Reconstrução ameaça fracassar
Bilhões gastos não foram suficientes para devolver qualidade de vida ao país
BAGDÁ. Por pouco mais de US$38 bilhões, os EUA e seus empreiteiros no Iraque deram a 4,6 milhões de pessoas acesso a água. Distribuíram sementes a fazendeiros, melhorando as colheitas de trigo. Com a capacidade de geração de eletricidade acima dos níveis do pré-guerra, deram mais horas de energia a muitos. Consertaram mais de cinco mil escolas e vacinaram 4,6 milhões de crianças contra a pólio.
A lista continua. Mas à medida que a reconstrução patrocinada e liderada pelos EUA se aproxima do fim, autoridades americanas e empreiteiros lutam com uma realidade dura: os milhares de sucessos no Iraque podem terminar num grande fracasso.
- Fizemos uma quantidade significativa de trabalho. Mas fomos esmagados pela violência - diz Clifford G. Mumm, que passou a maior parte dos últimos três anos no Iraque administrando projetos para a Bechtel Corp. - É muito difícil ser otimista - diz.
Os projetos custeados pelos EUA há muito são alvo de sabotagem. Muitos dos que foram poupados continuam sem utilidade para uma população paralisada pela violência.
EUA tinham Plano Marshall como modelo
No entanto, os que participam do esforço de reconstrução dizem que a preocupação com segurança não é o único problema. Planejamento e coordenação malfeitos por autoridades dos EUA fizeram com que mesmo projetos individuais bem-sucedidos fracassassem. Por exemplo, centros de saúde foram construídos a custos altos, mas sem água ou saneamento.
E agora que os EUA estão repassando os esforços de reconstrução para o Iraque, muitos envolvidos no processo temem que os iraquianos não tenham treinamento ou dinheiro necessários para manter funcionando as instalações construídas pelos EUA.
Essa não era a maneira com que se esperava que a reconstrução funcionasse. Em 2003, seis meses após a invasão, o presidente Bush prometeu ao Iraque "o maior compromisso financeiro do gênero desde o Plano Marshall". Funcionários de alto escalão do governo consideraram aquele plano - que ajudou a reconstruir a Europa após a Segunda Guerra - um modelo para o Iraque. O Congresso logo aprovou um orçamento que, embora previsse menos dinheiro que o Plano Marshall, parecia suficiente para pôr o Iraque de volta nos trilhos.
Andando pelas ruas da cidade de Mosul, três anos depois, o taxista Sattar Othman quase não percebe:
- Que reconstrução? - pergunta. - Hoje bebemos água sem tratamento de uma instalação erguida há anos que nunca passou por manutenção. A eletricidade só nos visita duas horas por dia. E agora estamos andando para trás. Cozinhamos em fogões a lenha, que recolhemos de florestas, devido à falta de gás - relata.
A visão de Othman é compartilhada por muitos no país. Iraquianos expressam frustração não apenas com os EUA mas com os líderes iraquianos - por embolsarem dinheiro de ajuda que deveria servir ao bem de todos.
Os EUA alocaram mais de US$38 bilhões para reconstruir o Iraque, mais do que para qualquer outra nação. A maioria do dinheiro já se foi. Três quartos do fundo principal para a reconstrução foram gastos e o restante foi separado para a finalização de projetos-chave.
Ao todo, 88% de todos os projetos planejados (cerca de 12 mil) foram completados, com apenas 4% ainda por começar. No entanto, medir o sucesso por projetos finalizados é uma maneira errada de medir o sucesso.
- Sabíamos que não se tratava do número de projetos finalizados, e sim de perguntar: a eletricidade está chegando a Bagdá? Há segurança nas ruas? O petróleo está fluindo? É o que interessa - disse Jon C. Bowersox, que até pouco tempo era adido de saúde da embaixada dos EUA.
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