Mesmo dividido por disputas internas entre os quatro sócios originais (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e com dificuldades para incorporar seu novo integrante, a Venezuela, o Mercosul decidiu levar adiante sua agenda expansionista e aprovou ontem, por consenso, o pedido de inclusão da Bolívia. A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 16-12-2006.
A solicitação já havia sido apresentada no sábado passado pelo presidente boliviano, Evo Morales, a Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos próximos meses, o Mercosul deverá avaliar pedido similar que o presidente eleito do Equador, Rafael Correa, prometeu a Lula formalizar depois de sua posse. Essas decisões foram tomadas ontem durante a 31ª Reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC), instância do Mercosul que agrega os chanceleres e ministros de Economia.
A discussão deu-se num momento em que os chanceleres dos quatro sócios originais do Mercosul mostravam-se ainda engasgados com a declaração feita pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, durante a reunião de cúpula da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa), em Cochabamba (Bolívia), no sábado.
Na ocasião, Chávez afirmara que o Mercosul “não serve para nada”, defendeu que a integração da região precisava de um “viagra político” e, por fim, conclamou seus colegas: “Enterremos nossos mortos, irmãos!”
Diante dessa posição embaraçosa, Amorim arriscou uma curiosa interpretação do apelo feito por Chávez. Na abertura da reunião do CMC, afirmou que o governo brasileiro o avaliara como “o desejo de fazer avançar o Mercosul”, com respeito às conquistas realizadas e “sem acomodação nem conformismo na busca de mais integração”.
Um dos principais negociadores argentinos concordou com Amorim. Ele avaliou a frase de Chávez como mais um de seus gestos histriônicos, mas com a “boa intenção de impulsionar” o Mercosul.
Durante a entrevista dos chanceleres à imprensa, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, foi confrontado com a declaração de Chávez. Escorregadio, afirmou que seu país pretende acelerar a integração do bloco, dar-lhe mais peso político e criar um “Mercosul de um novo tempo”.
Maduro não explicou, entretanto, as razões para o cancelamento da reunião marcada para quarta-feira, em Brasília, entre negociadores venezuelanos e do Mercosul para tratar do cronograma de convergência as alíquotas de importação da Tarifa Externa Comum (TEC), aplicada pelo Mercosul. “Esse processo terá um final feliz.”
O chanceler do Uruguai, Reinaldo Gargano, foi o único a não deixar a afronta sem resposta. “Os que defendem que o Mercosul não serve para nada não têm de estar no Mercosul”, bateu Gargano.
BOLÍVIA E EQUADOR
Apesar do consenso dos chanceleres, o possível ingresso pleno da Bolívia e do Equador preocupa os chamados sócios menores do Mercosul.
Paraguai e Uruguai queixaram-se novamente na reunião do Conselho do Mercado Comum das dificuldades de seus produtos terem acesso livre aos mercados brasileiro e argentino e também dos prejuízos acumulados pelo fato de contarem com menor grau de desenvolvimento econômico.
A rigor, duas economias pequenas a mais no Mercosul significaria a divisão por quatro dos esforços minguados dos sócios maiores para diminuir as assimetrias econômicas. “Deveríamos aprofundar o Mercosul em vez de trabalhar pela sua expansão. Temos ainda uma agenda interna muito complicada para lidar”, reclamou um dos principais negociadores paraguaios ao Estado.
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