“(...) vimos uma boca de outro grande rio, à mão esquerda, que entrava no que navegávamos, e de água negra como tinta, e por isso lhe pusemos o nome de Rio Negro. Corria ele tanto e com tal ferocidade que em mais de vinte léguas fazia uma faixa na outra água, sem misturar-se com a mesma”.
(Gaspar de Carvajal)
- Descida do Solimões
Ainda repercute a notícia de minha jornada pelo Solimões, de caiaque. Longe de ter sido uma simples descida de caiaque, pelos 1700Km do poderoso rio, o projeto visava conhecer as peculiaridades locais, observando e analisando a história, flora, fauna, hidrografia e povos da floresta. Numa época em que tanto se propugna pelo respeito à natureza, o caiaque sintetiza o meio de transporte ideal para ser usado na ‘Terra das Águas’. Seu deslocamento silente não afugenta, não atemoriza a fauna. As remadas firmes e cadenciadas seguem o ritmo da natureza sem agredir a flora, e a ausência de motores à combustão não polui, não macula os rios. A data de largada de Tabatinga/AM foi no dia 1º de dezembro de 2008, e a chegada a Manaus, em 26 de fevereiro de 2009. O esforço exigido diariamente, que causa espanto a tantos, foi minuciosamente planejado, levando-se em conta a velocidade da correnteza, o desempenho do caiaque, os locais de parada e poderia ser alcançado por qualquer pessoa de mediana capacidade física.
O mais importante numa empreitada dessa natureza é o preparo psicológico para que, sob quaisquer condições de navegação enfrentadas, se tenha condições de tomar decisões adequadas em tempo hábil e, ainda, ao final do deslocamento, ser capaz de continuar com as atividades propostas. Como exemplo, cito o deslocamento de 108 quilômetros que realizei, sozinho, de Anamã a Manacapuru, das 05h15 às 14h15 - 9 horas sem parar. Chegando à cidade, após um banho revigorante, saí para contatar as autoridades políticas com intuito de obter seu apoio e, logo em seguida, iniciei meu périplo pela bela cidade o qual durou até as 21h00. O treinamento exaustivo no Guaíba visava somente a isso: tornar-me capaz de cumprir a missão independentemente do percurso realizado. A missão não era remar, mas interagir e aprender com a selva e a população ribeirinha.
- Planejamento e Execução
Alguns técnicos afirmam que a fase mais difícil de um projeto é a sua execução. Eu discordo e acho que, no caso de minha descida, foi justamente o contrário. A execução foi a parte fácil e a mais agradável, com experiências diferentes a cada curva do rio, belas paisagens a cada remada, sinfonias únicas, inúmeras descobertas, vivências ímpares, novos amigos a cada parada. O povo amazonense de todos os matizes, de todas as origens e de todas as raças nos acolheu sempre, de braços abertos, nos abrigando e alimentando. Tudo isto tornou a expedição bastante tranquila.
Foi na fase de planejamento que enfrentamos nossos primeiros reveses. A falta de patrocínio por parte de entidades públicas ou privadas e o entendimento, por parte de organizações ligadas ao ensino de que o projeto não tinha uma face pedagógica definida quase comprometeram sua execução. O desafio não foi enfrentar o rio-mar, as chuvas torrenciais, banzeiros, mas, sim, conseguir chegar a Tabatinga e transportar, para lá, todo o equipamento.
Ao concluir a missão, é com tristeza que verifico o contraste entre a repercussão fantástica que o projeto teve junto à população e à imprensa do estado do Amazonas com a quase total indiferença por parte da mídia e das autoridades de meu torrão natal – o Rio Grande do Sul.
- Livro
O livro que alguns amigos e conhecidos nos cobram já está praticamente concluído. A Capitão Eneida Mader, do Colégio Militar de Porto Alegre, está nos auxiliando na correção e adaptação à nova ortografia. Infelizmente o patrocínio, tão esperado, do Banco da Amazônia (BASA) ainda não foi confirmado.
- Rio Negro
“Quando surge um problema, você tem duas alternativas: ou fica se lamentando, ou procura uma solução. Nunca devemos esmorecer diante das dificuldades. Os fracos se intimidam. Os fortes abrem as portas e acendem as luzes”. (Dalai Lama)
A descida do Rio-Negro, mais bela e mais arrojada do que a do Solimões, está longe de se materializar. Vejo, pouco a pouco, o sonho desvanecer. A descida do rio Negro, com largada agendada para 15 de Dezembro de 2009, dificilmente se concretizará sem o aporte financeiro necessário, fundamentalmente no que tange às passagens aéreas de Porto Alegre/Manaus, Manaus/Porto Alegre e de Manaus a Cucuí, AM. Continuamos treinando, estudando e planejando e, quem sabe, até o fim do ano as nuvens sombrias que se formam no horizonte venham a desvanecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário