em um estado que tem 27 votos no Colégio Eleitoral devemos esperar alguns discursos [dos candidatos] sustentando essa idéia exótica.
Assim, talvez Obama esteja brincando quando adota a retórica e a posição política do governo Bush em relação à América Latina. Por enquanto é a única esperança à qual podemos nos agarrar.
Mark Weisbrot is Co-Director of the Center for Economic and Policy Research, in Washington, D.C. (www.cepr.net).
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