Presidente colombiano, Álvaro Uribe, só consegue promessas após dois dias em Washington. Peru e Equador também enviam representantes aos Estados Unidos para acelerar a ratificação de tratados
A vitória dos democratas nas eleições legislativas nos Estados Unidos se transformou em pesadelo para Peru, Colômbia e Equador, que viram escorrer pelas mãos o esforço de meses de negociações com a administração Bush para a assinatura de tratados de livre comércio (TLC). Desde o início da semana, os governos dos três países empreenderam uma ofensiva diplomática para evitar um mal maior, com a expiração dos atuais acordos de preferências no dia 31 de dezembro. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, viajou a Washington, onde foi recebido pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e altos funcionários. Depois de dois dias de reuniões, ele conseguiu arrancar da Representante de Comércio dos EUA (USTR), Susan Schwab, uma promessa de postergação da Lei de Preferências Aduaneiras Andinas (ATPDEA), assim como a ratificação dos TLC.
“Manifestamos nosso apoio à prolongação da ATPDEA para Colômbia, Peru, Equador e Bolívia, a fim de minimizar as perturbações comerciais”, afirmou John Veroneau, adjunto de Schwab, por meio de um comunicado. Veroneau lembrou que Uribe e “representantes do Peru” se reuniram anteontem com altos funcionários da USTR para defender a prolongação das preferências. Na nota, ele garantiu que o governo “trabalhará com o Congresso para que os acordos de comércio sejam apresentados o mais rapidamente possível”. A idéia é prolongar a vigência dos atuais tratados antes que os democratas —mais protecionistas que os republicanos —, assumam o controle do Senado e da Câmara dos Deputados, em janeiro.
Democratas
Uribe também se reuniu com o senador John McCain, cotado como próximo candidato à Presidência pelos republicanos. Como argumento, o mandatário colombiano advertiu sobre o risco da perda de “centenas de milhares de empregos”, e da escalada do narcotráfico. Uribe aproveitou para estabelecer contatos com os democratas. “Precisamos das preferências. A incerteza está gerando dúvidas e os investidores não querem se arriscar”, disse. A expectativa da não renovação das preferências fez com que a empresa Levis cancelasse novos contratos. “Só a incerteza já custou ao país 7 mil empregos. Mas há 600 mil em jogo”, disse Uribe.
O governo colombiano pressionou por várias vezes pela extensão das preferências, mas os republicanos ignoraram. Eles contavam que o Congresso apreciaria e aprovaria o TLC negociado até o final do ano, o que tornaria as preferências desnecessárias. Para o senador democrata Chris Dodd, a chance de o Congresso renovar as preferências tarifárias é mínima. “Acho difícil que ocorra. Só temos mais duas semanas (de sessões parlamentares) e duvido que se possa aprovar isso”, disse Dodd, membro da Comissão de Relações Internacionais do Senado. Segundo ele, o partido quer tempo para avaliar o conteúdo dos acordos.
“Os republicanos negociaram acordos e tratados de livre comércio sem nos levar em conta. Agora queremos revisá-los”, acrescentou. O recado foi o mesmo para o ministro do Comércio Exterior do Equador, Tomás Peribonio, que também fez seu périplo por gabinetes em Washington. O chanceler peruano, José Antonio García Belaunde, se mostrou otimista e disse que seu governo está debruçado numa nova estratégia para conseguir a ratificação do TLC.
Os Estados Unidos assinaram em 1991 com os países da Comunidade Andina de Nações (CAN) um acordo de preferências tarifárias unilaterais válido por 10 anos. Previa, em contrapartida, a instalação de bases norte-americanas em território andino para o combate ao narcotráfico. Apostando no sucesso da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), os EUA decidiram estender a validade do pacto até o dia 31 de dezembro de 2006. Mas o fracasso das negociações da Alca levou a administração Bush a rever seus planos e a pressionar pela assinatura de TLC em condições favoráveis — considerando que os mercados exportadores andinos estão comprometidos com os EUA.
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