Republicado pela editora italiana Ponte alle Grazie a 13 anos de distância da sua primeira edição, "O horror econômico", de Viviane Forrester [publicado no Brasil pela Ed. Unesp], não só conserva inalterada a atualidade de uma fotografia do mundo econômico à deriva, mas, à luz dos fatos políticos recentes, sua análise se torna – graças também a uma narração de sabor romanesco – ainda mais precisa, pelo menos com relação a uma sociedade que ainda reconhece no capitalismo o melhor dos mundos possíveis.
E isso apesar de terem se acumulado, sempre mais ameaçadoramente, as aristofânicas nuvens de um império não geográfico, não político e nem econômico, mas sim dominado pela lógica do livre mercado, pela incontrolada e profícua circulação das mercadorias do capital, diante da controladíssima circulação das multidões migrantes como minas errantes.
A análise é de Pino Casamassima, publicada no jornal Il Manifesto, 04-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
À multidão "vergonhosa" produzida como escória por todo país europeu, acrescentou-se a dos "sans-papiers" [sem documenos] e "sans-droits" [sem direitos]: uma humanidade que – nas palavras de Forrester – "é preciso, para 'merecer' viver, que se demonstre 'útil' à sociedade, ou pelo menos àquela parte que a governa e domina".
Novas histórias de uma História – a do Ocidente capitalista – cujo passado testemunha sobre migrações ao contrário: melhor dizendo, atos predatórios cometidos em dano daqueles povos aos quais agora ele nega a acolhida. Esse Norte/Ocidente que interpreta excentricamente o conceito de reciprocidade foi dolosamente alimentado por políticos sem escrúpulos, desenvolvendo no fim a ideia – promovida de liberal a liberticida – que não se pode viver impunemente, mas é preciso "merecer" viver.
Além das muitas vidas de rejeitos produzidos pelo descarte "do melhor" em cada país ocidental, existem as vidas da maior parte dos migrantes, desesperados enquanto não funcionais ao sistema capitalista. Não se pense – havia advertido Viviane Forrester em seu tempo – que a multidão dos miseráveis seja numerosa só "além da cortina capitalista", entre os não-ocidentais, os não-pertencentes ao mencionado melhor dos mundos possíveis: porque a contagem iniciou há muito tempo para a "quantidade sempre crescente de seres humanos já não necessária ao pequeno número que, moldando a economia, detém o poder".
Porque, para um indivíduo negro ou branco, católico ou muçulmano, ou protestante ou judeu "sem função, não há lugar, nenhuma possibilidade de acesso evidente à vida, ou pelo menos à sua continuidade". Massas de "excluídos" não por causa da sua confissão, mas por causa da sua "inutilidade", em um sistema cujo fundamento se cimentou sobre os imperativos das finanças.
Os homens (muitos) servem sempre menos aos mesmos (poucos), ainda mais garantidos nos seus privilégios pelo desaparecimento dos partidos operários (diligentemente anulados no altar de uma modernidade que não reconhece mais a classe) e dos sindicatos (aterrorizados pelo seu anunciado desaparecimento e, consequentemente, muito comprometidos para garantir as garantias do trabalho por tempo indeterminado).
Para que criar postos de trabalho – pergunta-se coerentemente o neocapitalismo bolsístico – quando, ao invés, cortando o pessoal (e descarregando sobre a coletividade a amortização social dos "emagrecidos"), os lucros aumentam? Não é talvez verdade que o anúncio de demissões em massa faz com que os títulos acionários aumentem? Eis o horror econômico, o resultado de um sistema que desenvolveu uma economia capaz de produzir riqueza diminuindo os postos de trabalho.
Agora, a multidão é composta por trabalhadores em busca de um trabalho que não irão encontrar: "Para obter uma certa adequação dos salários – lia-se em um relatório da OCDEOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 1994 –, será necessário um nível mais alto do desemprego". As calçadas sempre mais cheias de novos "excluídos" são uma das tantas imagens de representação da derrota de um sistema que acredita ter vencido. (
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