aijesus.blogspot - 19 ago 2013
Na Revista do Expresso de 17 deste mês, um texto de Clara
Ferreira Alves fez-me consciencializar de que também sou banqueiro. O
que ela escreve referindo-se a ela aplica-se a mim, também. Transcrevo,
sem assinalar cortes e mudando para o masculino o que no original é
feminino por respeitar à autora:
Todos os dias sou dono de mais um banco. Todos os dias. Fiquei com o BPN e parece que com um banco em Cabo Verde que tem o bonito nome de Insular, Banco Insular de Cabo Verde, fiquei com o Banif, que anuncia nas Amoreiras, na parede lateral de um prédio, com um imenso cartaz desbotado pelos ventos, um amoroso cartão de crédito Hello Kitty, um sinal de maturidade financeira, e agora vou ficar com o BPP. No problemo, como dizem os mexicanos emigrados e os gangsters, o Estado injeta mais uns milhões de euros, aí uns 400 e tal, quase 500, mais milhão menos milhão, e ainda fica em casa porque o banco tem "disponibilidades". Lendo por alto fiquei com a impressão de que também passei a ser dono de um banco nas ilhas Cayman, o BPP Cayman, e se já adorava a ideia de um banco cabo-verdiano, Cabo Verde tem umas praias lindas, a ideia de um banco nas ilhas Cayman adoro, positivamente adoro. As ilhas Cayman são o máximo. Digo Cayman porque dizer ilhas Caimão tira-lhes um certo chique.
Os portugueses pagam sempre as suas contas, portanto a dívida pública é um garante, há money, há cheta. Há cheta para tudo o que tenha banco no nome. Claro que é um bocado seca sacar dinheiro a reformados com pensões superiores a 600 euros (600? para cima de uma fortuna), mas aquele dinheiro é certo, pode contar-se com ele, e isso é muito bom, chama-se ajustamento. Depois, se todos temos de pagar impostos, a verdade é que somos todos também donos destes bancos exóticos e dos outros bancos que compram dívida pública e a revendem com lucro e que têm depósitos do BPP nos cofres. É tudo meu, nosso. Além de eleitores passámos a banqueiros, caramba, se isto não é uma promoção...
Podem vir dizer que votamos sempre nos mesmos, os que só têm dois neurónios funcionais e compram swaps em nosso nome a tipos que depois de venderem swaps e enganarem o Estado vão para um poleiro no Estado, mas essa é a beleza da democracia. Não são os swaps deles, são os nossos swaps, é tudo nosso. É sacrifício repartido. Por isso venha o BPP, e venham outros, venha a Caixa, venham os que quiserem, nós pagamos, nós podemos pagar. Podemos pagar tudo, os bancos falidos e os políticos falhados e reformados, porque temos eleições para o mês que vem, depois outras, as legislativas, e mais as presidenciais, tudo com amigos nossos a concorrer, e podemos ainda ter as europeias. Querem mais? Vão mas é para as ilhas Caimão, a verificar os débitos.
Aproveitando para falar em bancos e usando uma expressão bem popular: existe coisa mais cara de pau do que os bancos?
Foi realizada uma reestruturação no setor. Reduziram-se empregos e instalaram-se máquinas no lugar do homem. Reduziu-se assim os custos com salários. O cliente passou a executar grande parte das atividades que antes eram executadas pelos "caixas" nos caixas eletrônicos. Mas, os bancos nos cobram por esse serviço. ???? Não sou expert em lógica, mas me parece algo que carece totalmente de lógica ou justificativa.
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