"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, maio 09, 2009

A volta da apreciação cambial

Blog do Luis Nassif - Coluna Econômica - 08/05/2009

O país está entrando novamente na armadilha do câmbio. Aconteceu em 1994, em 1999, depois da desvalorização, em 2003, depois da desvalorização. É um círculo vicioso terrível, pelo qual a grande responsabilidade é do Banco Central.

Em quase todos os episódios, o jogo é assim:

  1. O BC mantém os juros internos muito acima dos juros internacionais. Com isso, atrai dólares que vêm atrás de dois ganhos somados: as taxas de juros e a apreciação cambial.
  2. Com a apreciação do real, as exportações perdem fôlego e amplia-se o espaço das importações. Isso acarreta uma redução dos saldos da balança comercial e amplia o déficit nas contas correntes.
  3. À medida que o déficit se amplia, os investimentos especulativos começam a sair do país. Há uma forte desvalorização cambial que reduz os preços dos ativos brasileiros em dólares.
  4. A desvalorização traz transtornos enormes mas ajuda a reequilibrar as contas – em outros momentos, pela melhoria das exportações; agora, por ter vindo acompanhada de um resfriamento da economia que está reduzindo as importações.
  5. Com as contas externas melhorando, se o BC mantém o diferencial de juros, volta a atrair os capitais que fugiram da renda fixa. Atrás deles vêm capitais para a renda variável, sabendo que ganharão com o chamado efeito-manada, em cima da valorização dos ativos brasileiros e da apreciação do real – que proporciona ganho para que traz dólares.

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Esta é a lógica que tem provocado essa nova enxurrada de dólares para o país, proveniente especificamente de fundos de private equity – entrando em empresas brasileiras que estão passando aperto com a crise - e em operações de “carry trade” (pela qual investidores tomam empréstimos em determinadas moedas para aplicar em reais).

Esse movimento é influenciado muito mais pelas baixas taxas de juros internacionais e pela recessão aguda na Europa e nos Estados Unidos. E também pelo excesso de dinheiro injetado no sistema financeiro pelos respectivos bancos centrais. As cautelas na concessão de crédito, os receios com os chamados ativos tóxicos, que ainda não foram completamente extirpados do sistema, faz com que essa dinheirama procure o pato da vez. E, aparentemente, mais uma vez é o Brasil. Daí essa profusão de elogios enganadores de porta-vozes do mercado internacional.

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Já caiu a ficha do BC de que não poderá tolerar outra rodada irresponsável de apreciação do real, como houve no final de 2007. Por outro lado, continua preso a uma ortodoxia exasperante. O caminho natural seria adquirir dólares no mercado à vista, sinalizando fortemente a intenção de impedir a apreciação do real.

Em vez disso, o BC limita-se às chamadas operações de “swap reverso” – uma operação pela qual ele opera no mercado futuro de dólares garantindo à outra ponta (investidores e bancos) no mínimo a remuneração pela taxa Selic.

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Enquanto ocorre essa apreciação, porta-vozes do BC cometem a imprudência de acenar com a volta da alta dos juros, sinalizando para uma recuperação econômica que ainda nem ocorreu. Esse tipo de declaração, quase sempre em off, visa exclusivamente estimular esse efeito manada, para os especuladores tirarem mais uma casquinha à custa do Tesouro.

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