Leôncio Domingues dos Santos, lojista na principal rua comercial de Itabira, já sabe bem o que é globalização econômica. O ciclo da fartura do setor mineral, puxado pela China, produziu prosperidade. E Santos prosperou. As duas lojas vendiam como nunca. Na quarta-feira passada, desanimado, anunciou à reportagem a decisão: "Vou fechar uma loja. Em 60 dias, se nada mudar. Não tem jeito", afirmou.
A reportagem é de Agnaldo Brito e publicada no jornal Folha de S.Paulo, 01-02-2009.
A inadimplência disparou. De módicos 4,2% a 4,5%, normais segundo ele, foi para 13%. "E é gente honesta que não está pagando. Nunca fui bater na porta de ninguém para cobrar um cheque, um carnê atrasado. O cidadão me diz: "Leo, não tenho como pagar, perdi o emprego, me dá mais tempo". O que digo a ele?", indaga.
Das 9 funcionárias, restaram 4. "E, quer saber, consigo trabalhar com três", afirma. Na manhã de quarta-feira, nenhum cliente entrou na loja, salvo uma. "Veio renegociar uma dívida", explica Santos. A estimativa da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Itabira) é a de que a circulação de divisas na economia local despencou. O giro de R$ 25 milhões, número que agrega as vendas dos 700 associados, não deverá ser alcançado em janeiro. Com o consumidor recluso, seja em razão de ter sido atingido pelo desemprego, seja porque tem medo de gastar a renda agora, o fato é que o comércio da cidade vive um mergulho sem precedentes.
Maurício Henrique Martins, presidente da CDL, teme agora os efeitos de uma eventual redução de 50% do salário dos funcionários da Vale. "O impacto para Itabira será enorme. Já vivemos uma recessão. Se houver encolhimento da renda garantida hoje pela principal empregadora, o impacto no comércio será devastador."
Tradição na cidade de Itabira, o Carnaval - uma festa que arrastava 15 mil foliões por noite - foi cancelado por causa da crise social. O prefeito João Izael Querino Coelho explica os motivos da decisão: "Não há clima na cidade para festa e é até um respeito a quem perdeu seu emprego e não tem razão nenhuma para folia".
Não será a única medida a ser tomada pela prefeitura, cujo impacto na redução das exportações de minério sobre o Orçamento será de R$ 30 milhões neste ano. O Orçamento de R$ 260 milhões em 2008, um bom caixa para uma cidade de 110 mil habitantes, cairá para R$ 230 milhões neste ano.
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