“Transposição poderá ser alavanca do desenvolvimento regional”, afirma José Galizia Tundisi
José Galizia Tundizi é doutor em Ciencias Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente honorário do Instituto Internacional de Ecologia (IEE) defende o projeto de transposição do Rio São Francisco em artigo publicado no portal G1, 8-12-2006.
José Galizia Tundizi é doutor em Ciencias Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente honorário do Instituto Internacional de Ecologia (IEE) defende o projeto de transposição do Rio São Francisco em artigo publicado no portal G1, 8-12-2006.
Eis o artigo.
"A transposição de rios sempre provocou discussões e dúvidas devido aos possíveis impactos que causa nos sistemas que receberão volumes de água de outras bacias e à complexidade inerente a esses projetos. Obras de transposição sempre foram polêmicas. No caso da transposição do Rio São Francisco esta polêmica e as manifestações pró e contra a obra ocorrem em vários estados do Nordeste, a montante e a jusante no Rio São Francisco.
Entretanto, uma análise mais severa do problema pode ajudar a esclarecer alguns pontos para melhorar a percepção sobre a obra a sua importância. O primeiro esclarecimento é o de que a obra já começou há muito tempo e os açudes e represas já construídos, em um total de 18, armazenam águas. Em vários governos sucessivos já se construíram açudes e canais. O segundo problema é a quantidade: 3% do volume do Rio São Francisco, no máximo, serão utilizados para a transposição o que não afetaria, do ponto de vista quantitativo o Rio São Francisco. Há ainda as obras de irrigação que só serão realizadas em terreno sedimentar a jusante, portanto, dos quatro grandes reservatórios que receberão as águas da transposição: Castanhão e Armando Cruz, Santa Cruz e Boqueirão. Portanto a irrigação planejada só seria feita em terreno sedimentar.
Existem algumas possibilidades e alguns elos que estão sendo negligenciados neste processo e na discussão: a transposição é parte do conjunto de ações que necessariamente devem ser realizadas na região para levar água a comunidades urbanas e rurais. Neste conjunto de ações há dois pontos de sustentação importantes: primeiro um amplo projeto de saneamento básico e de atenção à qualidade da água dos reservatórios (deverão ser construídos mais 30 reservatórios de pequeno porte para dar continuidade à transposição); o segundo é um conjunto de ações que deve ser desenvolvida para acompanhar e estimular o uso múltiplo da água para as pequenas comunidades urbanas e rurais. Estas duas ações, se desenvolvidas com vigor deverão dar à obra um caráter de desenvolvimento extremamente importante e de grande alcance. O outro projeto de suporte à transposição, é evidentemente a revitalização do Rio São Francisco. Este rio atualmente sofre um conjunto grande de impactos: construção de barragens, agricultura intensiva, degradação das matas nativas, excesso de pesticidas e herbicidas na água e pesca em larga escala. Qualidade da água, estoques de peixes, estão em declínio acentuado. Portanto as ações de transposição devem vir acompanhadas de um investimento denso e diversificado em infra-estrutura de saneamento, revitalização e usos múltiplos adequados da água.
Estes são, a meu ver as bases sócio-econômicas que sustentarão o projeto. Se este projeto for encarado como um grande projeto de desenvolvimento regional incluindo saneamento básico, revitalização do rio, recuperação das matas ciliares e recuperação da fauna íctica, ele poderá ser uma grande alavanca de desenvolvimento regional com amplos reflexos econômicos e sociais. Se apenas os aspectos hidráulicos e mecânicos da obra foram executados ele poderá transformar-se em um grande desastre regional de amplas conseqüências econômicas e sociais e à saúde humana.
O Brasil tem tecnologias e conhecimento suficiente para fazer o melhor desta obra e utilizá-la como alavanca de desenvolvimento. Resta alertar as autoridades nacionais e regionais para atentar a todos os problemas complexos da transposição. O projeto pode, portanto, funcionar se forem mobilizados os conhecimentos biogeofísicos, econômicos e sociais que promoverão a obra a um conjunto extremamente importante para o Brasil e região."
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