Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), tabulados pelo Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), mostram que aumentou o número de estudantes que têm renda familiar de até três salários mínimos no ensino superior brasileiro. O aumento foi de cinco pontos percentuais: em 2004 10% dos estudantes do ensino superior brasileiro tinham renda famílias de até três salários mínimos; em 2006, esse número passou para 15%. Três salários mínimos em 2006 era o equivalente a R$ 1,05 mil.
O pesquisador do Iets Simon Shwartzman disse em entrevista ao Conversa Afiada nesta quarta-feira, dia 20, que o acesso ao ensino superior no Brasil cresceu de forma generalizada.
“Na verdade, o sistema de educação do ensino superior brasileiro cresceu, está dando mais acesso, há mais acesso também a pessoas relativamente de baixa renda”, disse Shwartzman.
Segundo Shwartzman, os dados da Pnad mostram que em 2004 40% dos estudantes do ensino superior brasileiro faziam parte do grupo dos 10% mais ricos do país. Em 2006 esse número caiu para 38%.
“É importante. Não estou dizendo que não é. Não mudou o perfil, é uma melhora... Eu acho que o Governo tem feito um esforço muito grande para aumentar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino superior, o ProUni é o principal exemplo disso”, disse Shwartzman.
O professor Shwartzman destacou que os dados publicados pelo jornal Folha de S. Paulo sobre esse estudo estavam errados.
“Essa informação da Folha de S. Paulo está equivocada. O dado que eu passei para a Folha de S. Paulo, que é um dado tirado da Pnad, ele mostra que houve um aumento de cinco pontos percentuais do número de estudantes com até três salários mínimos de renda familiar. Em 2004 eram 10% e em 2006 eram 15%. Isso não é um aumento de 50%, porque você não pode calcular porcentagem de porcentagem. Esse é um erro da reportagem da Folha de S. Paulo”, explicou Shwartzman.
Leia a íntegra da entrevista com o pesquisador Simon Shwartzman:
Conversa Afiada – Quais são os principais pontos desse estudo?
Simon Shwartzman – Eu gostaria de começar explicando que essa informação da Folha de S. Paulo está equivocada. O dado que eu passei para a Folha de S. Paulo, que é um dado tirado da Pnad, ele mostra que houve um aumento de cinco pontos percentuais do número de estudantes com até três salários mínimos de renda familiar. Em 2004 eram 10% e em 2006 eram 15%. Isso não é um aumento de 50%, porque você não pode calcular porcentagem de porcentagem. Esse é um erro da reportagem da Folha de S. Paulo. E se você olhar os números absolutos de quantas pessoas que têm renda familiar até três salários mínimos havia, houve um aumento muito grande. Mas esse aumento que houve tem a ver com o fato de que o salário mínimo no Brasil nos últimos anos vem aumentando muito. Então, uma família que tem três salários mínimos de renda familiar, ela ganha mais de R$ 1 mil por mês. Em 2006 ela estava ganhando R$ 1,05 mil por mês, o salário mínimo era R$ 350. Esse nível de renda, tem um estudo do Marcelo Nery que saiu recentemente e ele classificava esse nível de renda como de classe média. Então, na verdade, o que você tem é um aumento de números de pessoas com renda familiar até três salários mínimos. Mas como esse salário mínimo vem aumentando de valor, isso não nos permite dizer muita coisa sobre o que acontece com estudantes pobres. Quando eu faço uma análise, e isso está no meu site, você pode dar uma olhada, quando eu faço uma análise mostrando a distribuição das pessoas por nível de renda, você divide em dez níveis de renda a população brasileira, você vai ver que esse grupo que ganha três salários mínimos está entre o 30% mais ricos do Brasil. Porque no Brasil a maior parte da população é muito mais pobre do que isso. A primeira metade da distribuição da renda no Brasil aumenta muito pouquinho nesses dois anos. Então, na verdade, o sistema de educação do ensino superior brasileiro cresceu, está dando mais acesso, há mais acesso também a pessoas relativamente de baixa renda, mas a distribuição de renda no ensino superior brasileiro não tem se alterado muito.
Conversa Afiada – Agora, o que a gente pode concluir, professor, desses dados tabulados e esse aumento do acesso que o senhor acabou de expor, o que houve de mudanças nesses últimos anos?
Simon Shwartzman – Você teve alguns programas como o ProUni, mas, na verdade, se você olhar pela distribuição da população em termos de renda, não houve uma mudança muito grande. O sistema de ensino superior no Brasil cresceu, vem crescendo muito. Então, ele tem admitido mais estudantes de todas as rendas. Tem mais estudantes ricos, estão entrando mais estudantes de classe média, estão entrando mais estudantes de renda um pouco mais baixa. Mas se você olhar o dado que está lá no meu site, você vai ver que em 2004 40% dos estudantes brasileiros de nível superior estavam nos 10% mais ricos da população. Isso melhorou um pouquinho, foi para 38%, de 40% passou para 38%. O sistema de ensino público e privado brasileiro continua muito elitista.
Conversa Afiada – Mas de qualquer forma em dois anos passar de 40% para 38% é uma mudança significativa, não é professor?
Simon Shwartzman – É importante. Não estou dizendo que não é. Não mudou o perfil, é uma melhora.
Conversa Afiada – Mas isso mostra uma tendência?
Simon Shwartzman – Olha, eu acho que o Governo tem feito um esforço muito grande para aumentar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino superior, o ProUni é o principal exemplo disso. Agora, a principal limitação em relação a isso é que os estudantes de baixa renda muitas vezes não conseguem terminar o ensino médio. Como o ensino médio brasileiro está estagnado, não está melhorando, não está formando as pessoas com melhores condições, isso é um atraso para a expansão do acesso ao ensino superior.
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