Líder natural na América Latina, devido às dimensões de seu território e de sua economia, o Brasil vem consolidando sua hegemonia usando como instrumento estatais que dão inveja aos vizinhos: BNDES, Petrobras, Eletrobrás e Embrapa, que, juntos, estão espalhados por 17 países no continente. Somente o BNDES financia US$ 3,8 bilhões na região, com potencial de US$ 12 bilhões em novos contratos. Os recursos do banco para obras de infraestrutura em 2007 chegou a US$ 490,023 milhões, um volume 73,5% superior ao de dez anos atrás. A reportagem é de Eliane Oliveira e Gustavo Paul e publicada pelo jornal O Globo, 18-08-2008.
— Incentivamos a integração física na região, com obras de infra-estrutura, além de ajudarmos a aumentar as exportações brasileiras de bens e serviços — diz Luiz Antonio Dantas, superintendente do BNDES Exim.
Ele lembrou que, além do BNDES, existe o Programa de Financiamento às Exportações (Proex), que financia operações de empresas brasileiras no exterior, especialmente de serviços.
Dantas citou o metrô de Caracas, na Venezuela; um gasoduto na Argentina; uma hidrelétrica no Equador; e o sistema de transporte coletivo na Colômbia. Além de outros projetos ainda na gaveta: a rodovia que ligará Riberalta a Rurrenabaque, na Bolívia; e a ferrovia para o transporte de carvão siderúrgico, na Colômbia, no valor de US$ 600 milhões.
A Petrobras está presente em todos os países sul-americanos. Sua atuação é mais forte na Argentina, onde tem planos de investimentos de US$ 2,8 bilhões até 2012. O México é o mais novo parceiro comercial.
Lá, a estatal está num projeto de revitalização de campos de gás com a japonesa Teikoku Oil e a mexicana Dia Vaz.
Especialista vê impulso político
Fortalecida por uma medida provisória que se transformou em lei em abril, a Eletrobrás começou em julho a tornar realidade o desejo do Palácio do Planalto de que ela seja uma empresa global. O principal foco da estatal é a América do Sul. A construção de usinas e linhas de transmissão nos países vizinhos deverá servir de alternativa de fornecimento futuro de energia ao país, como já ocorrer com a Usina Binacional de Itaipu, no Paraguai.
A Eletrobrás já estuda a construção da hidrelétrica de Garabi, no Rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a Argentina, além de aproveitamentos hidrelétricos no Peru e a interligação dos sistemas elétricos e energéticos com a Venezuela.
Parte significativa dos projetos tem participação de estatais vizinhas, e os investimentos somarão perto de US$ 6 bilhões. O maior projeto é uma geradora a ser construída em Inambari, no Peru, por US$ 2 bilhões, com capacidade de 1,5 mil megawatts (MW). A ela se somarão outras três usinas naquele país. No caso da Venezuela, está em estudo também a viabilidade da conexão dos sistemas de comunicação brasileiro e venezuelano, por meio de fibras óticas nas linhas de transmissão.
A Embrapa também tem presença marcante na região. São exemplos a transferência de tecnologia para um pólo de fruticultura no Equador e a instalação, em Caracas, de um escritório para apoio à produção de leite, ovos, milho e outros grãos. A atuação da Embrapa na América do Sul ocorre desde os anos 80, mas foi intensificada no atual governo. A empresa incentiva seus escritórios regionais mais próximos às fronteiras a trocar experiências e prestar assistência técnica aos vizinhos.
— A nova orientação do governo é dar atenção aos países vizinhos, só que não é para sermos bonzinhos ou altruístas. A ocorrência de febre aftosa na Bolívia ou Paraguai afeta nossa pecuária, e a entrada da mosca da carambola pela Guiana é um risco — afirma José Geraldo Eugênio França, diretor-executivo da Embrapa.
O movimento das estatais brasileiras é natural e reflete o processo de amadurecimento das empresas do país, que seguem a onda de maior sofisticação e internacionalização da economia, pensa o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Alcides Costa Vaz.
Para ele, a presença estatal responde ao impulso político do governo para aumentar a integração continental:
— A região é o espaço prioritário da política internacional e para a expansão das empresas brasileiras.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, por sua vez, alertou que o investimento no exterior não pode se sobrepor ao doméstico:
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