Autor:
Luis Nassif
Coluna Econômica
A lógica da alta do dólar é a seguinte.
Com a crise financeira, o FED (Banco Central norte-americano)
inaugurou uma era de ampla liquidez, injetando dólares a rodo na
economia. Nos EUA, o excesso de dólares provocou uma queda nas taxas de
juros de curto prazo. Com a economia norte-americana estagnada, os
dólares ficaram empoçados nos bancos. E os investidores foram atrás de
outras oportunidades de ganhos, vindo aportar em economias emergentes.
Esse movimento acabou realimentando os circuitos especulativos e
promovendo a apreciação das moedas nacionais – especialmente do real.
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A falta de coragem de enfrentar essa apreciação, o medo de uma
desvalorização do real pressionar mais a inflação, fez com que a
política monetária fosse condescendente com o câmbio, mantendo a herança
maldita de apreciação que vem desde o governo Fernando Henrique
Cardoso.
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Houve dois efeitos maléficos, um consequência do outro.
O primeiro, foi o estrangulamento das contas externas, com a perda do
dinamismo das exportações e o aumento violento das importações,
especialmente de produtos chineses.
O segundo foi a perda de dinamismo da economia. Os grandes ganhos da
ampliação do mercado interno acabaram sendo apropriados pelos
importados.
O Banco Central elevou as cotações do dólar de suicidas R$ 1,70 para
R$ 2,00, mas foi insuficiente. A indústria não conseguiu se aproveitar
do aumento do consumo interno e o ciclo de crescimento foi quebrado.
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Nesse período, o nó das contas externas foi driblado por dois
movimentos – que agora se esgotam. Um deles, a manutenção das cotações
de commodities em níveis elevados, garantindo os dólares via exportação
de produtos primários. O segundo, a manutenção das taxas de juros dos
EUA em níveis historicamente baixos, garantindo o financiamento das
contas externas brasileiras via conta de capitais.
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Agora, chega-se ao fim dos dois ciclos. As cotações de commodities
começaram a cair, em função do desaquecimento relativo da economia
chinesa. E é questão de tempo para o FED tirar os estímulos monetários, o
excesso de dólares em circulação.
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A leitura do mercado, então, foi mecânica.
Sempre que ocorre uma mudança nas condições internacionais de juros,
há o chamado “overshooting” – ou seja, um movimento de desvalorização
cambial mais do que proporcional.
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Trata-se da repetição de outras crises enfrentadas pelo país desde os tempos de FHC.
A desvalorização do real promove, per si, o reequilíbrio das contas
externas. Há um efeito instantâneo sobre gastos com viagem, um efeito a
curto prazo de redução das importações e de médio prazo de recuperação
das exportações. Por outro lado, o BC promove uma estilingada nos
juros..Menos risco cambial de um lado, mais remuneração de outro, traz
de volta os dólares, para especular e promover nova apreciação do real.
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Há dois pontos a se considerar para não repetir a escrita.
O primeiro, é que o FED estuda maneiras de promover o enxugamento dos
dólares sem influenciar em demasia as taxas de juros de curto prazo.
A segunda, é saber se, desta vez, o governo Dilma aproveitará esse
movimento para manter, vez por todas, o câmbio em uma posição
competitiva ou pensará nas eleições de 2014.
Entendo a situação do dólar. Não consigo entender a do euro e da libra, já que esse mesmo processo não ocorreu na Europa e na Inglaterra, mas o real se desvaloriza frente a essas moedas do mesmo jeito. Algo a ser melhor explicado.
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